O vereador de Campinas Nelson Hossri (PSD) informou nesta quarta-feira (24) ter um laudo pericial contratado por ele, que confirma não ter havido ato de racismo na sessão do dia 8 de novembro deste ano, contra a vereadora Paolla Miguel (PT). Na oportunidade, ela teria sido chamada de “preta lixo” por manifestantes de direita presentes à sessão.
O laudo é assinado pelo perito criminal Ricardo Molina e atesta que o grito que partiu da plateia foi de “Petta lixo” – uma referência ao vereador Gustavo Petta (PCdoB) e não “preta lixo” – que seria a ofensa à vereadora negra.
O laudo vai integrar a defesa de Hossri no processo de cassação que responde na Câmara. Ricardo Molina disse ao Hora Campinas que a conclusão está baseada em duas evidências – a perceptiva e a espectográfica
A primeira, segundo ele, está baseada nos áudios da sessão que teriam sido fornecidos pela TV Câmara e incluídos no processo criminal que acabou sendo aberto. Esses áudios, diz ele, teriam sido ouvidos por meio de placas de áudio especiais, em um laboratório específico para esse fim.
Em seguida, continua o perito, foi feita uma análise espéctográfica – que tem como função captar as três dimensões do som – amplitude, frequência e tempo. “E nas duas (evidências) o resultado é o mesmo. O grito que vem lá da plateia é “Petta lixo””, afirma o perito.
Molina diz que está seguro da conclusão.
“Eu estou neste trabalho há 31 anos. Muita gente pode contestar, mas outros peritos podem ficar à vontade para analisar”, diz. “Eu sei que esse caso está contaminado por questões políticas, mas para mim não tem problema”, assegurou.
O vereador Gustavo Petta discorda do perito. “Primeiro quero dizer que confio muito no trabalho da Polícia Civil que abriu inquérito e até já indiciou uma suspeita. Depois, posso garantir que muitos vereadores e outras testemunhas, ouviram a expressão “preta lixo”, sem sombra de dúvida”, afirmou.
Molina/Temer
O perito Ricardo Molina se notabilizou por trabalhar em casos rumorosos. Um deles, foi a morte de PC Farias – um auxiliar do então presidente Fernando Collor. Em 1996, PC acabou morto e o episódio acabou precipitando o impeachment de Collor.
Mais recentemente, em 2017, um laudo de Molina foi usado pelo então presidente Michel Temer (MDB), quando o então presidente teve uma conversa gravada pelo empresário Joesley Batista.
Joesley sustentava que na gravação dava para concluir que Temer estaria de acordo com a propina paga pelo empresário, ao ex-presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha. “Vamos manter tudo isso”, teria dito Temer na conversa.
Um laudo de Ricardo Lima apresentado pela defesa de Temer, no entanto, evitou que o presidente renunciasse. O laudo dizia que a perícia da Polícia Federal que incriminava Temer era “evasiva” e não “conclusiva” nem “categórica”. Temer não renunciou e depois, no Congresso, conseguiu se manter no cargo até o final do mandato.
O caso Paolla Miguel
A Comissão Processante aberta na Câmara vai apurar a conduta do vereador Nelson Hossri especialmente na sessão do dia 8 de outubro, quando manifestantes hostilizaram vereadores e, ao menos um deles – uma mulher – teria praticado injúria racial contra Paolla Miguel. A acusação é a de que os manifestantes teriam sido estimulados a comparecerem à sessão por Nelson Hossri. Ele nega.
A vereadora registrou queixa na Polícia Civil e a acusada foi indiciada. O processo agora está na justiça. A Comissão Processante pode resultar na cassação de Hossri.