Entre os meses de outubro e novembro, Campinas recebe cinco apresentações do espetáculo cênico “Eanna – Santuário Travesti”, apresentado pela atriz Helena Agalenéa e por Dj Kaim, em conjunto com diversos artistas independentes do interior de São Paulo. As sessões são gratuitas e acontecem nos dias 20, 21, 27 e 28 de outubro na Fêmea Fábrica (com acessibilidade em Libras) e 01 de novembro na Sala dos Toninhos.
Em “Eanna – Santuário Travesti”, artistas em cena apresentam uma peça híbrida que borra os gêneros entre teatro, cinema, templo e ballroom. Na apresentação o público poderá tomar contato com diversos elementos cênicos que se complementam com projeções de um curta-metragem produzido e filmado durante o projeto.
O espetáculo se propõe a ser um ‘culto’ à deusa mitológica Inanna, divindade antiga da Mesopotâmia, que é ressignificada nos dias atuais enquanto ‘Deusa das Travestis’, já que existem evidências históricas e poéticas sobre a mesma ser uma transgressora do gênero binário desde a Suméria. É também uma continuidade dos estudos de Helena Agalenéa sobre a deusa, que estão presentes em trabalhos anteriores da atriz como no filme ‘Germino Pétalas no Asfalto’ (parceria com o Laboratório Cisco).
Na peça, o sacerdócio de Inanna a convoca para ajudar a construir futuros melhores para a sociedade, que tem dado maior foco às restrições sobre pessoas transexuais e travestis do que à emergente crise climática. Eanna celebra a corporalidade travesti, colocando-a enquanto a sacerdotisa do templo, mas é um convite a todas as pessoas para a construção de futuros melhores.
“Neste espetáculo apresentamos uma festa, mas também uma busca para despertar esperança, um olhar sensível sobre questões tão críticas. Em pleno 2023 estamos votando sobre o casamento homoafetivo, sobre o uso de banheiro por pessoas trans, enquanto ao mesmo tempo estamos em uma ebulição global”, aponta a atriz Helena Agalenéa. “Temos tantas coisas muito mais graves precisando ser vistas, questões coletivas que colocam o planeta em risco, então queremos trazer sensibilização e trocas em comunidade para estas questões emergentes”.
Este trabalho é realizado de forma independente e utiliza a dramaturgia escrita por Helena Agalenéa para a criação de um espetáculo a muitas mãos, com parceria de Dj Kaim, Núcleo Ponte, Biscos, Fêmea Fábrica e do artista independente Paul Parra, dentre muitos outros.
Este projeto foi contemplado e patrocinado pelo Fundo de Investimentos Culturais de Campinas – FICC 2022, pertencente à Secretaria Municipal de Cultura e Turismo da Prefeitura Municipal de Campinas. O FICC tem como finalidade fomentar a produção artística local.
Sobre a peça
“Eanna – Santuário Travesti” é apresentada como um ‘manifesto ciborgue’, invocando uma ideia de futuro em que a binaridade de gênero não existe. “Na nossa visão, no futuro não haverá divisão entre homem e mulher; ser humano e máquina. A natureza é um todo. Buscamos uma estética do futuro, como seriam as roupas, os sons, as projeções em cena. O futuro já começou”, brinca Helena.
As duas personagens em cena são uma sacerdotisa e um sacerdote da divindade Inanna, que atuam conduzindo uma noite de encontro sagrado. O público é convidado a entrar neste templo numa espécie de noite ritualística, ou… apenas mais um dia de culto.
“Quantas pessoas trans ou mesmo LGBTQIAP+ você conhece liderando cultos, sendo lidas enquanto corpos sagrados e sacerdotais? Os imaginários sobre nós estão dados há muitos anos, nos colocando na chacota, na prostituição compulsória, na objetificação. Travestis fazem barulho onde quer que estejam, mas não porque somos barulhentas, e sim porque a cisgeneridade se incomoda com a nossa presença. No congresso, no reality show, na televisão, na escola, na faculdade e até mesmo nos banheiros públicos”, afirma a atriz.
Eanna – Santuário Travesti é uma ficção, mas tem também dentro de si um feitiço de noite de festa, sacralidade, alegria e comunhão, com desejo de que esta seja a realidade para todos os corpos dissidentes, para que possam simplesmente existir.
Segundo Helena, as pessoas serão apresentadas a uma estética nova de forma convidativa. “Quem não está acostumado com a presença de ‘uma corpa’ travesti, com a ballroom, com questões da física… todos serão contemplados e vão se sentir pertencentes de uma forma bastante generosa”.
SERVIÇO
Espetáculo “Eanna – Santuário Travesti”
Local: Fêmea Fábrica (Rua Barão de Jaguara, 576 – Conceição)
Datas: 20, 21, 27 e 28 de outubro (sextas e sábados)
Horário: sempre às 20h30
Acessibilidade: Libras
Quanto: Grátis
Classificação etária: 14 anos
Local: Sala dos Toninhos (Rua Francisco Teodoro, s/n, Vila Industrial – anexo ao estacionamento da Estação Cultura)
Datas: 01 de novembro (quarta-feira)
Horário: 20h30
Acessibilidade: Não
Quanto: Grátis
Classificação etária: 14 anos