Reginaldo Pupo
Especial para o Hora Campinas
Igrejas, mosteiros, praças, museus, cachoeiras, artesanatos e até produtores artesanais de queijos, vinhos e doces são alguns dos muitos atrativos da pacata e acolhedora cidade de Monte Sião, localizada no Sul de Minas Gerais, na divisa com a cidade paulista de Águas de Lindóia. A cidade está a 196km de São Paulo.
Esses pontos turísticos fogem do seu tradicional roteiro de malhas e tricô, que fazem a fama do destino desde 1973, quando o município recebeu, oficialmente, o título de Capital Nacional da Moda Tricot.
Um dos lugares mais visitados é a Praça Prefeito Mário Zucato. O espaço é tomado por diversas espécies de árvores e plantas que foram primorosamente podadas, dando formas a desenhos de bichos como elefantes, aves, coelhos e até dinossauros. Há até filas de turistas para fazer fotos em meio a esta verdadeira obra de arte da jardinagem.
Ainda na praça, turistas moderninhos contrastam com alguns de seus moradores mais antigos, que ainda mantêm as características típicas do interior, como o uso do chapéu de palha. Hospitaleiros e bons de “prosa”, alguns deles mascam fumo enquanto contam seus “causos” e depois vão embora a cavalo pelas ruas movimentadas do centro.
Na praça ainda é possível colocar as crianças para pilotar carrinhos de madeira, para tomar sorvete à moda antiga, naquelas máquinas que transformam líquidos coloridos na guloseima. Nada de carros barulhentos ou rebaixados. Muitos jovens saem com as namoradas pilotando charretes.
E se a ordem é voltar ao tempo, a alguns quarteirões dali, programe uma visita ao Museu Histórico e Geográfico de Monte Sião, que exibe a cultura local e as tradições por meio de objetos e utensílios de épocas remotas. Entre os destaques está uma réplica de uma casa feita do mesmo material usado antigamente, técnica de pau a pique, e bonecos de cera representando cenas do cotidiano dos antepassados, além de objetos que eram utilizados para o trabalho.
Conta também com uma réplica de cavernas de Minas Gerais e uma gruta artificial com representação realista, única construída em um museu brasileiro. Barbearias, farmácias, sapatarias e até um consultório dentário móvel, de 1924, são reproduzidos fielmente com objetos originais de suas respectivas épocas. A primeira máquina de fazer tricô de Monte Sião também está exposta.
Os apaixonados por automobilismo vão vibrar ao se deparar com um caminhão Chevrolet de 1927, de quatro cilindros e 40 cavalos, montado nos Estados Unidos.
O Mirante da Santa é um ótimo ponto turístico de Monte Sião para os visitantes do Sul de Minas Gerais. É um lugar que inspira paz, tranquilidade, religiosidade e onde é possível desfrutar de uma linda paisagem e está localizado a cerca e quatro quilômetros do centro. O lugar é um importante atrativo para os devotos da santa e montessionenses e faz parte da história do município.
Centro de Informações
Localizado na Praça Prefeito Mário Zucato, o receptivo turístico de Monte Sião acabou se tornando um dos atrativos mais visitados (e fotografados) do lugar, sendo o centro das atenções, pois funciona em um micro-ônibus totalmente “envelopado” e decorado com tricô. Algumas peças do veículo, como os parafusos da roda, ganharam decoração feita em peças de porcelana.
O receptivo funciona desde 2019 na entrada da praça e a cada ano o envelopamento muda para dar lugar a outro tema escolhido pelos idealizadores do projeto.
Em 2021, por exemplo, o tema foi “Tudo o que é feito com amor floresce”. Passam pelo receptivo, em média, 1,5 mil turistas apenas aos sábados, segundo a coordenadora Marivani Ruiz.
No interior do ônibus-receptivo, além de estrutura como TV com vídeos institucionais, folheteria e até cafeteria, funciona uma espécie de empório onde são expostos produtos artesanais produzidos na cidade ou região, como cafés, cachaças, doces, porcelanas, vinhos, roupas e objetos de decoração. No corredor, totens mostram por meio de fotos os atrativos turísticos.
Fé e religiosidade
A poucos passos dali, apenas atravessando a rua, está o Santuário de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa. O lugar é repleto de detalhes e, por esse motivo, vale a pena ficar um tempinho ali observando cada um deles.
Construída em 1849, é a primeira igreja dedicada a Medalha Milagrosa do Brasil. Pesquisas realizadas em documentos arquivados na Cúria de São Paulo e Pouso Alegre (MG), em arquivos paroquiais e particulares de Ouro Fino (MG) e Monte Sião, comprovam esse pioneirismo religioso.
A igreja e a cidade integram o Caminho da Fé, uma rota peregrina que liga as cidades de Águas da Prata (SP) a Aparecida (SP), esta última distante 282km de Monte Sião. O trajeto mais longo tem 742km saindo do município de Borborema (MG) e o mais curto, partindo de Paraisópolis (MG), tem 134km.
Outra igreja que merece ser visitada é a do Rosário, no centro. Embora tenha sido inaugurada oficialmente em 1955, ela já existia como uma capela de pau a pique desde o século 19. Ganhou esse nome por ficar em um local conhecido como Largo do Rosário.
Em 1953 foi demolida e doada à prefeitura de Monte Sião para ser reconstruída dois anos depois com dinheiro arrecadado em uma quermesse na cidade. Ao redor da igreja foi construída uma praça que também levou o nome de Rosário. Nela, produtores de tricô artesanais expõem seus trabalhos em barraquinhas para a venda e atraem clientes, na maioria turistas, interessados em obter peças feitas caprichosamente à mão.
Por dentro do processo de produção das porcelanas
Um ícone de Monte Sião, as porcelanas que levam o nome da cidade são objetos de desejo de muitos turistas por causa das formas, da qualidade e, principalmente, da pintura feita à mão, que remetem às porcelanas portuguesas coloniais fabricadas desde o século passado em países europeus.
Os cerca de 200 tipos de porcelanas produzidos artesanalmente na fábrica, que existe desde 1959 na cidade, são vendidos para todo o país por meio de e-commerce. É a única porcelana patenteada produzida artesanalmente nas cores azul e branca do país.
O processo de produção começa com a junção dos quatro minérios necessários para a formação da massa que, ao final, se transformará na porcelana: caulim, feldspato, argila e quartzo. Após a formação de uma matriz, que posteriormente gerará cópias dos produtos a serem produzidos, após 60 horas girando em um gigantesco tambor, a massa é estocada para depois ser reidratada.
Após esse processo, são feitos os moldes de pratos, xícaras, jarras, pratos, tigelas, travessas, floreiras, vasos, entre outras centenas de produtos, e objetos de decoração. Depois de tudo ir ao forno a 1.300ºC, queimando por 40 horas, após a utilização de 70m² de lenha, os produtos passam a ganhar sua principal característica e identidade visual, que é a pintura, feita de tinta azul de cobalto.
Todas as porcelanas recebem uma pintura de uma margarida com oito pétalas, que depois passam por um banho de esmalte para ganhar brilho. São cerca de 25 mil peças produzidas mensalmente por 60 funcionários.