Temperos, ervas medicinais, produtos naturais, além de aromas e sabores de diversas partes do mundo, são encontrados no Mercado Municipal de Campinas, chamado carinhosamente de Mercadão, que completa 114 anos nesta terça-feira (12). O local se tornou ponto de encontro, convivência e cultura do Município.
O Mercadão faz parte do dia a dia dos moradores de Campinas, que acabaram criando uma relação de carinho com o prédio e com os trabalhadores dos boxes.
Mara Bussi é um desses exemplos de amor incondicional. Ela veio de Porto Alegre com a família há 58 anos e logo se encantou pelo Mercadão. “Compro aqui há 25 anos. Quando eu era criança o primeiro casal de passarinho foi comprado aqui. Eu tinha 7 anos. Eu moro muito perto, é super prático, então eu faço tudo aqui. Tem dias que venho aqui três vezes. Tem bancas que eu sou cliente fiel, não gosto de ficar mudando. O Yuri do queijo, por exemplo, eu compro com ele há 25 anos. Eu me dou super bem com o pessoal”, conta.
A cliente aproveita para deixar uma mensagem ao Mercadão. “Eu te amo Mercadão, mas se você conseguir ficar ainda mais bonito eu vou adorar mais ainda. Eu amo comprar aqui, a gente pega um carinho, não só pelas pessoas, mas pelo local também”, completa Mara.
Creusa de Almeida, carioca que vive em Jaguariúna, faz questão de se deslocar de lá para fazer compras no Mercadão há duas décadas. “Aqui tem de tudo. Aqui a gente encontra desde a pimenta até o feijão, o arroz, a carne de sol, o bacalhau, já que está chegando a Semana Santa, além de os produtos para a espiritualidade. Eu sou espiritualista e eu venho fazer compras aqui há 20 anos”, diz.
A moradora em Jaguariúna gosta de tudo o que o Mercadão oferece. “Gosto da arquitetura e porque encontro tudo em um só lugar. O atendimento é excelente, o povo daqui é hospitaleiro e os produtos são mais em conta. Só vou em mercado comum para as coisas diárias”, explica.
“Para os próximos anos desse ponto tão tradicional, acho que poderia ter uma churrascaria, mesmo que fosse pequena. Para sentar e almoçar porque às vezes a compra vai até mais tarde. Tem uns lanchinhos que são gostosos, mas apreciar uma boa carne no Mercadão, tipo uma carne de sol, seria muito bom. Falta só isso eu acho”, sugere Creusa.
Alexandra Pereira da Silva trabalha no Mercadão há 14 anos e nem se imagina mais e outro local. “Diferente de outros lugares, aqui tem muita cultura, pessoas de vários lugares passam por aqui, a gente acaba conhecendo pessoas diferentes, línguas diferentes, povos de vários lugares do mundo, culturas diferentes, então aqui me encanta em tudo. Eu não conhecia muito de temperos, hoje eu conheço muito sobre os temperos, ervas medicinais também. Eu estou aqui há 14 anos e não sei se eu consigo mais ir para outros lugares, trabalhar em outra área, porque a gente acaba se adaptando, gostando do ambiente, de conversar com as pessoas”, afirma.
Alexandra diz que também gosta da arquitetura e das histórias do Mercadão. “Isso para mim é o máximo. Eu comento com as minhas colegas que o prédio é um dos mais antigos de Campinas. Tem coisas muito interessantes. A gente vive aqui e não imagina que passou um rio aqui debaixo, você olha aquelas fotos antigas ali fora também, do começo disso aqui, e é muito bonito ver como tudo se transformou, como as pessoas evoluem com o passar do tempo”, conta.
“Quando eu entrei aqui tinha muita coisa legal, não que hoje não tenha, mas tinha pagode ao vivo aqui dentro. Era muito gostoso. Quem vem para o Mercadão está fugindo de shopping, está fugindo de qualquer outro ambiente. O Mercadão te deixa à vontade para comprar seus produtos, para conhecer pessoas diferentes. Eu queria que voltasse isso”, diz.
Prédio histórico
O prédio que abriga o Mercado Municipal é um dos mais importantes de Campinas, por sua função social e também porque foi projetado pelo paulistano Francisco Ramos de Azevedo, filho de campineiros, e um dos mais importantes arquitetos do final do século 19 e início do século 20.
De acordo com a Prefeitura, antes de se transformar em Mercado Municipal, funcionava como armazém de estocagem de produtos, que eram destinados também para o Porto de Santos. Na plataforma onde hoje funcionam as peixarias ficava a Estação Carlos Botelho, da linha Fulinense, onde o trem que vinha das fazendas da região de Cosmópolis parava com carregamento de madeira, açúcar e café.
Na gestão do prefeito Orosimbo Maia, o prédio foi comprado pela Prefeitura e transformado em Mercado Municipal (inaugurado em 12 de abril de 1908). Foi tombado em 1995 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas (Condepacc). Em 1996, passou por uma reforma que recuperou suas características originais, em estilo mourisco.
Prédio finalmente terá registro
O Mercadão de Campinas, apesar de sua idade e importância, ainda não possui registro. O que impede o recebimento de verbas estaduais e federais para obras, por exemplo. A situação deve mudar em breve, já que, no último dia 24, o juiz Mauro Iuji Fukumoto proferiu sentença relativa ao registro do imóvel onde funciona o Mercado Municipal de Campinas, acatando os argumentos da Prefeitura em uma ação de usucapião da área onde está edificado.
Essa ação teve início há exatos três anos, por meio de um protocolo feito pela Serviços Técnicos Gerais (Setec), à Secretaria de Urbanismo, solicitando providências quanto ao registro do imóvel. Com a decisão judicial, a Prefeitura agora poderá retomar o processo de registro, o que também viabilizará a inclusão do Mercado Municipal para receber recursos da lei Municipal do Potencial Construtivo, entre outros.
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