O escritor campineiro Maurício de Almeida lança nesta quinta-feira, dia 24, no Rio de Janeiro, pela Maralto Edições, o livro de contos intitulado “Equatoriais”, histórias de personagens que, em constante movimento, revelam um Brasil invisível aos menos atentos.
Usando todos os meios de transportes disponíveis para chegar ao destino traçado, a viagem pode ser a um lugar remoto no Maranhão, a uma aldeia indígena no Amazonas, a uma cidadezinha no interior do Rio Grande do Sul, ou em capitais como Brasília e São Paulo. Segundo o autor, formado em antropologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), não se trata de mera estratégia estilística.
A diversidade de locais, diz ele, está intimamente ligada ao enredo e, por serem (quase todos) lugares pouco comuns, permite fugir dos clichês.
Maurício, autor de “Beijando Dentes” (contos, Record, 2008) e “A Instrução da Noite” (romance, Rocco, 2016), ambos premiados nacionalmente, afirma, também, que evitou os exotismos regionalistas.
O escritor respondeu a três questões feitas pelo Hora Campinas:
Hora Campinas – Contos são histórias curtas com princípio, meio e fim. Em “Equatoriais” o tema viagem está em todos os contos e personagens de um episódio reaparece em outro, como no romance. Por quê?
Maurício de Almeida – Mesmo estanques, as histórias de um livro de contos podem (e devem) se conectar porque potencializam a observação numa ação ou em personagem específicos. Interligados, os contos tornam o livro um objeto tridimensional, como se, a partir da reiteração, o observássemos de ângulos diversos. Em “Equatoriais”, o ressurgimento de alguns elementos impõe aos protagonistas as consequências das escolhas deles e as viagens, que sugerem estado de passagem, servem para eles revisitarem situações das quais gostariam de fugir.
Qual a relação entre “Equatoriais” e os dois livros anteriores?
Os anteriores são voltados para dentro, a paisagem das narrativas é o universo íntimo dos personagens. Em “Equatoriais”, a intimidade dos personagens é deslocada. Eles circulam país afora, travam contatos, vivem experiências diferentes e o universo íntimo deles é invadido e ampliado. Mas também há repercussão íntima, pois se altera não apenas a forma como concebiam a realidade, mas a si mesmos e as ações (e consequências) nessa realidade. É como se aprendessem nova língua, novos códigos culturais e mudassem a forma de agir.
Vivemos o mundo das imagens. Como se conectar com o público por meio de livro, instrumento no qual existem, apenas, palavras?
Ler literatura é uma espécie de compromisso que demanda relação diferente com o mundo. Não é possível ler e fazer outra coisa, por exemplo. Por isso, a leitura tem implicação grande na experiência do tempo; certamente, o desacelera – e temos vivido tempos acelerados, em que tudo é imediato. Gosto de pensar na literatura, hoje, como convite para sairmos, um pouco, da lógica visual e experienciarmos outra forma de viver algo, em outro ritmo, que é a leitura de um livro.
Serviço
O quê – Lançamento do livro de contos, “Equatoriais”, de Maurício de Almeida
Quando – Quinta-feira, dia 24/8, a partir de 19h.
Onde – Na Janela Livraria (Rua Maria Angélica, 171, Jardim Botânico, Rio de Janeiro)
Quanto – R$ 44,90. Venda nas livrarias e nos sites https://loja.editorapositivo.com.br e Amazon
Frase
“A literatura, hoje, pode ser convite para sairmos, um pouco, da lógica visual e experienciarmos outra forma de viver algo” (Maurício de Almeida)
O NÚMERO
25
ANOS
Tinha Maurício de Almeida quando ganhou o Prêmio Sesc de Literatura com “Beijando Dentes”
Trecho
“É uma hora da tarde. Interessa saber onde estou, Mônica? O município é Alto Alegre do Pindaré, Maranhão. Auzilândia sequer é um distrito, mas uma comunidade, um ponto de parada no qual aguardo, quilômetro duzentos e noventa e sete da ferrovia que, ao ser construída, mutilou o povoado, corte que é a origem de um conflito que se arrasta por mais de trinta anos. Falta pouco menos de quarenta minutos. Estou cansado, o dia é árido, o vermelho é seco. A vida é tão maior do que consigo conceber, Mônica. Volto porque não sinto medo? ou porque é apenas o que sinto?”