Por que não usar a palavra judiar? E por que é inadequado falar mancada, ou usar a expressão “mais perdido que cego em tiroteio”? A nova edição do Guia de Terminologias sobre Políticas Afirmativas, lançada pela Prefeitura de Campinas, esclarece como figuras de linguagem e palavras corriqueiras são excludentes e inapropriadas. São tão comumente usadas, que dificilmente as pessoas param para refletir sobre o que realmente significam.
Só para não deixar ninguém na dúvida, o termo judiar se origina da forma como os judeus foram tratados e tem o sinônimo de fazer sofrer, atormentar, maltratar, é utilizado com tom de pena. Essa é a explicação do Guia, que sugere substituir a palavra por maltratar, do mesmo modo que recomenda trocar judiação por crueldade.
O Guia é uma atualização de princípios e um convite à terminologia igualitária e apropriada. Mancada, por sinal, é tida como uma expressão capacitista, por associar pessoas que mancam a algo ruim. “Mais perdido que cego em tiroteio”, segue pelo mesmo caminho.
E, nos dias de hoje, ninguém mais deve ter um “criado-mudo” ao lado da cama. Substitua por mesa de cabeceira. Os criados-mudos fazem referência aos criados, geralmente escravizados, que deviam segurar objetos para seus senhores. Como estes criados não podiam falar, eram considerados mudos, daí o termo criadomudo.
Objetivo
O Guia tem como objetivo orientar os servidores sobre o uso correto de terminologias e com isso promover uma comunicação mais inclusiva com os cidadãos que utilizam os serviços públicos.
Com a revisão, foi incluída, por exemplo, a palavra “neurodivergente”, que deve ser utilizada para pessoas que possuem uma configuração neurológica atípica, diferente daquilo que a sociedade considera o padrão. Em especial às diagnosticadas com distúrbios neurológicos ou do neurodesenvolvimento como autistas; pessoas que têm dislexia; dispraxia; transtorno de déficit de atenção; síndrome de Tourette e etc.
Houve, também, a inclusão do termo idadismo, lactante, gay, bissexual, transgênero, intersexo, assexual e retirante; além de termos pejorativos que não devem ser usados, como cabeça chata, pau de arara, boia-fria, nega maluca, meia-tigela e vaca leiteira.
“As alterações foram feitas a partir de sugestões e também de pesquisas feitas pela nossa equipe. O Guia passará por outras alterações a medida que novos termos precisem ser incluídos ou substituídos”, disse Patrícia Quito, da Secretaria de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas.
Ainda segundo ela, como o Guia está disponível na internet, as pessoas conseguem consultá-lo em qualquer lugar. “Algumas pessoas optaram por imprimir o Guia, mas muitas utilizam a versão digital, porque é mais simples para fazer a busca e também pela facilidade da pesquisa poder ser feita até pelo celular”, completou.
O Guia foi elaborado pelo Laboratório de Inovação em Gestão de Pessoas – GentILAB – em parceria com o Grupo Intersetorial de Estudos – Políticas Afirmativas, que tem como objetivo propor medidas de inclusão, proteção, reconhecimento e estímulo aos servidores negros, indígenas, mulheres, pessoas com deficiência e LGBTQI+.
O Guia na prática
Alguns servidores já utilizam o Guia em seus locais de trabalho. Um exemplo é a coordenadora do Porta Aberta, Viviane Garcia. “Nós utilizamos o Guia no nosso dia a dia e divulgamos para todos os nossos atendentes. É um material didático, bonito e bem feito, que nos ajuda muito a atender o público diversificado que passa pelos nossos postos de atendimento”, disse.
Ainda segundo a coordenadora, são vários os exemplos de situações em que o Guia foi necessário. “Um dos casos é de uma mulher trans que procurou o nosso atendimento com o nome social, mas no documento ainda constava o nome de registro e ela se sentiu ofendida. Nós analisamos o caso e usamos o Guia para orientar toda a equipe para prestar um atendimento adequado”, completou.
Conteúdo
Guia de Terminologia sobre Políticas Afirmativas traz diversos termos que são usados corretamente e outros que caíram em desuso ou representam preconceito. O conteúdo está agrupado em diversidade, pessoa idosa, igualdade de gênero, migração e igualdade racial.