O Dia Internacional de Combate ao Câncer Infantil é celebrado nesta terça-feira (15) com o objetivo de conscientizar a população em relação aos tumores que podem atingir crianças e adolescentes. De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), a expectativa é de 8.460 novos casos da doença por ano em crianças e adolescentes abaixo de 19 anos, entre 2020 e 2022.
Dados apontam que aproximadamente 4 mil crianças morrem no Brasil sem tratamento ou sem que a doença seja diagnosticada. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de casos de câncer infanto-juvenil deve chegar a 600 mil em todo o mundo em 2030.
O câncer é a principal causa de morte entre crianças e adolescentes entre 1 e 19 anos no Brasil, segundo o Inca.
Um fator importante na luta contra o câncer infantil é o diagnóstico precoce. Para isso, é fundamental os pais, desde os primeiros meses de vida da criança, levá-la ao pediatra, profissional que conhece de perto os pequenos e pode detectar rapidamente sinais diferentes no corpo que precisam ser investigados mais detalhadamente.
“O pediatra pode detectar qualquer anormalidade e, aí sim, encaminhar a criança a um centro especializado com médicos especialistas em oncologia pediátrica. Os centros especializados tem toda a abordagem adequada para o diagnóstico, já que o tratamento inicia no momento do diagnóstico preciso e adequado, com todos os exames necessários. Depois vem o momento de saber até onde esse tumor está acometendo, se tem comprometimento em outras partes do corpo e depois definir a estratégia do tratamento”, pontua a médica Vitória Pinheiro, hematologista infantil da unidade geral do Vera Cruz Hospital, em Campinas.
“Normalmente os tumores em crianças tem uma velocidade de crescimento muito rápida e isso pode ser detectado rapidamente depois da criança apresentar um sinal, queixar-se de algo ou também na realização de algum exame”, completa.
Os tumores em crianças têm uma faixa etária mais comum de aparecer. No recém-nascido é raro, mas acontece. Apesar de ser raro, é fundamental que a criança seja levada com frequência ao pediatra para ela ser observada de perto e evitar ao máximo a demora na percepção de uma anormalidade que possa estar surgindo.
“A faixa etária que tem o pico de aparecimento de neoplasias na infância é de quatro a seis anos e depois entre 15 anos ou 16 anos. Na criança, o tumor mais comum são as leucemias agudas, em seguida vem os tumores do sistema nervoso central e os linfomas. Nas crianças pequenas também podem aparecer os tumores renais e na adolescência é possível o surgimento de tumores ósseos. Mas os mais comuns ainda são as leucemias agudas”, pontua a especialista.
Segundo o Inca, o câncer infantil pode apresentar alguns sinais e sintomas como:
- Palidez, hematomas ou sangramento, dor óssea.
- Caroços ou inchaços – especialmente se indolores e sem febre ou outros sinais de infecção.
- Perda de peso inexplicada ou febre, tosse persistente ou falta de ar, sudorese noturna.
- Alterações oculares – pupila branca, estrabismo de início recente, perda visual, hematomas ou inchaço ao redor dos olhos.
- Inchaço abdominal.
- Dores de cabeça, especialmente se incomum, persistente ou grave, vômitos (em especial pela manhã ou com piora ao longo dos dias).
- Dor em membro ou dor óssea, inchaço sem trauma ou sinais de infecção.
- Fadiga, letargia, ou mudanças no comportamento, como isolamento.
- Tontura, perda de equilíbrio ou coordenação.
Retinoblastoma, tumor intraocular
No dia 29 de janeiro deste ano, o casal Tiago Leifert e Daiana Garbin anunciou que a filha Lua, de um ano e três meses, está com um câncer raro nos olhos, chamado retinoblastoma. um tumor que atinge principalmente crianças e se origina dentro do olho, na retina, que é uma camada importante do globo ocular.
“O retinoblastoma é um tumor intraocular que tem uma particularidade que é a difícil detecção. Quando a criança tem a foto do primeiro ano de vida, ou mesmo antes, que aparece uma mancha no olho, aquela mancha é um sinal luminoso e isso é sugestivo de um tumor intraocular. O retinoblastoma é o tumor intraocular mais comum, mas mesmo assim é raro e pouco frequente”, explica a médica Vitória Pinheiro.
Se você está se perguntado por que o retinoblastoma ou câncer no olho da Lua não foi diagnosticado logo no início, saiba que esta é uma doença traiçoeira. Dados do Ministério da Saúde mostram que somente 50% das crianças passam pelo teste do olhinho indicado para detectar as doenças que mais causam a perda da visão na infância: câncer, catarata e o glaucoma congênito.
A falta de acesso ao exame por todos os recém-nascidos é um dos fatores que explica a maior incidência de retinoblastoma nos países menos desenvolvidos apontada por um estudo global, recentemente publicado na revista científica The Lancet.
Segundo o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, do Instituto Penido Burnier, no Brasil, logo após o nascimento, as maternidades realizam o teste do olhinho nos recém-nascidos com um oftalmoscópio, equipamento que emite uma fonte de luz no olho do bebê. Quando a pupila responde com um reflexo vermelho contínuo, indica saúde. Se o reflexo for descontínuo ou esbranquiçado, sinaliza doença.
O especialista ressalta que a maioria dos pais só leva a criança ao oftalmologista quando atinge a idade escolar. O problema é que o retinoblastoma, catarata e o glaucoma congênitos podem ficar adormecidos no olho e se desenvolver nos primeiros anos de vida, quando não são descobertos no nascimento do bebê.
Por isso, a recomendação do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), do qual o especialista faz parte, é que o teste do olhinho seja repetido três vezes ao ano até os três anos de idade. Neste período, o médico ressalta que é necessário passar pelo primeiro exame oftalmológico completo quando atinge o primeiro ano de vida, ou se surgir alguma alteração no teste do olhinho.
Queiroz Neto lembra que poucas crianças seguem este protocolo. “Já operei um menino com catarata congênita, doença responsável por 40% da perda de visão na primeira infância, que tinha passado pelo teste do olhinho na maternidade, mas ficou anos sem um único exame nos olhos. Isso é mais frequente do se possa imaginar. Pode acontecer também com o retinoblastoma, que nem sempre surge logo após o nascimento. A maioria dos diagnósticos de câncer no olho ocorre até 18 meses”, pontua o médico.
“O retinoblastoma resulta de uma alteração genética nas células da retina, que se reproduzem descontroladamente, mas só 10% têm um caso na família. Repetir a cada três meses o teste do olhinho até os 3 anos e submeter a criança a uma consulta oftalmológica completa no primeiro ano de vida, faz a chance de cura chegar a 90% e preserva a vida da maioria das crianças”, ressalta.
O diagnóstico tardio pode cegar e até levar à morte por uma metástase do câncer no cérebro.
Queiroz Neto afirma que o principal sintoma do retinoblastoma é a leucocoria, também conhecida como olho de gato, um reflexo branco na pupila. A alteração é percebida sob luz artificial e em fotos tiradas com flash. Nas duas situações os olhos saudáveis emitem um reflexo vermelho como acontece no teste do olhinho. Outros sintomas do retinoblastoma são estrabismo (olho torto), glaucoma, vermelhidão e baixa visão.
O oftalmologista afirma que o tratamento geralmente requer uma equipe multidisciplinar e pode ser feito por diferentes técnicas. Uma delas é a terapia focal via destruição térmica, congelamento, laser e/ou braquiterapia. Outra é com quimioterapia sistêmica, intravítrea ou intra-arterial. Nos casos muito avançados, a enucleação é recomendada, cirurgia que retira o globo ocular para preservar a vida do bebê.
“Atualmente, uma das técnicas mais utilizadas é a quimioterapia intra-arterial, que consiste em injetar na artéria da retina o medicamento, diminuindo, desta forma, os efeitos colaterais sistêmicos que podem ter reflexos na saúde por toda vida. Em 70% dos casos, salva a vida e a visão”, finaliza o especialista.
Referência no tratamento contra o câncer infantil
Referência em medicina, o Centro Infantil Boldrini oferece, em Campinas, alta tecnologia em diagnóstico e infraestrutura completa de atendimento. Diferentes linhas de pesquisa permeiam seu cotidiano, estimulando novas descobertas na oncologia e na hematologia pediátrica. Assistência, ensino e pesquisa em oncologia e hematologia pediátrica, dentro de um contexto de atendimento humanizado e multiprofissional, com equipamentos modernos e de alta capacitação profissional.
O Centro cuida de crianças, adolescentes e adultos jovens portadores de doenças sanguíneas ou de câncer, através de atendimento médico e multiprofissional. A entidade oferece 77 leitos, Unidade de Terapia Intensiva (UTI), Unidade de Transplante de Medula Óssea e centro cirúrgico.
O Boldrini é o único hospital do Brasil a realizar o mapeamento da retina em todas as crianças para o diagnóstico precoce do retinoblastoma, por meio da promulgação da Lei Municipal que garante a universalidade do exame para todos os bebês nascidos na região de Campinas.
Aproximadamente 80% dos cuidados com os pacientes são realizados em nível ambulatorial, incluindo as sessões de quimioterapia e de transfusão sanguínea.
O Boldrini oferece 40 consultórios para diferentes especialidades médicas, laboratório de patologia clínica, laboratório de genética e biologia molecular, serviço de anatomia patológica, modernos equipamentos de diagnóstico por imagem, recursos de ponta em radioterapia, odontologia, psicologia, nutrição, fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, serviço social e condicionamento físico.