Um recente levantamento divulgado pelo Observatório Nacional dos Direitos Humanos (ObservaDH), revela que em 2023 existiam 4.237 pessoas vivendo em situação de rua nas 20 cidades que integram a Região Metropolitana de Campinas (RMC). Os dados mostram que a população é majoritariamente masculina, tem entre 30 e 49 anos, e dentre os principais motivos que os levaram para as ruas estão os problemas familiares.
Lançado em dezembro pelo Ministério dos Direito Humanos e da Cidadania, os números do observatório foram organizados com base no Cadastro Único Nacional (de julho de 2023), sendo um registro que permite ao governo saber quem são e como vivem as famílias de baixa renda no Brasil.
O aumento dessa população é notório principalmente nas grandes cidades. Da região metropolitana, Campinas aparece com 2.324 pessoas vivendo nas ruas, e está entre os 10 municípios brasileiros com maior número de pessoas nessas condições, segundo o estudo. No ranking das 10 cidades com maior concentração, São Paulo é a primeira, com 54.812.
Na região, Indaiatuba tinha 379 pessoas vivendo nas ruas até julho de 2023, seguida por Hortolândia, Sumaré e Vinhedo (veja quadro abaixo). O balanço mostra, também, que em um ano houve aumento de 380 moradores vivendo nessas condições na RMC. Somente três cidades da região não tiveram aumento de população de rua durante o ano passado: Morungaba, Nova Odessa e Cosmópolis.
O crescimento dos desempregados relacionado a pandemia de Covid-19, o alcoolismo, além do já citado problema familiar, foram os principais fatores reportados pela população de rua da região.
Com relação ao tempo em situação de rua, a maior parte das pessoas cadastradas (60%) encontrava-se nessa situação há até 2 anos. Já uma parcela bem menor (12%) caracterizava-se por viver em situação de rua há mais de 10 anos.
O levantamento também revela que a quantidade de pessoas sem residência formal no Brasil passou de 116.799 em 2018 para 221.113 em julho do ano passado. A maior parte dessa população informou que não vivia com suas famílias na rua e quase nunca tinha contato com parentes fora da condição de rua.
Divergência de dados
Em julho de 2021, a Prefeitura de Campinas realizou um ‘censo municipal’ para identificar o número de moradores em situação de rua do município. Na ocasião foram identificadas 932 pessoas vivendo nessas condições, e a Administração afirma desconhecer a metodologia empregada no levantamento do ObservaDH.
Uma das explicações para uma diferença de mais de 1,3 mil moradores de uma pesquisa para outra, pode estar relacionada à característica migratória dos moradores nessa situação de rua em Campinas. Com isso, muitas pessoas que estão no Cadastro Único podem ter deixado o município e não terem atualizado os registros, cuja validade é de dois anos.
No entanto, é notória a presença cada vez maior de pessoas vivendo nas ruas da região central, principalmente.
O município oferece 16 programas para atender a essa parcela da população. São eles: SOS Rua, Operação Inverno, Mão Amiga, Bagageiro Municipal, Operação “Amigos no trecho”, Distribuição de Refeições, Recâmbio de Migrantes, Centros POP Sares, Casas de Passagem, Abrigos e Albergues, Consultório na Rua, Programa Recomeço, Ações conjuntas SOS Rua – Consultório de Rua, Combate ao Trabalho Infantil (Movimento Vida Melhor – MVM), Casa da Gestante e Caminhos para o Futuro.
Cozinha Solidária
Em dois anos e meio de existência, a Cozinha Solidária São Marcos, no periférico Jardim São Marcos, registrou um aumento no atendimento de moradores em situação de rua. No auge da pandemia, o projeto chegou a distribuir cerca de 700 refeições diariamente.
“Foi alarmante a quantidade de pessoas em situação de vulnerabilidade durante a pandemia. Muitas delas vivendo nas ruas do bairro”, relembra Marcia Castagna Molina, coordenadora do Núcleo de Economia de Francisco e Clara, da Arquidiocese de Campinas.
Na cozinha existem cinco cozinheiras e cerca de 37 voluntários que se rodiziam para ajudar a fazer as refeições, e o projeto funciona através de doações e bazares.
Atualmente estão sendo distribuídas aproximadamente 500 refeições por dia; um reflexo da gradual melhora na situação econômica, acredita Márcia.
“Eu avalio uma assistência deficitária do poder público em relação a esses moradores em situação de rua que vivem nos bairros. No Centro tem opções de restaurantes populares, ou algum acesso a alimentação, mas no bairro a situação é mais difícil”.
População de rua na Região Metropolitana de Campinas (RMC)
♦Americana – 167
♦Artur Nogueira – 16
♦Campinas – 2324
♦Cosmópolis – 21
♦Engenheiro Coelho – 2
♦Holambra – 13
♦Hortolândia – 207
♦Indaiatuba – 379
♦Itatiba – 159
♦Jaguariúna – 39
♦Monte Mor – 25
♦Morungaba – 3
♦Nova Odessa – 93
♦Paulínia – 168
♦Pedreira – 68
♦Santa Bárbara d’Oeste – 61
♦Santo Antônio de Posse – 13
♦Sumaré – 176
♦Valinhos – 131
♦Vinhedo – 172
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