Muitas pessoas podem imaginar que as carreiras de atleta e artista caminham para lados opostos, mas não foi isso que aconteceu na vida de Helena Pinotti, de 30 anos. Nascida em Campinas, ela teve o sonho, ainda na infância, de se tornar jogadora de futebol e atuou pelo Guarani por quase 10 anos. Diante das dificuldades para meninas que sonham em se profissionalizar e seguir na modalidade no Brasil, Helena conseguiu uma bolsa de estudos nos Estados Unidos e a partir daí conheceu o teatro, paixão à primeira vista.
“Eu comecei a praticar futebol quando tinha entre sete e oito anos, na época em que o meu irmão já jogava na escolinha do Guarani. Eu queria muito jogar, lembro que era a única menina do meu grupo e depois surgiram mais duas ou três. Quando eu tinha uns dez anos, o Fernando Pereira, na época técnico do time feminino do Guarani, me convidou para representar a equipe”, relembra Helena.
“Foi assim que eu comecei no futebol feminino, com dez anos. Fiquei até os 18 anos (entre futebol e futsal), disputando vários campeonatos que tinham na época. Disputei Paulista, Metropolitano, Jogos Abertos, Jogos Regionais, Jogos da Juventude e também a Taça Brasil, que fomos campeãs em Santa Catarina”, completa a campineira.
Fã de futebol, Helena sabia das dificuldades que existiam no Brasil para se tornar uma atleta profissional no início deste século, algo que melhorou nos últimos anos, mas está longe das condições ideais. Diante desse cenário, a jovem, que na época tinha acabado de atingir a maioridade, recebeu conselhos para seguir firme nos estudos e a partir disso sua vida mudou.
“Fiquei dos 10 aos 18 anos no Guarani. O clube tinha muitos contatos com meninas que passaram ali, estudavam fora do Brasil e conseguiram bolsa de estudos nos Estados Unidos. Foi aí que eu vi uma oportunidade de estudo mesmo. Naquela época, não tinham campeonatos profissionais para futebol feminino no Brasil, não tinha salário, não tinha estrutura nenhuma nem para as meninas que eram da seleção. O Fernando (treinador da equipe) sempre nos aconselhava a escolher os estudos e foi o que eu fiz”, destaca a campineira.
Helena, que conhecia algumas pessoas que a ajudaram no processo, prestou prova, conseguiu bolsa de estudos nos Estados Unidos e ficou quatro anos na Shorter University, no estado da Geórgia. Por lá, decidiu que queria fazer aulas de teatro, no início por curiosidade, mas rapidamente se apaixonou pela área.
“Gostei muito das aulas de teatro desde o início, pois era algo muito lúdico. Fiquei tão encantada que nem parecia trabalho para mim, era uma diversão, e realmente tomei a decisão de trabalhar com isso”, explica a atriz.
Helena formou-se em Administração e logo em seguida retornou ao Brasil para fazer novos cursos. De volta a Campinas, não deixou de lado o teatro e iniciou oficialmente a carreira de atriz, participando de peças como “Boca de Ouro”, de Nelson Rodrigues, na escola Téspis. Além disso, teve outras atuações em peças como “Romeu e Julieta” e em uma produção de Commedia Dell’Arte, em São Paulo.
Do teatro para a televisão
Realizada trabalhando com teatro nos últimos anos, Helena Pinotti recebeu a oportunidade de participar de uma telenovela. No início, a campineira não sabia o nome, nem mesmo a emissora em que a produção seria exibida. Apenas enviou material de trabalhos que havia realizado no teatro e foi convidada para as gravações. Chegando lá, descobriu que iria participar da novela Além da Ilusão, da autora Alessandra Poggi, que vai ao ar às 18h, de segunda-feira a sábado, na TV Globo.
“O convite veio através de indicações. Conheço algumas pessoas aqui de Campinas que são do teatro, fazem alguns trabalhos de figuração e comentaram que teria gravação de uma novela, mas à princípio não falaram qual era. Cheguei lá sem saber qual era a gravação e para qual emissora era. Apenas mandei material meu, eles gostaram e me chamaram”, conta a atriz campineira.
“Chegando lá, eles comentaram que era produção da Globo e já no camarim estavam todos os atores, como o Rafael Vitti, João Vitti e Larissa Manoela. Todo mundo estava ali, não estava esperando aquilo e foi uma surpresa muito boa”, valoriza.
Helena Pinotti participou de dois capítulos no início da produção, quando um acidente de trem proporciona uma reviravolta na vida do personagem Davi, interpretado por Rafael Vitti. Na novela, ocorre uma transição de tempo e ele muda de identidade. Os capítulos que a campineira participou foram ao ar em dois dias seguidos, primeiro em 23 e depois em 24 de fevereiro – por coincidência, a data do seu aniversário.
“Foi uma surpresa total o capítulo ser exibido no dia do meu aniversário. A gente não tem noção de quando vão ao ar as cenas. Na época das gravações, não sabíamos nem quando estreava a novela. Eu sabia que o acidente seria no começo por conta da reviravolta do personagem, mas não sabia qual fase eu apareceria. Teve uma transição de tempo na novela e foi uma surpresa cair no meu aniversário, dia 24 de fevereiro”, enaltece a atriz, que por enquanto não sabe se participará de mais capítulos nessa produção, mas deve gravar em breve algumas séries da Record TV.
Teatro, televisão e… cinema
Além da experiência no teatro e recentemente na televisão, Helena também já trabalhou com cinema, participando de alguns curtas-metragens, mas a campineira valoriza a liberdade de criação do teatro, pois tanto no cinema quanto na televisão, de acordo com ela, o diretor é quem tem mais controle do que vai acontecer na produção:
“Eu gosto muito de teatro, digo que é uma ferramenta que o ator tem para lapidar a sua arte, a sua profissão. O cinema e a televisão são mais artes do diretor, de quem está dirigindo as cenas e consegue captar mais o visual. No teatro, você tem essa possibilidade de criação muito maior”, ressalta.
“A experiência na novela me fez ver que não é tão simples fazer televisão. O pessoal do teatro às vezes tem um pouco de preconceito com quem faz TV, mas eu perdi esse preconceito ao ver que também é difícil. É comparável ao futebol, como se você jogasse futebol no campo e no salão. Apesar das semelhanças, são completamente diferentes”, finaliza a atriz, que está fazendo uma peça com a Companhia de Teatro de São Paulo, que também é um modelo de teatro virtual e conta com técnicas do audiovisual.