Cara leitora, caro leitor, geralmente admiramos uma pessoa, que pode vir a tornar-se nosso “ídolo” porque ela ou ele tem qualidade e nos representa, seja no meio artístico, esportivo, político, empresarial, familiar ou qualquer outro ramo. O “fã de carteirinha” tinha pastas com fotos, ingressos de eventos, quarto decorado, e conhecimento da vida do seu ídolo.
Mas tenho observado um fenômeno diferente: as pessoas viram fã de alguém exatamente pelo fato de aquela personalidade ser famosa. É mais ou menos assim: “ah, ela é famosa, então sou fã dela’.
Se antes havia aquela sensação de “pertencimento” às qualidades de um ídolo, de aprendizado e admiração, hoje, nessa nova forma de tietagem, a questão é pertencer à fama do famoso, “o famoso famosinho”. Ele se sente parte, mesmo que anônimo, daquela multidão de seguidores. Fãs assim correm o risco de se tornarem zumbis.
E por falar em ídolos, aproveito para citar criticamente os dois maiores ídolos da nova geração do Brasil: um tem a síndrome de Peter Pan e nunca cresce. Ele é uma pessoa vazia, não há nenhuma entrevista dele ou documentário sobre sua vida que nos dê algum exemplo positivo.
A outra tem uma carreira artística de cunho duvidoso. Só lança singles, nunca lança um álbum completo, mas sabe jogar muito bem o jogo da fama. Está sempre na mídia por algo que fez: tatuagem em locais íntimos, romances que vêm e vão, declarações sobre assuntos picantes.
Logicamente a maioria das notícias sobre ela não envolvem a música que ela faz, porque ela quase não faz música propriamente dita.
Os motivos que deveriam levar uma pessoa a ser fã deveriam ser outros, e não a fama por “si mesma”.
Eu por exemplo, passo a admirar alguém quando vejo que, além de bom caráter, aquela pessoa vive e ama intensamente aquilo que faz, como se tivesse nascido praquilo, e somente para aquela vocação, e que nenhuma outra profissão poderia abraçá-lo. Para mim, o exemplo de ídolo positivo que se encaixa no que escrevi antes é o Antônio de Carvalho Barbosa, ou simplesmente Tony Ramos.
E aqui não se trata de comparar ídolos de gerações diferentes. Hoje temos grandes ídolos, que, mesmo não sendo infalíveis – pois como humanos, são feitos de limitações e contradições – têm o que ensinar, podem mostrar caminhos a seguir, e serem exemplos positivos para a vida do fã e da sociedade. Tornam-se, assim, os (bons) exemplos, as vidas inspiradoras.
Contudo, sendo “famoso pela própria fama”, ou “famoso pelas qualidades”, ambos têm o preço da fama na conta a pagar. É uma pressão e uma vigilância absurdas; o famoso tem ainda uma infinidade de protocolos a seguir – as regras “implícitas” – e uma vida completamente priva de liberdade de ir e vir, além de todas as intempéries inerentes à fama. Por não existir uma “escola da fama”, o famoso tem de aprender no decurso das suas experiências.
Para concluir, acredito que é muito importante ter exemplos. Se você não vê, não acredita que é possível.
Racionais MCs viram o Marvin Gaye e acreditaram que pretos podiam cantar. Robson Nunes viu Mano Brown e reconheceu a si mesmo como cidadão preto e capaz. E as tantas mulheres vitoriosas e inspiradoras, como Marie Curie e Rosa Parks, que iluminaram muitas outras.
Gustavo Gumiero é sociólogo e escritor – @gustavogumiero – gustavogumiero.com.br