“Como posso te ajudar?”. É com essa pergunta que iniciamos nossa reflexão de hoje, que diz respeito ao Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção do suicídio. Muito se fala em sinais, muitos dizem que não enxergaram os sinais e é sempre mais fácil juntar as peças do quebra-cabeça depois da tragédia, quase sempre trazendo possíveis motivos, de modo ligeiro sem a menor cautela em analisar cuidadosamente os fatos.
Ao nos perguntarmos o porque de tal pessoa se suicidar experimente ficar com a pergunta e não se apressar em dar uma resposta crua e rasa. Não são apenas dores físicas que matam como um AVC ou infarto, a dor da alma também mata, ou poderíamos aqui colocar no plural: as dores da alma, termo desenvolvido pelo psicólogo Edwin Shneidman.
Sinceramente creio que os motivos que levem uma pessoa a recorrer ao suicídio sejam mais do que apenas um fato isolado.
A hermenêutica do suicida, ou seja, o modo com que ele interpreta a vida, é totalmente diferente do que imaginamos que seja o ideal, por isso, de nada adianta comparações de viés motivacional, frases enlatadas de autoajuda, o que as pessoas que aspiram ao ato suicida precisam é de alguém que as ampare, que as ouça, alguém que lhes ofereça um ombro para encostar a cabeça e chorar se preciso for.
Mas e se algum dos aspirantes ao suicídio me perguntar: “Por que devo continuar vivendo?”, uma estrada interessante a se percorrer seria expor as qualidades do indivíduos, fatos de satisfação por ele já vivenciado e perspectivas, ou seja esperança. Aquele que deseja tirar a própria vida desesperado, é aquele que nada espera da vida, é alguém que no fundo não quer tirar a própria vida, mas sim acabar com o que tanto lhe aflige.
Não se esqueça de levar em conta que muitas pessoas sofrem com a dor da alma e não sabem como pedir ajudar, sentem vergonha. Portanto esteja atento aos sinais, o corpo fala! A sociedade nos cobra de diferentes modos sermos pessoas de ferro, inabaláveis…
“Homem não chora…”, apenas guarda as tristezas até o copo transbordar e se suicidar. Ironias à parte, vale lembrar o psicanalista Lacan, que dizia serem as doenças frutos das palavras não ditas. Vivemos em tempo de pressão social, a constante pressão para ser o melhor, chegar lá, ter sucesso… Onde é esse “lá”? O que é ter sucesso?
Estamos expostos por pressões estética, profissional, por resultados rápidos, buscando segurança, elevação da autoestima, querendo alimentar nossa afetividade defasada e isso tudo faz parte de fatores ansiogênicos, ou seja; fatores que causam ansiedade!
O suicídio é um tema que pode ser trabalhado pela psicologia, pela psiquiatria, pela sociologia (Émile Durkheim trabalhou tal tema) e pela minha área de atuação, a filosofia, na qual há Albert Camus, que foi quem explanou que o suicídio é o único tema de real importância; refletir se a vida vale ou não a pena ser vivida!
Sugiro não julgar, mas sim acolher, usar de misericórdia, ou seja, acolher o “miserável”. É assim que São João Maria Vianei enxerga o ato suicida no viés teológico.
E termino com uma frase sua belíssima: “Entre a eternidade e o último suspiro, existe um abismo de misericórdia de Deus!”. Ao menor sinal de cogitar o ato de tirar a própria vida busque ajuda, e um dos meios mais valiosos que temos é o CVV. Ligue 188, 24 horas, todos os dias, e compartilhe suas dores da alma.
Thiago Pontes é filósofo e neurolinguista (PNL)