Quarto goleiro que mais defendeu a meta da Ponte Preta na história, com 183 partidas disputadas entre 1984 e 1988, o ex-atleta e atual técnico Sérgio Guedes, de 60 anos, guarda com imenso carinho a lembrança de ter participado do jogo de despedida do Rei Pelé do futebol.
Aos 27 anos de idade, Sérgio atuou como titular da Seleção Brasileira na derrota sofrida por 2 a 1 para a seleção do Resto do Mundo, em partida festiva realizada no dia 31 de outubro de 1990, apenas oito dias após o aniversário de 50 anos de Pelé, comemorado no dia 23 de outubro, e uma semana antes de o goleiro completar 28 anos, no dia 7 de novembro.
Foram quase 20 mil torcedores que marcaram presença nas arquibancadas do estádio Giuseppe Meazza, em Milão, na Itália, para assistir ao último jogo do maior jogador de futebol de todos os tempos.
Ao todo, Sérgio Guedes disputou oito jogos com a amarelinha da Seleção Brasileira, entre 1990 e 1992, sempre representando o Santos.
Na ocasião, Sérgio Guedes defendia o Santos, clube para o qual havia se transferido em 1988, deixando a Ponte Preta após quatro anos. O arqueiro permaneceu no Peixe até 1992.
“A gente tinha uma aproximação e um convívio bem frequente porque ele era bem assíduo na Vila Belmiro quando cheguei”, contou Sérgio Guedes, em entrevista à TV Briosa, canal oficial da Portuguesa Santista no YouTube, em referência à relação criada com Pelé no fim dos anos 80, quando se transferiu para o Santos, o clube do Rei.
Em 1991, ainda como jogador do Peixe, Sérgio Guedes integrou a delegação brasileira na disputa da Copa América de 1991, sediada no Chile e vencida pela Argentina. Ele não chegou a entrar em campo durante a competição, já que o titular da posição atendia ao nome de Taffarel, que viria a se tornar o herói do tetracampeonato mundial em 1994, após 24 anos na fila.
“Eu me senti muito honrado por estar representando a Seleção e estar convivendo com ele [Pelé]. Foi muito marcante para mim porque isso te dá outro patamar. Não há nenhum lugar pelo qual eu já tenha passado que não me perguntem como me senti naquela ocasião. Eu sou muito contido para certas situações, mas esse momento em específico eu faço questão de apresentar e divulgar”, definiu Sérgio Guedes, sobre a participação no último jogo de futebol de Pelé. No decorrer da partida, o goleiro deixou o campo para a entrada do goleiro Ronaldo, do Corinthians.
Ao longo de quase 35 anos, Pelé entrou em campo 1.375 vezes, contando jogos oficiais e amistosos. A contagem começa no dia 7 de setembro de 1956, mesma data inclusive do primeiro de seus 1.285 gols, marcado aos 15 anos, na vitória por 7 a 1 sobre o Corinthians de Santo André, no ABC Paulista, e segue até o dia 31 de outubro de 1990, quando tinha 50 anos e passou em branco durante os 42 minutos que atuou na derrota do Brasil para o Resto do Mundo, em Milão, na Itália.
Além da qualidade que todo mundo conhece, Sérgio Guedes revela ter se impressionado com o nível de competitividade de Pelé, mesmo disputando um amistoso festivo aos 50 anos. “Eu não cheguei a jogar uma competição oficial com o Pelé, mas a maneira como ele se comportou naquele amistoso dá o entendimento de que como ele disputava jogos para valer. Isso dá conceito, referência e exemplo”, define.
Confira abaixo o depoimento completo do ex-goleiro pontepretano e atual treinador Sérgio Guedes sobre a sua história com Pelé, em entrevista à TV Briosa, no YouTube:
Neto e outros bugrinos no adeus do Rei aos gramados
Sob aplausos de pé da torcida presente em San Siro, Pelé saiu de campo aos 42 minutos do primeiro tempo, com lágrimas nos olhos, dando lugar ao meia Neto, revelado no Guarani, que assumiu a faixa de capitão e deixou a sua marca, com um golaço em cobrança de falta, sua especialidade, mas não impediu a derrota brasileira por 2 a 1. Na época, Neto estava prestes a se tornar campeão brasileiro, título que conquistaria com o Corinthians em dezembro de 1990.
No segundo tempo da partida em Milão, também entraram em campo com a amarelinha os atacantes João Paulo e Careca, ídolos do Guarani, que jogavam no futebol italiano naquela época. Careca atuava ao lado do craque Maradona no Napoli, enquanto João Paulo defendia o Bari.
Jogando na seleção do Resto do Mundo, ao lado de craques internacionais como o holandês Van Basten e o búlgaro Stoichkov, também havia um atleta revelado no Brinco de Ouro: o zagueiro Júlio César, recém-chegado à Juventus, de Turim. Ele é o único jogador até hoje a ter disputado uma edição de Copa do Mundo enquanto jogava no Bugre, fato registrado em em 1986, no México.
Os gols da vitória da seleção do Resto do Mundo sobre o Brasil foram marcados pelo espanhol Míchel e pelo romeno Gheorghe Hagi.
O retorno de Sérgio Guedes ao Majestoso
Vice-campeão paulista como treinador da Ponte Preta, em 2008, Sérgio Guedes é o atual técnico da Portuguesa Santista, que se prepara para a disputa da Série A2 do Campeonato Paulista, com início no próximo dia 14 de janeiro (sábado).
O ex-goleiro pontepretano, inclusive, reencontrará a Macaca em fevereiro no estádio Moisés Lucarelli, pela 11ª rodada da competição, equivalente à segunda divisão do futebol paulista. A data do confronto ainda não está definida, mas deve acontecer perto do Carnaval.
Casa da Briosa, como a Portuguesa Santista é carinhosamente conhecida, o estádio Ulrico Mursa fica a apenas cerca de 500 metros de distância da Vila Belmiro, onde aconteceu o velório aberto do Rei Pelé, morto na última quinta-feira (29) e enterrado nesta terça-feira (3), no Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos.
No ano passado, a Macaca amargou o seu primeiro rebaixamento estadual em mais de 30 anos e o resultado negativo mais decisivo para a queda talvez tenha sido a derrota dentro de casa por 1 a 0 para o Água Santa, comandado justamente por Sérgio Guedes, pela antepenúltima rodada do Paulistão.
Confira abaixo a ficha técnica do amistoso entre Seleção Brasileira e Resto do Mundo, jogo de despedida de Pelé, em 1990:
Brasil (1): Sérgio Guedes (Ronaldo); Gil Baiano (Bismarck), Paulão, Adílson (Cléber) e Leonardo (Cássio); César Sampaio, Donizete (Luís Henrique), Cafu e Pelé (Neto); Charles (Valdeir) e Rinaldo (Careca). Técnico: Paulo Roberto Falcão.
Resto do Mundo (2): Goycochea (Preud’homme, N’Kono e Higuita); Clijsters (Kundé), Júlio César, Ruggeri (Aleinikov) e De León (Calderón); Míchel (Basualdo), Alemão (Hagi), Vázquez (Détári) e Ancelotti (Stoichkov); Van Basten (Francescoli), e Milla (João Paulo). Técnico: Franz Beckenbauer e Arrigo Sacchi.
Gols: Míchel (RMU), aos 35′ do 1º tempo; Hagi (RMU), aos 5′, e Neto (BRA), aos 15′ do 2º tempo.
Data: 31/10/1990 (quarta-feira).
Local: Estádio Giuseppe Meazza, Milão (Itália).
Árbitro: Tullio Lanese (ITA).