O mês de novembro de 2023 ficará marcado para sempre na história do Maracanã, um dos maiores templos do futebol mundial. Isso porque, dentro dos próximos 20 dias, o famoso estádio do Rio de Janeiro será palco de dois capítulos históricos envolvendo a grande rivalidade entre Brasil e Argentina.
O primeiro ato acontece neste sábado (4), a partir das 17h, com a realização da grande decisão da Copa Libertadores da América, entre Fluminense e Boca Juniors. O Tricolor Carioca tenta o título inédito, enquanto a equipe de Buenos Aires busca seu sétimo troféu para se igualar ao rival Independiente como maior campeão continental.
A maior rivalidade sul-americana também será colocada à prova no Maracanã no próximo dia 21 (terça-feira), às 21h30, quando as seleções de Brasil e Argentina, atual campeã do mundo, medirão forças em duelo válido pela 5ª rodada das Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo de 2026. Deve ser a última vez que o craque Lionel Messi jogará em solo brasileiro. Aos 36 anos, atuando nos Estados Unidos, ele acabou de ganhar a sua oitava Bola de Ouro.
Dentro do Maracanã, Lionel Messi se sagrou campeão da Copa América de 2021, derrotando justamente o Brasil na grande decisão por 1 a 0, mas também viveu uma decepção, ao amargar o vice-campeonato mundial com a Argentina em 2014, perdendo a decisão para a Alemanha na prorrogação por 1 a 0.
A história de embates entre brasileiros e argentinos no Maracanã vem de longa data. Tudo começou em 1953, apenas três anos após a inauguração do estádio para a Copa do Mundo de 1950, no Brasil, marcada pelo título do Uruguai com vitória na decisão por 2 a 1 de virada sobre os anfitriões, no fatídico jogo conhecido como Maracanaço.
Há 70 anos, houve a realização do Torneio Quadrangular Internacional do Rio de Janeiro, de caráter amistoso, que reuniu o então campeão carioca Flamengo e o vice Vasco, além do campeão argentino Racing e o Boca Juniors como convidados. A competição foi realizada entre os dias 24 de janeiro e 3 de fevereiro de 1953. Todos os seis jogos foram disputados no Maracanã.
O que muita gente não sabe é que aquele campeonato internacional disputado no Maracanã também contou com a participação de uma equipe do futebol campineiro, o Esporte Clube Mogiana, que pertencia à antiga Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, à época em declínio. O Mogiana pisou no maior templo do futebol brasileiro no dia 1° de fevereiro de 1953, quando sua equipe juvenil disputou um jogo preliminar contra o Vasco da Gama. Na sequência, com times principais em campo, o Vasco empatou em 3 a 3 com o Racing, com três gols do lendário atacante Ademir de Menezes, maior artilheiro da história da Seleção Brasileira numa única Copa do Mundo, com nove gols marcados no Mundial de 1950, no Brasil.
“No Rio de Janeiro, os jornalistas da época pouco falaram da partida, mas aqui em Campinas foi grande o destaque, visto que o Mogianinha foi um celeiro de craques e exportou vários deles para os clubes cariocas, em especial ao Fluminense”, conta o historiador Celso Franco de Oliveira Filho, autor do livro “Fora dos Trilhos: A História do EC Mogiana”, lançado em 2008.

“A crise financeira toma conta da empresa ferroviária, seus funcionários estão sem receber salários, a situação é de caos, com o clube paralisado em todas as suas atividades esportivas. Porém, com iniciativa e determinação, o Juvenil Mogiana foi, a convite, representar Campinas e o futebol de São Paulo na Capital Federal (Rio de Janeiro), partindo de trem às 12 horas do dia 28/01/1953, sendo que no dia 01/02 teve a honra de ser o 1º clube de futebol campineiro e do interior do estado de São Paulo a jogar no maior estádio do mundo, ou seja, no Maracanã”, revela o historiador Celso Franco de Oliveira Filho, em seu livro “Fora dos Trilhos: A História do EC Mogiana”, lançado em 2008.
“Atuando na preliminar de Vasco da Gama x Racing Club da Argentina, os valentes juvenis ferroviários, comandados pelo técnico Sérgio Langone, jogaram contra os juvenis cruzmaltinos, perdendo por 3 x 1. O calor intenso, de 39 a 42 graus, foi determinante para a vitória da equipe guanabarina, acostumada a essas temperaturas. Ficou a primazia, gravada na história do EC Mogiana e nos arquivos do Maracanã, além do justo orgulho daqueles meninos que participaram da delegação ferroviária, que deles ninguém poderá tirar. Através do Sr. Luiz Vinhais, cada jogador mogiano recebeu uma flâmula e uma artística medalha ofertada somente a seleções internacionais que visitavam o Rio, o que sensibilizou profundamente a rapaziada tricolor”, acrescenta Celso.
Na época, o Vasco contava com o goleiro campineiro Barbosa, o mesmo que carregava a culpa pela falha no gol de Ghiggia no Maracanaço, e com o atacante Sabará, revelado na Ponte Preta, autor de dois gols na goleada por 5 a 2 sobre o Flamengo, em clássico disputado na última rodada, que garantiu ao cruzmaltino o título invicto do Torneio Quadrangular Internacional do Rio de Janeiro. O Gigante da Colina havia empatado por 4 a 4 com o Boca Juniors, na estreia, e por 3 a 3 com o Racing, na segunda rodada. Ademir de Menezes terminou como o artilheiro da competição, com sete gols.
Mais sobre o Mogiana
Fundado no dia 7 de junho de 1933, por iniciativa de funcionários da antiga Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, o Esporte Clube Mogiana vestia as mesmas cores da ferrovia: azul, vermelho e amarelo.
A equipe, que desapareceu nos anos 70, viveu o seu auge na década de 40, quando não apenas batia de frente com os rivais locais Guarani e Ponte Preta, mas também dava trabalho para grandes clubes da capital paulista e até de outros estados, chegando inclusive a derrotar o Fluminense por 2 a 1, em um amistoso disputado em 1947, em Campinas.
Essa é considerada a maior vitória da história do Mogiana, que na época estreava no profissionalismo desbancando nada menos que o campeão carioca de 1946.
O Tricolor da Laranjeiras saiu na frente com um gol do grande atacante Rodrigues, que depois disputaria as Copas do Mundo de 1950 e 1954, mas o Tricolor Ferroviário virou com dois gols de Pedrinho.
O jogo aconteceu no dia 26 de abril de 1947, no estádio Doutor Horácio Antônio da Costa, onde o Mogiana mandava suas partidas, que a partir dos anos 70 ficaria conhecido como Cerecamp. Inaugurado no dia 14 de julho de 1940, no bairro Guanabara, em Campinas, o local despontava na época como o estádio mais moderno do interior de São Paulo e um dos mais modernos do Brasil.