O Dérbi entre Ponte Preta e Guarani chegou à histórica 200ª edição neste ano, com vitória bugrina por 1 a 0, no dia 19 de junho, no Brinco de Ouro, pela 5ª rodada da Série B. O próximo duelo entre as duas equipes acontecerá em setembro, pelo segundo turno da competição, mas ainda sem data definida pela CBF. O jogo será realizado no estádio Moisés Lucarelli, mesmo local que há exatos 40 anos foi palco de um dos capítulos mais importantes e encantadores da rivalidade centenária do futebol campineiro.
No dia 5 de agosto de 1981, o clássico entre Ponte Preta e Guarani decidiu o título do primeiro turno do Campeonato Paulista. Naquele memorável Dérbi 145, que completa aniversário nesta quinta-feira (5), a Macaca bateu o Bugre por 3 a 2, com direito a lindos lances, golaços, muita emoção e invasão de campo.
“Foi o Dérbi mais marcante que eu já joguei, não apenas pela vitória, mas pelo lado técnico e pela qualidade das duas equipes. No clima do jogo, a gente não sentiu tanto, mas quando paramos com calma para assistir a partida inteira, percebemos que foi um jogaço”, aponta o ex-meia Dicá, maior ídolo e artilheiro da Ponte Preta, com 155 gols em 581 jogos, divididos por três passagens entre 1966 e 1986. Ele também é o jogador que mais vestiu a camisa do clube alvinegro na história.
“No clima do jogo, a gente não sentiu tanto, mas quando paramos com calma para assistir a partida inteira, percebemos que foi um jogaço”, aponta o ex-meia Dicá
“Foi um jogo dificílimo decidido no final. Para nós, foi ótimo porque vencemos, mas o adversário também teve chances. Os dois lados tinham jogadores com muita capacidade. A Ponte tinha um time praticamente formado, enquanto o Guarani era um baita equipe também, com jogadores que desequilibravam, como Jorge Mendonça e Careca, então foi um dos melhores Dérbis que eu já participei”, afirma Dicá, que disputou 32 Dérbis, entre 1969 e 1984.
Na história do clássico campineiro, Dicá possui um retrospecto invejável: 13 vitórias, 16 empates e apenas 3 derrotas. Ao todo, ele marcou três gols (1971, 1977 e 1983). “Dérbi sempre foi um jogo diferenciado, mesmo que alguém diga o contrário. Não é uma partida normal, pois a preparação é diferente. A semana anterior envolve muita tensão e exige muita preocupação”, define Dicá.
Se jogar um Dérbi já requer bastante responsabilidade, imagina disputar três clássicos em um espaço de apenas um mês. Pois foi exatamente isso que aconteceu no Paulistão de 1981. No primeiro embate, pela última rodada da primeira fase, Ponte Preta e Guarani não saíram de um empate sem gols, no dia 5 de julho, no Moisés Lucarelli. Mal sabiam os torcedores de ambas as equipes que dali exatamente um mês disputariam uma vaga na grande final.
Abaixo, imagens do Dérbi 143, disputado no dia 5 de julho de 1981, quando Ponte Preta e Guarani empataram por 0 a 0, no Moisés Lucarelli, pela última rodada do primeiro turno do Campeonato Paulista:
As oito equipes classificadas à segunda fase foram divididas em dois grupos de quatro, encabeçados por Ponte Preta e Guarani. Com a melhor campanha geral, a Macaca deixou para trás Santos, América e Botafogo em sua chave no octogonal. Foram duas vitórias sobre o Peixe, incluindo uma goleada histórica por 5 a 0, em Campinas. Já o Bugre, vice-líder do turno, terminou o seu grupo na frente de Comercial, Portuguesa e Inter de Limeira. Com isso, o campeão do primeiro turno seria o vencedor do Dérbi.
O jogo de ida entre Ponte e Guarani foi disputado na tarde de um sábado, 1º de agosto, no Brinco de Ouro, onde mais de 20 mil torcedores assistiram ao empate por 1 a 1, com gols de Serginho, para a Macaca, e Jorge Mendonça, de falta, para o Bugre, ambos anotados no primeiro tempo.
A decisão ficou aberta para o duelo de volta, marcado para dali a quatro dias, numa noite de quarta-feira, 5 de agosto, no Majestoso. Sob olhares de cerca de 22 mil espectadores, Osvaldo abriu o placar para a Ponte já na parte final do primeiro tempo, com um chute sensacional por cobertura, de costas, a poucos metros do gol, após ajeitar a bola no peito e girar com maestria. No último minuto da etapa inicial, Ângelo deixou tudo igual para o Guarani, com um chute da entrada da área, de bico, que o goleiro Carlos aceitou.
No início do segundo tempo, Serginho aproveitou falha grotesca do goleiro Birigui, que tentou impedir um escanteio em recuo de bola, para recolocar a Macaca em vantagem. Porém, o Bugre reagiu rápido e buscou novamente o empate, com gol de cabeça de Jorge Mendonça, em lance de escanteio. No entanto, faltando menos de 10 minutos para o fim do tempo regulamentar, Odirlei marcou o gol da emocionante vitória pontepretana por 3 a 2. De canhota, o lateral-esquerdo acerto um chute cruzado no canto direito, após invadir a área e receber assistência magistral de Marco Aurélio.
Pouco antes do relógio marcar 90 minutos, Careca exagerou na reclamação e foi expulso pelo árbitro José de Assis Aragão. Logo após o apito final, os jogadores correram para o vestiário, prevendo possível invasão de campo. Dito e feito. A torcida pontepretana não conteve a emoção e tomou conta do gramado com bandeiras em preto e branco.
No segundo turno, Ponte Preta e Guarani voltaram a se enfrentar, mas empataram em 0 a 0, no dia 27 de setembro, no Brinco de Ouro, repetindo o placar do primeiro encontro naquele mesmo Campeonato Paulista.
Na grande decisão, em dois jogos no Morumbi, no fim de novembro, a Ponte Preta sucumbiu para o São Paulo, com um empate por 1 a 1 e uma derrota por 2 a 0, amargando o terceiro vice-campeonato estadual em um espaço de apenas cinco anos. No entanto, a lembrança do título do primeiro turno em cima do Guarani, em um Dérbi movimentado e fascinante, permanecerá eterna na memória do torcedor pontepretano.
Técnico de primeira viagem
Em 1981, a Ponte Preta era comandada pelo ex-lateral-direito Jair Picerni, que dava os seus primeiros passos como treinador. Jogador de destaque da Macaca entre 1974 e 1979, Picerni havia acabado de pendurar as chuteiras quando assumiu o comando da equipe, em junho de 1980. Ele assumiu o lugar de Zé Duarte, que desceu a avenida para treinar o Guarani, em uma de suas várias idas e vindas pelos clubes de Campinas.
“O técnico era para ter sido o Milton dos Santos, que treinava a equipe juvenil da Ponte. Ele até já tinha feito alguns jogos do profissional quando eu ainda jogava, mas o presidente Lauro Moraes optou por me colocar direto no comando do time principal”, explica Jair Picerni, que não só comandou a Ponte Preta na campanha do vice-campeonato paulista, como também conduziu a equipe ao inédito terceiro lugar no Campeonato Brasileiro de 1981, que permanece até hoje como a melhor colocação do clube no certame nacional.
Carimbando as faixas do Palmeiras
Nesta quinta-feira (5), a Ponte Preta também celebra o aniversário de 70 anos da simbólica vitória por 3 a 1 sobre o Palmeiras, no Majestoso lotado com mais de 20 mil torcedores, no dia 5 de agosto de 1951. Na época, o adversário ostentava a alcunha de “Campeão das Cinco Coroas”. Os três gols pontepretanos foram marcados pelo centroavante Isaldo.
Naquele primeiro encontro entre as equipes na história do Campeonato Paulista, a Macaca ficou frente a frente com um verdadeiro esquadrão alviverde, então campeão da Taça Cidade de São Paulo e do Campeonato Paulista, em 1950, além do Torneio Rio-São Paulo, da Taça Cidade de São Paulo e da Copa Rio, em 1951. As cinco conquistas consecutivas representavam um feito inédito no futebol paulista. No dia 22 de julho, portanto duas semanas antes de visitar Campinas e perder para a Ponte, a equipe da capital paulista havia se sagrado campeã intercontinental sobre a Juventus, da Itália.
Confira abaixo a ficha técnica dos dois jogos históricos que completam aniversário nesta quinta-feira (5):
PONTE PRETA 3 X 2 GUARANI – DÉRBI 145
Ponte Preta: Carlos; Toninho Oliveira, Juninho, Nenê e Odirlei; Zé Mário, Humberto (Marco Aurélio) e Dicá; Osvaldo, Chicão (Jorge Campos) e Serginho. Técnico: Jair Picerni.
Guarani: Birigüi; Chiquinho, Mauro, Edson e Almeida; Jorge Luís, Éderson (Tadeu) e Jorge Mendonça; Lúcio, Careca e Ângelo. Técnico: José Duarte.
Gols: Osvaldo, aos 37′, e Ângelo, aos 45′ do 1º tempo; Serginho, aos 4′, Jorge Mendonça, aos 8′, e Odirlei, aos 37′ do 2º tempo.
Data: 5 de agosto de 1981 (quarta-feira).
Local: Moisés Lucarelli.
Juiz: José de Assis Aragão (SP).
Cartão vermelho: Careca, aos 45′ do 2º tempo.
Público: 22.167 (21.948 pagantes e 219 menores).
Renda: Cr$ 4.247.900,00.
PONTE PRETA 3 X 1 PALMEIRAS
Ponte Preta: Ciasca; Bruninho e Salvador; Manuelito, Raul Dias e Inglês; Isabelino, Lelé, Isaldo, Moacir e Rovério. Técnico: José Agneli.
Palmeiras: Fábio; Salvador e Juvenal; Tulio, Luiz Villa e Dema; Lima, Ponce de León, Liminha, Jair Rosa Pinto e Rodrigues. Técnico: Ventura Cambón.
Gols: Isaldo, aos 1′ e 17′ do 1º tempo, e 3′ do 2º tempo; Liminha, aos 31′ do 2º tempo.
Data: 5 de agosto de 1951 (domingo).
Local: Moisés Lucarelli.
Público: Mais de 20 mil espectadores.
Renda: Cr$ 456.080,00.
Juiz: Gösta Ackeborne (Suécia).