A Responsabilidade Social praticada pelas empresas tem cada vez mais peso na nossa sociedade, em especial, neste momento pós-pandemia, onde muitas pessoas estão sem emprego, com renda achatada e, muitas vezes, sem acesso ao mínimo necessário para sobreviver com dignidade. Nesse cenário, empresas cidadãs conseguem ajudar a mudar a realidade onde atuam.
Dados da Prefeitura de Campinas do ano passado, mostram que durante a pandemia cresceu 16,9% as famílias em extrema pobreza no município. Esse estrato social inclui grupos familiares que vivem com inimaginável renda mensal de até R$ 89,01 por pessoa. Em dezembro de 2020, eram 38.279 grupos. Em junho último, alcançaram 44.774 núcleos.
A insegurança alimentar, por exemplo, não é novidade em Campinas. Regiões Sul, Sudoeste e Noroeste da cidade mantêm, há décadas, bolsões de pobreza e núcleos populacionais com carência evidente.
De acordo com estudo do Observatório PUC-Campinas, cerca de 40% das crianças e jovens da Região Metropolitana de Campinas (RMC) na faixa etária dos 5 aos 15 anos vivem em situação de vulnerabilidade social.
Empresas que investem em Responsabilidade Social, com programas próprios e/ou em parcerias com organizações da sociedade civil, podem ajudar a minimizar quadros como esses.
Compromisso com o desenvolvimento da comunidade
O conceito de Responsabilidade Social envolve práticas que beneficiam a sociedade. Essas ações podem ser internas, como oferecer cursos para colaboradores e familiares, alimentação saudável nos refeitórios, entre outros. Ou externas, como plantio de árvores, distribuir alimentos em locais carentes, oferecer formação para crianças e adolescentes, dentre outras iniciativas.
A Responsabilidade Social pode ser dividida em Empresarial, que está mais ligada a um modelo de gestão transparente e ética do negócio, ou ainda em Corporativa, que está mais relacionada com a sociedade como um todo. Neste segundo caso, a empresa precisa ter um compromisso ético não apenas com o seu crescimento, mas também com o desenvolvimento da comunidade onde está inserida, melhorando a qualidade de vida de todos.
O advogado André Barabino, sócio na área de Arbitragem e de Contencioso de TozziniFreire Advogados em Campinas, afirma que é importante que as empresas implantem políticas internas para a promoção de ações em prol da participação consciente do indivíduo na sociedade, adotando iniciativas cada vez mais inclusivas.
“Sabemos que pequenos movimentos podem gerar grandes impactos. Por isso, a empresa deve praticar a inclusão pelo senso de coletividade, estimulando o engajamento de funcionários em ações que gerem valor para os membros das comunidades nas quais está presente”, diz Barabino.
Segundo o especialista, atuar junto às instituições do Terceiro Setor é parte do papel social das empresas e de seu compromisso por um país melhor. “O agravamento da pandemia exigiu um engajamento social ainda maior das empresas para auxiliar as entidades e comunidades em risco, pois evidenciou a desigualdade no país e expôs ainda mais a vulnerabilidade social de parte da população. A soma de esforços permitiu que muitas instituições e comunidades passassem por este período pandêmico”, avalia.
Ele afirma que para as empresas socialmente responsáveis há uma série de benefícios como maior engajamento dentro do ambiente de trabalho, com colaboradores mais comprometidos com o negócio; melhora da reputação da marca e maior atração de investidores e parceiros; aumento da capacidade para atrair talentos, entre outros.
Empresas têm diversas formas de colaborar com a sociedade
Para Marcela Reis, coordenadora social da Central Única das Favelas (Cufa) Campinas, o debate sobre responsabilidade social das empresas é muito importante.
“Observamos que as doações caíram bastante nos últimos meses pós-pandemia e precisamos despertar as empresas para esta questão. Há empresas que podem ajudar a população, inclusive nas comunidades onde estão inseridas”, avalia a ativista.
Um exemplo foi o Dia Divertido promovido pela Cufa Campinas no último 12 de outubro em comemoração ao Dia das Crianças. A festa aconteceu na Comunidade Buraco do Sapo, Favela São José, em Campinas. Entre as atividades estiveram contação de histórias, brincadeiras, pintura de rosto, oficina de trança, música, além da entrega de brinquedos e doces. Tudo para tornar mais feliz o dia da criançada residente na comunidade.
Conforme Marcela, para o evento acontecer foi essencial a participação da QOPP Incorporadora.
“Nosso maior objetivo em participar dessa ação junto com a Cufa é deixar mais colorido o dia das crianças da Comunidade Buraco do Sapo em Campinas, que já enfrentam muitas dificuldades mesmo pequenas”, explica Juliana Cristina Magrin, Analista de Recursos Humanos da empresa.
Este foi o segundo ano de parceria da Cufa com a empresa campineira.
“Acreditamos que iniciativas como essa estimulam e influenciam positivamente outras empresas, nossos colaboradores, parceiros e fornecedores e também incentiva nossos clientes a se movimentarem. Juntos podemos muito mais”, avalia a profissional de RH.
O advogado Erlan Valverde, sócio na área de Tributário, de TozziniFreire Advogados, lembra que além do caráter social, existem vantagens tributárias para as empresas, ainda que tímidas, quando comparadas com outros países que incentivam a filantropia.
“De maneira geral, doações são dedutíveis para fins de apuração do imposto de renda e contribuição social, mas limitadas a 2% do lucro operacional da Pessoa Jurídica. Há incentivos específicos também para destinações a fundos de cuidado de idosos, crianças e adolescentes, que podem ser diretamente abatidas do imposto de renda devido, limitadas a 1% deste valor”, explica o advogado.
Valverde observa ainda que Atividades de caráter cultural e audiovisual estão sujeitas a leis específicas como a Lei Rouanet (que a admite o abatimento de contribuições até 4% do IR devido) e a Lei do Audiovisual, que permite até o limite de 3%.
Neste mês de outubro, o Senac Campinas sediou a exposição – Mães da Favela, inspirada no projeto com mesmo nome criado pela Cufa. Um ensaio fotográfico e o dia de beleza, organizados pelo Grupo de Voluntariado do Senac Campinas, com apoio dos alunos dos cursos técnicos das áreas de moda e fotografia, permitiram momentos de emoção às participantes, com valorização do empoderamento feminino, e o resgate da autoestima e da confiança das mulheres do projeto, representando milhares de mães do Brasil. A ação só foi possível com o envolvimento de muitos apoiadores e parceiros.