Empatia é uma capacidade que temos – e parece-me que não somente os humanos – de se identificar com um outro ser, de sentir o que ele sente. Essa aptidão é muito poderosa, pois é capaz de nos causar uma revolução interna, mudar nossos hábitos e pensamentos para sempre depois de vivenciar alguma experiência empática.
Se você já viu um animal morrer, uma árvore cair, uma vida se esvair, sabe muito bem do que estou falando.
Empatia, portanto, não é cognitiva, é visceral. A dor do outro nos humaniza, entra dentro de nós.
Quando sentimos a pobreza de perto, mesmo sem passar fome, não há como não nos compadecermos; é o sofrimento do outro dentro de nós mesmos, algo que transcende qualquer entendimento.
Mas a forma em que vivemos cada vez mais nos distancia desses momentos que podem nos enriquecer como humanos. Nós consumimos o que não produzimos diretamente, e assim não temos sequer ideia de quão destrutiva e violenta é uma produção.
Toda produção é uma destruição, vejamos ou não. Se víssemos, por exemplo, os animais dos quais comemos os alimentamos sendo criados e mortos, talvez nunca mais comeríamos carne.
Ao mesmo tempo, não fazemos a menor ideia de para onde vai tudo o que descartamos em nossas privadas e lixos: é como se aquilo não nos pertencesse, mas certamente vai poluir os rios, os lençóis freáticos, o solo. Enfim, todo nosso descarte é também destrutivo.
Não sabemos o mal que fazemos, mas o realizamos constantemente, diariamente. E a cada dia, estamos nos distanciando de nossa fonte e origem, com as crianças cada vez mais alienadas do contato com a natureza.
Isso sem citar o choro de uma pessoa quando lhe fazemos mal. Como apenas transmitimos mensagens digitadas, parece que o sentimento alheio não tem mais valor.
Gustavo Gumiero é Doutor em Sociologia (Unicamp) e Especialista em Antigo Testamento – gustavogumiero.com.br – @gustavogumiero