Um grupo na Câmara Municipal, liderado pelo vereador Arnaldo Salvetti (MDB), se mobiliza para que os rodeios voltem a fazer parte da agenda cultural de Campinas. Uma Comissão Especial de Estudos (CEE) foi criada para analisar o assunto. O primeiro encontro da comissão acontece neste sábado (24), a partir das 9h, no plenário da Casa. Uma lei municipal proíbe a realização de rodeios na cidade desde 2003.
Ativistas já se manifestam contrários às articulações lideradas por Salvetti. Grupos foram convocados em redes sociais a estarem presentes neste sábado no plenário para protestar contra a possibilidade da volta dos rodeios. A prática, argumentam, caracteriza maus-tratos aos animais.
“Estaremos juntos nessa luta para impedir que esses eventos sejam realizados na cidade”, diz a advogada e presidente da Comissão de Proteção e Defesa dos Animais de Campinas, Adriana Serra, em vídeo que circula nas redes sociais.
A jornalista Raquel Valli foi uma das que usou um grupo de WhatsApp para tentar mobilizar pessoas a marcarem presença na Câmara neste sábado. Envolvida com a causa animal, ela até pensou que as notícias sobre as manifestações na Casa favoráveis à volta dos rodeios fossem fake news.
A jornalista destaca a posição histórica de Campinas em defesa dos animais e, por isso, se diz indignada. “Cobri a sanção do então prefeito Jonas Donizette ao Estatuto dos Animais da cidade, que representou uma vitória”, conta.
Um dos argumentos utilizados por aqueles contrários ao rodeio é de que os touros e os cavalos são estimulados a pularem por um acessório (sedém) que aperta os testículos e provoca dores. Por outro lado, veterinários ligados aos eventos dizem que o sedém é colocado ao redor da cintura do animal e não causa danos à sua saúde.
“Quando eu era adolescente, participava de rodeios e, numa ocasião, presenciei um novilho ficar paralítico depois de ser usado em um treino de laço. O vi agonizando na arena. Me arrependo até hoje de ter participado daquilo”, lembra Raquel.
Salvetti argumenta que as técnicas utilizadas no manejo do animal na atualidade não caracterizam maus-tratos. “Em minha opinião, hoje os animais são bem tratados”, acredita. “Estamos perdendo receita e empregos aqui em Campinas. Na região inteira tem esse tipo de evento”, defende o vereador, autor da proposta da CEE.
Além das apresentações dos peões, os rodeios ainda incluem shows de artistas, entre outras atrações. Americana, Sumaré, Hortolândia, Jaguariúna e Morungaba são algumas das cidades da Região Metropolitana de Campinas que recebe o evento.
Em texto publicado em seu site oficial, a Câmara informa que a CEE também vai analisar e discutir acerca da realização de feiras agropecuárias, provas equestres, exposições e leilões. Neste primeiro encontro, estão previstas a escolha do relator da comissão, além debates sobre cuidados no manejo dos animais e as questões econômicas envolvidas com o evento.
“É importante destacar que estou abrindo o debate a pedidos de uma enorme parcela de moradores da cidade que precisa de emprego e que vê as oportunidades indo embora para outros municípios. A questão do lazer também é importante, porque o cidadão fica em sua cidade, evitando pegar estradas e gastar seu dinheiro em outros municípios”, justifica Salvetti.
Também integram a comissão os parlamentares Luiz Cirilo (PSDB), indicado pela Comissão Permanente de Proteção e Defesa dos Animais, e – definidos por sorteio – Debora Palermo (Podemos), Marcelo da Farmácia (Avante) e Otto Alejandro (PL).
Nesta primeira reunião, além de membros da comissão, participarão das discussões outros parlamentares da Casa. Estarão presentes ainda os vereadores Thiago Samasso (PSD), de Vinhedo; Enoque Leal Moura (MDB), de Hortolândia; e Thiago Rodrigo Martins, de Americana (PV).
O médico veterinário especializado em Medicina Veterinária Legal e Judicial, César Fabiano Vilela, terá participação remota, dos Estados Unidos. Vilela é também presidente da Câmara Setorial de Equideocultura, vinculada à Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo.
Também já confirmaram presença Daniel Scatena Radomile, médico veterinário; Roberto Luiz Giandozo, presidente do Clube dos Cavalheiros e Charreteiros de Campinas e Antônio José da Silva Piton, vice-presidente do Clube dos Cavaleiros. Outras personalidades ligadas ao meio, como organizadores de rodeios, criadores de animais, veterinários e economistas também são esperados pela comissão, além de prefeitos da região, deputados estaduais e federais.
Legislação e história
Os rodeios são proibidos em Campinas desde 2003, quando a então prefeita Izalene Tiene (PT) sancionou a lei de autoria do vereador Paulo Búfalo (Psol), que barra “a utilização de animais em espetáculos realizados no município de Campinas.”
As tentativas de mudanças na legislação são antigas. Em 2004, o ex-vereador Sebastião dos Santos (PMDB) apresentou projeto para que os rodeios fossem permitidos novamente em Campinas. Apesar do texto ter sido aprovado pelos vereadores, o prefeito cassado Hélio de Oliveira Santos (PDT) vetou a lei.
Em 2013, foi a vez do vereador Gilberto Cardoso, o Vermelho (PSDB), apresentar projeto no mesmo sentido. A pressão das entidades de defesa e proteção dos animais, no entanto, inibiu o avanço da proposta.