Por meio de nota distribuída no final da tarde desta quinta-feira (16), o governo de São Paulo disse lamentar a decisão do Ministério da Saúde, que recuou e decidiu não recomendar a aplicação de vacina para adolescentes de 12 a 17 anos, sem comorbidades. No início da noite, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) se manifestou pela continuidade da vacinação. Em nota, afirmou que “até o momento, não existem evidências que subsidiem ou demandem alterações nas condições aprovadas para a vacina.”
Segundo o governo estadual, a decisão do ministério de não recomendar a vacina para adolescentes “vai na contramão” de autoridades sanitárias de outros países. Apesar da decisão do Ministério, o governo estadual anunciou que vai manter a vacinação para este público.
“A vacinação nessa faixa etária já é realizada nos EUA, Chile, Canadá, Israel, França, Itália, dentre outras nações. A medida cria insegurança e causa apreensão em milhões de adolescentes e famílias que esperam ver os seus filhos imunizados, além de professores que convivem com ele”, diz o governo na nota.
“A vacinação nessa faixa etária já é realizada nos EUA, Chile, Canadá, Israel, França, Itália, dentre outras nações.”
“Coibir a vacinação integral dos jovens de 12 a 17 anos é menosprezar o impacto da pandemia na vida deste público. Três a cada dez adolescentes que morreram com COVID-19 não tinham comorbidades em São Paulo. Este grupo responde ainda por 6,5% dos casos e, assim como os adultos, está em fase de retomada do cotidiano, com retorno às aulas e atividades socioculturais.
O Plano Estadual de Imunização (PEI) informa que a vacinação dos jovens de 12 a 17 anos começou em SP no dia 18 de agosto e já foram imunizadas cerca de 2,4 milhões de pessoas, ou seja, 72% deste público.
“Infelizmente, e mais uma vez, as diretrizes do Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde chegaram com atraso e descompassadas com a realidade dos estados, que em sua maioria já estão com a vacinação em curso.
O ministro
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, por sua vez, disse que uma série de motivos pesaram para que a pasta resolvesse revisar a recomendação e suspender a vacinação de adolescentes sem comorbidades.
Segundo Queiroga, foram identificados 1,5 mil eventos adversos em adolescentes imunizados. Todos eles foram de grau leve. Foi notificado um caso de morte de um jovem em São Paulo, mas o episódio ainda está sendo investigado para avaliar se a causa foi o imunizante ou não.
Ministro diz ter registro de 1,5 mil eventos, todos de grau leve
O ministro reclamou que, a despeito da orientação anterior para que a imunização deste público tivesse início quarta-feira (15), já foram vacinados 3,5 milhões de adolescentes por autoridades locais de saúde.
Ele acrescentou que houve diversos casos de prefeituras que aplicaram vacinas não autorizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A agência só permitiu o uso da Pfizer/BioNTech para adolescentes de 12 a 17 anos. Nos registros do Ministério da Saúde, entretanto, dados enviados pelos estados mostram este público sendo imunizado com outras vacinas.
“Em relação aos subgrupos, as evidências estão sendo construídas. O NHS [SUS do Reino Unido] restringiu a vacinação nos adolescentes sem comorbidades. Aqueles que já tinham sido imunizados com 1ª dose se recomendou parar por ali”, disse Queiroga.
“A OMS não recomenda, mas sugere que pode se pensar [na vacinação de adolescentes]”
A secretária extraordinária de enfrentamento à covid-19, Rosana Leite, mencionou também orientação da Organização Mundial de Saúde sobre o assunto.
“A OMS não recomenda, mas sugere que pode se pensar [na vacinação de adolescentes] a partir do momento que tenha vacinado toda a população, principalmente as mais vulneráveis, com duas doses”, disse.
Falta de vacina
Perguntados se a suspensão da vacinação teria relação com a falta de vacinas, os representantes do ministério descartaram essa hipótese e afirmaram que não há problema de abastecimento de doses no país. “Não falta vacina. Será que elas foram utilizadas de forma inadvertida? Provavelmente”, sugeriu a secretária Rosana Leite.
Sem segunda dose
Diante da suspensão, os adolescentes sem comorbidades que receberam a primeira dose não devem ter a aplicação da segunda dose. A orientação de interromper a imunização vale também para aqueles com comorbidades que tomaram a primeira dose da AstraZeneca ou CoronaVac.
Apenas os adolescentes com comorbidades imunizados com a Pfizer/BioNTech na primeira dose podem seguir com o processo de imunização e completar o ciclo vacinal, procurando os postos para receber a segunda dose.
Morte
A Anvisa confirmou que investiga a morte de uma adolescente de 16 anos, em São Bernardo do Campo, após aplicação da vacina da Pfizer contra a Covid-19. A jovem morreu oito dias após a imunização e, até o momento, não há indícios de ligação do óbito à vacina. (Com informações da Agência Brasil)