Temos observado uma crescente preocupação, que tem redundado em ações visando erradicar as inúmeras formas de discriminações injustas no nosso País e no mundo. Trata-se de um enorme avanço na busca por justiça nas relações sociais, que merece ser reconhecido e aprimorado constantemente. Porém, convém analisarmos os métodos que se tem empregado para isso, sob pena de atuarmos apenas externamente, sem ir à raiz do problema. O primeiro passo para a solução de qualquer problema é reconhecer que ele existe. Atualmente, quando vemos políticas públicas, campanhas ou mesmo decisões dos Tribunais visando erradicar as discriminações injustas, por vezes nos ocorre pensar que há uma dose de exagero nisso. “Aqui não há discriminação racial”, talvez nos ocorra pensar, “brancos, negros e pessoas de qualquer cor ou raça sempre convivemos pacificamente”. De fato, não há entre nós uma segregação aberta e acintosa, o que não significa que não tenha existido – e continue a existir – de maneira velada e sutil.
Um exemplo disso é o que motiva o Procon de São Paulo a lançar uma campanha contra a discriminação nas relações de consumo. Há aqui um racismo dissimulado, que se manifesta na hostilidade das ações dos seguranças ou ainda no descaso ou recusa em atender um cliente, por exemplo. E não podemos negar que isso ocorra. Também é muito comum, noutra linha, pessoas se posicionarem publicamente a favor dos homossexuais, porque isso é politicamente correto, porém, não resistem às piadinhas maldosas feitas pelas costas e na surdina.
Mas, se por um lado reconhecer a existência do problema é fundamental, por outro, é insuficiente. São necessárias ações eficazes para combatê-lo.
Não basta que o STF reconheça ser imprescritível o crime de injúria racial, que o Procon crie um canal de denúncias ou que as redes sociais bloqueiem usuários que utilizem expressões consideradas discriminatórias por seus robôs. De fato, tais ações podem criar um alerta a todos: discriminar injustamente é ilegal e poderemos ser punidos se o fizermos.
Acontece que isso é insuficiente. Muitos, que talvez não reconheçam que têm sentimentos discriminatórios em seu coração, pensarão que tudo isso é um exagero. E talvez tenham até certa razão em pensar assim. Com efeito, a mensagem que se transmite com isso é, de certo modo: “não use tal palavra, porque é discriminação”, “não diga isso, se não você é homofóbico”, “não faça aquilo, se não pode ser processado” etc.
Com isso, não se vai a fundo, na raiz mesma do problema. É que não estamos ainda convencidos da imensa dignidade de todo ser humano. Cada mulher e cada homem que povoam o planeta são filhos de Deus e, portanto, merecedores de um respeito incondicional. Negros, brancos, amarelos, mulheres, homens, adultos, idosos, crianças, homossexuais e heterossexuais são, antes e acima de qualquer coisa, pessoas amadas e queridas pelo Criador.
Se soubermos fomentar esse olhar para o próximo em nós mesmos e, a partir daí, transmitirmos isso aos nossos filhos, netos, alunos, colegas e amigos, não será necessário tantos “disque-denúncia” ou ameaças de punição.
Aprenderemos a linguagem do AMOR que joga fora o temor. Com efeito, o que cada um espera do próximo nas nossas relações em sociedade é o respeito por sermos quem somos, não uma atitude externa fingida ou simplesmente imposta pelo politicamente correto.
Fábio Henrique Prado de Toledo, casado com a Andréa Toledo, pai de 11 filhos e avô de 2 netas. Moderador em cursos de orientação familiar do Instituto Brasileiro da Família – IBF. Especialista em Matrimônio e Educação Familiar pela Universitat Internacional de Catalunya – UIC, é juiz de Direito em Campinas.
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