Espremidas entre os aumentos dos custos dos insumos e do financiamento da construção, e os valores que as famílias efetivamente podem pagar pela aquisição de imóveis, construtoras e incorporadoras têm sentido dificuldades em viabilizar novos empreendimentos. Somam-se a isso a dificuldade de acesso das empresas ao crédito, os juros ainda elevados e a expectativa de alguns compradores de imóveis de que valeria a pena aguardar uma queda maior dos juros.
Essa foi a percepção expressa por integrantes da Reunião de Conjuntura do SindusCon-SP, realizada na quarta-feira (8), por Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia da entidade, com a participação do presidente Yorki Estefan.
O diretor da Regional Campinas do SindusCon-SP, Marcio Benvenutti, informou durante o encontro que as unidades lançadas na região de Campinas no primeiro semestre de 2023 tiveram um aumento de 31,9%, quando comparado com o primeiro semestre de 2022. De 2.875 unidades foram para 3.793, nesse período. Em relação as unidades vendidas, ocorreu uma queda de 14,4%, nesse mesmo período analisado – caíram de 5.575 unidades (2022) para 4.770 (2023).
Benvenutti afirmou que a queda nas unidades vendidas, na comparação com o ano passado, “é reflexo dos juros altos, que prejudicam as vendas”. O diretor da Regional Campinas explicou que na região, as expectativas apontadas por alguns dos indicadores da Sondagem ainda são positivas, “como as vendas de materiais de construção, que permanecem nos mesmos patamares do ano passado”.
O vice-presidente do SindusCon-SP, Eduardo Zaidan, comentou que o custo de produção de um imóvel está cerca de 60% maior, comparado ao daquele anterior à pandemia. Estefan assinalou que a lucratividade cada vez mais reduzida tem sido a maior queixa da indústria imobiliária. Odair Senra, vice-presidente de Imobiliário, atribuiu o baixo volume de lançamentos à dificuldade de o empresário chegar a um preço de venda em função do aumento dos custos. Renato Genioli, vice-presidente Administrativo, observou que, embora o volume de vendas tenha se elevado, o VGV (Valor Geral de Vendas) tem diminuído.
Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas), mostrou em sua apresentação que, no terceiro trimestre, as vendas do comércio de materiais tiveram ligeira elevação, diferentemente da indústria desses insumos. Já as vendas de cimento seguiram em ligeira queda e está mais acentuada na produção do insumo.
Na construção, houve queda no saldo líquido no emprego no país, mais forte no segmento de edificações. Mas no ano, o acumulado até o final de setembro registrou aumento do emprego no setor de 7%, com destaque para a elevação das contratações nas obras de infraestrutura, informou Ana Castelo.
Já no Estado de São Paulo, prosseguiu a economista, o destaque no emprego no terceiro trimestre foi o segmento de edificações, que, entretanto, mostra ligeira queda no acumulado em 12 meses. Na cidade de São Paulo, o setor de edificações mostra o melhor desempenho neste quesito, seguido da infraestrutura.
No Interior de São Paulo, as vendas tiveram desempenhos positivos ou negativos, dependendo da região, enquanto os lançamentos caíram. A habitação econômica tem a perspectiva de ganhar participação mais significativa no mercado, segundo Ana Castelo.
Em relação às maiores dificuldades enfrentadas pelas construtoras no país, demanda insuficiente e escassez de mão de obra destacam-se no topo do ranking. Entre as construtoras, as menos pessimistas em relação à demanda prevista são as de instalações e de edificações residenciais. A construção ainda segue sendo o setor menos pessimista, na comparação com os demais setores da atividade econômica. As famílias com maior poder aquisitivo são as que se mostram mais otimistas, mostrou Ana Castelo.
O SindusCon-SP é a maior associação de empresas da indústria da construção na América Latina. Congrega construtoras associadas e representa as cerca de 50 mil empresas de construção residencial, industrial, comercial, obras de infraestrutura e habitação popular, localizadas no Estado de São Paulo.
A sede da entidade fica na capital paulista, com representações em nove regionais e uma delegacia nos principais municípios do Interior.
A construção paulista representa 27,6% da construção brasileira, que por sua vez equivale a 4% do PIB brasileiro.