Palco de 1.001 vitórias da Ponte Preta, histórica marca alcançada na semana passada, o estádio Moisés Lucarelli, conhecido carinhosamente como Majestoso, completa 74 anos de inauguração nesta segunda-feira (12), às vésperas de receber a partida que pode estabelecer um feito inédito da equipe dentro de casa neste século.
Se derrotar o Ituano, em duelo que acontece na noite desta terça-feira (13), às 21h30, no Majestoso, a Macaca chegará a sete vitórias consecutivas como mandante, algo que não consegue desde 1998.
Há 24 anos, a equipe alvinegra enfileirou triunfos por 2 a 1 sobre a União Barbarense; 1 a 0 sobre o Noroeste; 2 a 1 sobre o Lousano Paulista; 1 a 0 sobre o XV de Piracicaba; 2 a 1 sobre o América, de São José do Rio Preto; 2 a 1 sobre a União Barbarense, novamente; e 2 a 0 sobre o Noroeste, nesta ordem, entre os dias 25 de março e 24 de maio de 1998. Esses foram os últimos sete jogos em casa da campanha pontepretana no Campeonato Paulista da Série A2.
Logo na sequência, no dia 18 de julho de 1998, a Macaca ainda venceu um amistoso contra o Marítimo, de Portugal, pelo placar de 3 a 0, em jogo marcado pela inauguração de monumento em homenagem ao torcedor pontepretano, construído ao lado da estátua de Moisés Lucarelli, o patrono do estádio, na entrada que dá acesso às arquibancadas.
Apesar dessa grande sequência positiva, jamais igualada de lá pra cá, a Ponte Preta não conseguiu o acesso à elite estadual em 1998, mesmo com jogadores importantes como o volante Mineiro e o centroavante artilheiro Washington, além do atacante Régis Pitbull.
Aquela série de oito vitórias seguidas em casa, sendo sete em jogos oficiais, foi interrompida somente na estreia dentro de casa no Campeonato Brasileiro: empate em 0 a 0 com o Internacional.
Quando o assunto é Campeonato Brasileiro, a Ponte Preta não vence sete partidas seguidas dentro de seu estádio há exatamente 25 anos. Entre setembro e novembro de 1997, a Macaca bateu o Goiatuba por 1 a 0; o XV de Piracicaba, duas vezes em sequência, por 2 a 1 e 1 a 0; o Náutico por 3 a 1; o Gama por 4 a 1; o CRB por 4 a 2; e o Vila Nova por 1 a 0, todos pela Série B.
A equipe alvinegra também conseguiu a oitava vitória consecutiva no Majestoso, ao superar o América-MG por 1 a 0, antes de empatar em 1 a 1 com o Náutico, em confronto direto que selou o acesso à elite nacional.
Desde o jogo inaugural, que terminou com derrota por 3 a 0 para o XV de Piracicaba, no dia 12 de setembro de 1948, a Ponte Preta disputou 1.872 partidas no Majestoso, com 1.001 vitórias, 494 empates e 377 derrotas, o que corresponde a um aproveitamento de 62,2%. Ao todo, foram 3.186 gols marcados (média de 1,7 por partida) e 1783 sofridos (média de 0,95 por jogo).
A série atual de seis vitórias no Moisés Lucarelli começou no dia 20 de julho, com vitória por 1 a 0 sobre o Náutico, e prosseguiu com triunfos por 3 a 0 sobre o Operário; 3 a 1 sobre o Vasco da Gama; 1 a 0 sobre o Guarani, no Dérbi 204, decretando o maior tempo de invencibilidade contra o maior rival em clássicos disputados no Majestoso; 2 a 0 sobre o Bahia, na milésima vitória dentro do estádio, com gols do meia Wallisson e do atacante Lucca; e 1 a 0 sobre o Sport Recife, na última quarta-feira (7). Desde 2015, a Macaca não vencia seis jogos seguidos em casa.
Graças a esses resultados dentro de casa, com apoio fundamental da torcida, a Ponte Preta deixou para trás a briga contra o rebaixamento e precisa de apenas seis pontos nas últimas nove rodadas da Série B para escapar matematicamente da queda. Além disso, a equipe do técnico Hélio dos Anjos ainda sonha com o acesso, pois aparece a seis pontos de distância do Vasco, primeiro time dentro do G4.
Com 39 pontos, a Macaca ocupa a 9ª colocação da Série B, sua segunda melhor posição em todo o campeonato ao término de cada rodada.
A história do Majestoso, construído pelos próprios torcedores
Apesar da inauguração ter sido quase na virada para a década de 50, a história do estádio Moisés Lucarelli começou ainda no fim dos anos 30, quando os amigos pontepretanos Olímpio Dias Porto, José Cantúsio e Moysés Lucarelli se juntaram para uma vaquinha com o objetivo de comprar um terreno para o time do coração.
Com 50 contos de réis, eles adquiriram a antiga chácara Maranhão, no bairro Ponte Preta. Na época, havia apenas uma casinha simples no terreno, e ela ficava exatamente onde foi determinado que seria o centro do campo.
Negócio fechado em abril de 1944, foram necessários quase dois anos com serviços de terraplanagem só para nivelar o terreno, que tinha grandes desníveis e até pequenos córregos transpondo a área. O serviço foi executado com máquinas emprestadas pelo governo do Estado.
Com a terra arrumada, mas sem recursos para começar o sonho, o trio teve a ideia de convocar a nação pontepretana. Surgia, então, a famosa “Campanha do Tijolo”, que movimentou a cidade por quatro anos com doação de material de construção.
A Pedra Fundamental foi lançada em 13 de agosto de 1944. Os engenheiros responsáveis pelo projeto foram Alberto Jordano Ribeiro, Eduardo Badaró e Mário Ferraris.
Durante a semana, caminhões da Companhia Vieira ficavam parados na rua Barão de Jaguara à espera de doações de material. Ao mesmo tempo, eram feitos mutirões aos finais de semana. Torcedores e até jogadores trabalhavam na construção do estádio em uma saga que se tornaria marca registrada do clube.
O apelido “Majestoso” foi dado pelo jornalista Fernando Panattoni, que mantinha a coluna “Campinas Esportiva” no jornal “A Gazeta Esportiva”. A cidade de Campinas possuía apenas 140 mil habitantes na década de 40 e, como o estádio previa capacidade para 35 mil pessoas, Panattoni classificou o empreendimento como algo “majestoso”.
A inauguração oficial do estádio Moisés Lucarelli aconteceu no dia 12 de setembro de 1948, em partida que terminou com vitória do XV de Piracicaba por 3 a 0, pelo Campeonato Paulista. A primeira vitória da Ponte Preta em seu estádio veio no dia 24 de outubro de 1948, e com autoridade: 5 a 1 sobre o Taubaté. Foram três gols de Gaspar, um de Armandinho e outro de Vicente.
Ao ser inaugurado, ainda sem as torres de iluminação e toda a parte frontal, o estádio ostentava a terceira maior capacidade de público do Brasil, perdendo apenas para o Pacaembu, em São Paulo, e o São Januário, no Rio de Janeiro.
O recorde oficial de público do estádio Moisés Lucarelli foi registrado no dia 1º de fevereiro de 1978, quando 37.274 torcedores, dos quais 34.958 pagantes, assistiram à partida entre Ponte Preta e São Paulo, pelo Campeonato Brasileiro, com vitória do time da capital paulista por 3 a 1.
No entanto, é praticamente consenso que o estádio pontepretano nunca recebeu tanta gente quanto no dia 16 de agosto de 1970, apenas cinco dias depois do aniversário de 70 anos do clube. Na ocasião, o Majestoso ficou pequeno para o duelo contra o Santos do Rei Pelé. Dois meses antes, o camisa 10 havia se sagrado tricampeão mundial pela Seleção Brasileira, no México.
“A Macaca disputava a liderança do Campeonato Paulista e cerca de 40 mil pessoas superlotaram o estádio. Havia gente sobre todas as coberturas e até mesmo no gramado. O público não foi divulgado porque as catracas foram arrombadas em meio ao tumulto para acesso ao estádio”, explica o jornalista e escritor pontepretano Stephan Campineiro, no livro “Majestoso 70 – O estádio construído pela torcida que tem um time”, lançado em 2018. O histórico confronto terminou com vitória santista por 1 a 0, com gol do atacante Douglas, após jogada individual de Pelé.