Uma funcionária do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região diz ter sido vítima de agressão justamente no Dia Internacional da Mulher, em 8 de março. Ela acusa o presidente da entidade Sidalino Orsi Júnior. Afastada do trabalho há sete dias em função de um trauma no cotovelo esquerdo, a funcionária afirma que a lesão foi provocada com o impacto de um conjunto de chaves arremessado na sua direção pelo mandatário do sindicato. O fato aconteceu durante expediente de trabalho, na sede da entidade.
Orsi Júnior se defende das acusações e diz que não praticou agressão. Segundo ele, trata-se de uma narrativa criada em função do momento político pelo qual passa o sindicato, que está em processo de disputa eleitoral. O presidente se diz vítima de calúnia e difamação e alega que provará na Justiça a verdade dos fatos.
Assistente técnica de arrecadação, Gislaine preferiu não divulgar seu sobrenome. Ela conta que no último dia 8 de março trabalhava em sua sala, quando Orsi Júnior entrou no local.
“Ele cumprimentou uma funcionária que estava na sala e se dirigiu a mim de forma ríspida, perguntando sobre a chave da porta do setor de documentação. É um conjunto de duas chaves e um crachá presos a uma argola e entreguei de forma cordial. Em seguida, ele saiu da sala, mas voltou. Se escondeu atrás da porta e arremessou as chaves na minha direção. Levei um susto. A pancada foi muito forte”, relata Gislaine.
Com fortes dores, a funcionária foi no mesmo dia ao hospital Samaritano de Hortolândia, cidade onde mora, e o diagnóstico apontou traumatismo superficial no cotovelo esquerdo. Gislaine ainda registrou Boletim de Ocorrência na Delegacia de Polícia de Defesa da Mulher de Hortolândia, onde um inquérito foi aberto.
O caso, no entanto, será transferido para o 1º Distrito Policial de Campinas porque a ocorrência foi na cidade. O Centro de Referência e Atendimento à Mulher (Cram) de Hortolândia acompanha a vítima, que tem consulta com um profissional de psicologia marcada para os próximos dias.
Gislaine, de 42 anos, recebeu a reportagem do Hora Campinas em sua residência e diz que é vítima de perseguição e assédio moral por parte de Orsi Junior desde 2020. Funcionária do sindicato há 18 anos e dez meses, ela afirma ser alvo de xingamentos e humilhações e que não sabe o motivo do tratamento hostil por parte de seu superior hierárquico.
“Sempre achei que eu era uma privilegiada por estar trabalhando em um lugar que defende bandeiras de igualdade. E foi acontecer isso justamente em um dia de luta. Respeito as pessoas e quero ser respeitada”, relata, sem esconder as lágrimas.
Gislaine diz que sua indignação é reforçada pelo fato de não ter havido um pedido de desculpas. Ela conta que no mesmo dia da agressão encontrou com Orsi Junior em uma sala do sindicato e o questionou sobre sua atitude. “Ele disse que eu estava fazendo graça. Ora, não pego quatro conduções por dia para fazer graça. Não estou no sindicato por brincadeira.”
O atestado médico vence nesta quinta-feira (16) e nesta sexta Gislaine terá de voltar ao trabalho, mesmo ainda com o braço imobilizado numa tipoia. Ela relata ter crises de ansiedade e que só consegue dormir à base de calmantes. Isso sem contar os temores provenientes de um câncer de útero diagnosticado em 2020. “Passei por cirurgia, mas ainda preciso de um acompanhamento médico.”
O outro lado
Orsi Junior dá sua versão a respeito do que ocorreu naquele 8 de março, na sede do sindicato. “A chave que causou essa história toda pesa 15 gramas. A joguei de baixo para cima, como se joga uma pera para uma criança, por exemplo. Disse: ‘Gi, pega aí que vou para a audiência e estou atrasado.’ A chave bateu na mesa e deve ter acertado o braço dela. Mas não faz o menor sentido aquela minha atitude ter causado todo esse dano. Não pratiquei agressão.”
O sindicalista reforça que a acusação tem motivação política. “Parte da diretoria sofreu um racha”, diz, informando que haverá eleições na entidade nos próximos dias.
Ele acredita que há pessoas dentro do sindicato interessadas em manchar sua imagem. “Oportunistas existem em qualquer lugar. Infelizmente, tem gente que se sujeita a criar esse tipo de situação para tumultuar. Querem me desestabilizar dentro do processo eleitoral, mas minha relação com os trabalhadores é a melhor possível.”
Orsi Junior está se resguardando judicialmente. “A pessoa que diz ter sido agredida terá de provar. A justiça vai mostrar a verdade e apontar quem está caluniando. Infelizmente, é uma denúncia falsa que parte de uma pessoa que ajudei muito internamente.”
O sindicalista ainda faz questão de salientar a força da entidade que preside na luta em defesa da mulher. “Estamos presentes na batalha contra qualquer tipo de discriminalização. A bandeira dos direitos das mulheres precisa ser levantada por todos trabalhadores e trabalhadoras. O machismo, o feminicídio e a violência doméstica precisam ser combatidos.”