Maior ídolo e artilheiro da Ponte Preta, com 155 gols, o ex-meia campineiro Dicá, de 75 anos, é um dos poucos privilegiados que podem dizer que dividiram vestiário e gramado com o Rei Pelé, melhor jogador de futebol da história e ídolo máximo do esporte brasileiro.
Oscar Sales Bueno Filho, o Mestre Dicá, tinha acabado de completar 24 anos quando deixou a Ponte Preta, clube onde surgiu e se destacou, para realizar o sonho de atuar ao lado de Pelé no Santos.
A histórica parceria aconteceu em 1971 e durou apenas seis meses, mas gerou uma preciosa amizade e rendeu inesquecíveis memórias do convívio dentro e fora de campo com o Rei do Futebol. Aos 82 anos, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, morreu no último dia 29 de dezembro (quinta-feira).
Estreia de Dicá no México, palco da consagração mundial do Rei Pelé
A curta porém marcante passagem de Dicá pelo Santos começou em julho de 1971, pouco após o término do Campeonato Paulista. Logo que chegou ao Peixe, o então jovem meia de 24 anos realizou a sua primeira viagem internacional ao integrar uma excursão da equipe pela América do Norte.
A estreia de Dicá com a camisa do Santos ocorreu no dia 24 de julho de 1971, no empate em 1 a 1 com o Monterrey, no Estádio Universitário “El Volcán”, na cidade de San Nicolás de los Garza, no estado de Nuevo León, no México.
Aquele jogo, que consistia em um amistoso beneficente, em prol de um hospital para crianças carentes, também marcou o retorno de Pelé ao país onde, um ano antes, havia se sagrado tricampeão mundial com a Seleção Brasileira, tornando-se o primeiro e único até hoje a conquistar esse feito.
Na Copa do Mundo de 1970, sediada no México, Pelé marcou três gols, sendo o mais importante deles na grande decisão, que terminou com goleada brasileira por 4 a 1 sobre a Itália, no dia 21 de junho de 1970, no Estádio Azteca, na Cidade do México. Na ocasião, no auge de seus 29 anos, Pelé abriu o placar, de cabeça, e depois ainda deu duas assistências, uma para Jairzinho, que marcou o terceiro gol, e a outra para Carlos Alberto Silva, que fechou o caixão italiano em um lance que entrou para a história do futebol.
Um ano depois, de volta ao México, desta vez com a camisa do Santos, o Rei do Futebol causou furor no estádio que viria a sediar partidas da Copa do Mundo de 1986. “Pelé, cuja presença fez lotar o Estádio Universitário, esteve atuante desde o início e no primeiro minuto de jogo quase marca para o Santos, ao completar de cabeça um passe de Edu”, reportou o jornal Folha de S. Paulo, em sua edição de 26 de julho de 1971.
“O primeiro gol foi feito pelos mexicanos, aos 43 minutos, quando em um de seus contra-ataques Olangue chutou de surpresa, de uma distância de 20 metros. A pelota foi ao canto esquerdo e Agustín Cejas apenas pôde roçá-la com a mão”, relatou com precisão a reportagem.
“O Santos empatou aos 15 minutos do segundo tempo, quando Pelé deu um passe a Edu, que enveredou pelo centro e, de 15 metros, chutou violentamente no canto esquerdo do arco de Quintero”, detalhou a Folha.
“Pelé esteve o tempo todo muito marcado por seu compatriota Guaracy Barbosa, que joga na zaga central do Monterrey, e que foi o melhor homem em campo […] O jogador brasileiro foi talvez o principal fator que impediu Pelé de golear o time do Monterrey”, apontou o jornal.
Jogando pela primeira vez como companheiro do ídolo Pelé, e não mais como adversário quando defendia a Ponte Preta, Dicá atuou como titular do Santos no amistoso diante do Monterrey, mas não participou de nenhum lance digno de registro e deixou o campo no segundo tempo, dando lugar ao meia Fito.
Após o término da excursão pela América do Norte, que também passou por Estados Unidos e Canadá, com a disputa de outros amistosos contra equipes locais, europeias e até mesmo sul-americanas, Dicá defendeu o Santos durante todo o Campeonato Brasileiro de 1971, com direito a três gols em 21 partidas, sendo 17 delas entrando em campo ao lado do Rei Pelé. O Peixe não chegou à fase decisiva e o Atlético-MG se sagrou campeão nacional.
Confira abaixo vídeos com alguns gols de Dicá pelo Santos, em 1971:
Ao fim daquela temporada de 1971, Dicá deu adeus ao Santos e retornou à Ponte Preta, voltando à condição de rival de Pelé. Ainda em 1972, Dicá se transferiu para a Portuguesa de Desportos, onde também travou novos embates com o grande craque santista, que deixou o futebol brasileiro em 1974 e se aposentou em 1977, nos Estados Unidos.
De volta ao Majestoso, em 1976, Dicá integrou o histórico esquadrão pontepretano vice-campeão paulista em 1977, que bateria na trave novamente em 1979 e 1981.
Em 1986, Dicá pendurou as chuteiras na Ponte Preta, mesmo clube onde começou a carreira, em 1966. Até hoje, ele é o recordista de jogos e gols da Macaca, com 155 gols em 581 jogos, e também do estádio Moisés Lucarelli, onde marcou 82 vezes em 248 partidas.
Confira abaixo a ficha técnica da partida amistosa entre Santos e Monterrey, em julho de 1971, que marcou a estreia de Dicá com a camisa do Peixe e o retorno de Pelé ao México um ano após a conquista do tricampeonato mundial na Copa de 1970:
Santos (1): Cejas; Orlando, Ramos Delgado, Marçal e Turcão; Léo e Dicá (Fito); Jader, Mazinho, Pelé e Edu. Técnico: Mauro Ramos de Oliveira.
Monterrey (1): Quintero; Garcia (Cano), Guaracy, Musante e Alvarez; Riguez (Guerra) e Olangue; Ubirajara, Escanilla (Cruz), A. Jimenez e Sanchez. Técnico: não divulgado.
Data: 24/07/1971 (sábado).
Local: Estádio Universitário “El Volcán”, San Nicolás de los Garza, Nuevo León (México).