Terceiro mais rejeitado na última pesquisa Datafolha, Kelmon Luís da Silva Souza, candidato que se apresenta como “padre Kelmon”, virou o personagem da reta final da mais polarizada eleição da história republicana. O candidato, que obteve 80 mil votos no primeiro turno, é casado e tem 45 anos. O petebista se intitula membro da Igreja Católica Ortodoxa do Brasil e sobre ele pesam dúvidas sobre a sua titulação sacerdotal.
Depois de muita polêmica e pressão por esclarecimentos, Kelmon afirmou que é pároco de uma igreja autônoma peruana. Mas a própria instituição ortodoxa do Peru não o reconhece.
Kelmon, que nasceu na Bahia e tem Ensino Superior completo, substituiu o então candidato Roberto Jefferson, que teve o registro cassado por ser considerado Ficha Suja.
A Igreja Católica Ortodoxa é uma comunhão de igrejas cristãs, inspiradas e originárias do Império Romano Oriental. Ela reconhece o primado de honra do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla desde que a sede de Constantinopla e Roma deixaram de comungar, resultando nessa divisão. A Igreja Católica Ortodoxa reivindica ser a mesma instituição anunciada por Jesus, considerando seus líderes sucessores dos apóstolos.
Mas a sua aparição e a forma como se veste acabaram provocando confusão. Especialistas na liturgia cristã ressalvam que Kelmon é um personagem caricato, pois, como sacerdote não deveria utilizar nem o chapéu nem o cordão no pescoço. Ambos os adereços são símbolos de uma hierarquia maior na Igreja, e quem deveria usá-los são bispos ou cardeais.
CNBB divulga comunicado
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) foi obrigada a divulgar uma nota no final da semana passada em razão das sucessivas perguntas que fiéis e autoridades eclesiáticas fizeram por conta das dúvidas sobre Kelmon. No esclarecimento, a CNBB ratifica que o candidato não é sacerdote da Igreja Apostólica Romana no Brasil. Confira:
Em atenção aos fiéis que enviaram perguntas à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), esclarecemos:
1- O senhor Kelmon Luís da Silva Souza, candidato que se apresenta como “padre Kelmon”, não é sacerdote da Igreja Católica Apostólica Romana, sem qualquer vínculo com a Igreja sob o magistério do papa Francisco.
2- Oportuno ressaltar que, conforme vigência na Lei Canônica, os padres da Igreja Católica, em pleno exercício do ministério sacerdotal, não disputam cargos políticos, nem se vinculam a partidos.
Debate quente e bate boca
O último debate do primeiro turno, realizado na última quinta-feira pela Globo, foi o ápice da participação de Kelmon. Claramente servindo de apoio ao candidato Jair Bolsonaro (PL), embora o petebista negasse, Kelmon protagonizou os momentos mais constrangedores da noite. Suas perguntas e respostas passaram a ser vistas como instrumento de descontrução e ataques ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Os dois, inclusive, tiveram tenso embate frente a frente, o que obrigou a emissora a cortar o microfone de ambos e levou à intervenção de Willian Bonner, o mediador, que pediu calma. “Vamos respirar”, apelou o jornalista.
Kelmon, inclusive, conversou por várias vezes com Bolsonaro, antes e durante o debate, sugerindo “tabelinha”. Mas foi com Lula o momento “auditório” do debate. O petista se descontrolou e bateu boca com Kelmon. Sua campanha avaliou esse momento como “derrapada” do petista.