Dados do Observatório de Segurança e Saúde do Trabalho indicam o crescimento do número de acidentes e de mortes no trabalho em Campinas. O crescimento observado foi de 17,7%, totalizando 4.539 acidentes registrados em 2021. O número de óbitos decorrentes do trabalho também aumentou 42,8% em relação a 2020, com 20 acidentes fatais. O município identificou um gasto previdenciário com auxílios-doença de R$ 75, 8 milhões, e R$ 356,5 milhões com aposentadorias por invalidez.
Segundo o Observatório, desenvolvido e mantido pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) em cooperação com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), nos últimos dez anos morreram 22.954 pessoas em decorrência de acidentes de trabalho no Brasil.
Entre 2012 e 2021, foram registradas em todo o país 6,2 milhões de Comunicações de Acidentes de Trabalho (CATs) e o INSS concedeu 2,5 milhões de benefícios previdenciários acidentários, incluindo auxílios-doença, aposentadorias por invalidez, pensões por morte e auxílios-acidente. No mesmo período, o gasto previdenciário ultrapassou os R$ 120 bilhões somente com despesas acidentárias.
O Observatório mostra, também, que nesses dez anos foram perdidos, de forma acumulada, cerca de 469 milhões de dias de trabalho. Calculado com a soma de todo o tempo individual em que os afastados não puderam trabalhar, o número é uma das formas de medir, por aproximação, os prejuízos de produtividade para a economia.
Neste dia 28 de abril, são lembrados os trabalhadores vitimados por acidentes de trabalho e doenças ocupacionais, na data instituída pela OIT como o “Dia Mundial em Homenagem às Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho”. Neste mesmo dia, em 1969, 78 trabalhadores morreram na explosão de uma mina no estado da Virgínia, nos Estados Unidos.
“A data é relevante para lembrar a sociedade da importância de uma cultura de prevenção de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho. Vemos a saúde dos trabalhadores se deteriorando, ocasionando doenças laborais, e a ânsia por desempenho e rápida entrega, que resulta em mais acidentes. As ocorrências vêm crescendo de forma preocupante, quase atingindo os níveis anteriores à pandemia”, observa o coordenador regional da Coordenadoria Nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho (CODEMAT) na 15ª Região, procurador Silvio Beltramelli Neto.
Interior de São Paulo
Nas principais cidades do interior de São Paulo foi possível observar um crescimento no número de emissões de CATs, entre os anos de 2020 e 2021, de acordo com dados do Observatório.
Além de Campinas, em Sorocaba, o aumento no número de CATs emitidas em 2021 foi 33,3% maior do que o identificado em 2020, com um total de 3.103 acidentes. A cidade de Ribeirão Preto também mostrou alta de 31,3%, registrando 3.831 ocorrências, além de um aumento de 160% no número de óbitos por acidente de trabalho (total de 13 em 2021 e 5 em 2020).
Outros municípios do interior paulista registraram aumento no número de ocorrências de acidentes de trabalho, como Araraquara (13,6%), Bauru (16,6%), Presidente Prudente (25,2%) e São José dos Campos (17%). Em Araraquara, o número de óbitos relacionados ao trabalho atingiu o mesmo patamar pré-pandemia, com o registro de 6 mortes (500% de aumento em relação a 2020, que teve apenas um registro).
Segmentos que mais registram CAT
As atividades de atendimento hospitalar foram as que mais registraram a emissão de CATs em 2021, segundo o Observatório. Ela está no topo do ranking dos setores que mais adoecem e acidentam nas cidades de Araçatuba (15%), Campinas (9%), Presidente Prudente (18%), Ribeirão Preto (22%), São José do Rio Preto (25%), São José dos Campos (10%) e Sorocaba (8%).
Em âmbito nacional, se considerado o conjunto de ocupações e a totalidade de comunicações de acidentes de trabalho, os profissionais do setor de atendimento hospitalar continuam a ter a maior quantidade de notificações em números absolutos e percentuais no biênio 2020-2021.
Com a pandemia, técnicos de enfermagem não apenas sofreram a maior quantidade de acidentes notificados em relação a outras ocupações, mas passaram de 6% total no biênio 2018-2019 (59.094 CATs) para 9% do total (72.326 CATs) no biênio 2020-2021, um aumento de 22%.
Outros segmentos, como o de supermercados e hipermercados, administração pública em geral e de restaurantes e estabelecimentos de serviços de alimentação e bebidas figuram entre aqueles que registram maiores ocorrências de acidentes e doenças ocupacionais entre os municípios do interior paulista.
“O setor hospitalar foi muito acionado nos último dois anos, em decorrência da pandemia e do grande fluxo de atendimentos decorrentes de questões envolvendo a saúde pública. Podemos afirmar que é um dos que mais notificam a Previdência, por meio da emissão de CAT. Contudo, é importante pontuar que outros segmentos da economia também registram acidentes, mas nem sempre notificam as ocorrências. A subnotificação de acidentes e doenças ocupacionais é uma realidade no país, e vem sendo combatida pelos órgãos de proteção”, afirma Beltramelli Neto.