Ex-integrante dos Ramones, uma das mais importantes e influentes bandas de punk rock de todos os tempos, o baterista Marky Ramone se apresenta em São Paulo neste domingo (15), encerrando uma turnê de cinco shows em quatro cidades brasileiras. As outras paradas foram em Porto Alegre, Curitiba e Londrina. Hoje, a performance do grupo Marky Ramone’s Blitzkrieg acontece no Carioca Club, no bairro de Pinheiros, na capital paulista.
Velho conhecido do público brasileiro, com dezenas de shows realizados no país desde a década de 90, período em que ainda excursionava com os Ramones, Marky Ramone já tocou duas vezes em Campinas ao longo de sua carreira. A primeira delas aconteceu no dia 19 de setembro de 1999, apenas três anos após o fim dos Ramones.
Na ocasião, o baterista se apresentou junto com a sua então banda The Intruders no antigo bar Ozz, anteriormente chamado Tribo Urbana, que funcionava na Rua das Hortências, número 44, no bairro Chácara Primavera. O evento atraiu cerca de 450 pessoas, o maior público da história da casa inspirada no CBGB, berço do punk rock em Nova York, nos Estados Unidos.
Já a segunda e última apresentação em solo campineiro ocorreu no dia 11 de agosto de 2006, quando o astro da bateria dividiu palco com a banda gaúcha Tequila Baby, em um festival dedicado aos Ramones, que reuniu aproximadamente duas mil pessoas no ginásio do Tênis Clube, em sua sede social no bairro Cambuí.
Esse show ficou marcado por um incidente envolvendo um fã campineiro que invadiu o palco pela parte de trás e tentou agarrar o baterista, atrapalhando-o durante a execução de uma das primeiras músicas do set. Irritado com a atitude, Marky se levantou do banco, perdeu as estribeiras e começou a disparar baquetas contra o inconveniente rapaz, que precisou se esquivar do ataque de seu ídolo para não voltar para casa cheio de hematomas.
Atualmente com 71 anos, o baterista Marky Ramone integrou os Ramones entre 1978 e 1996, com um um pequeno hiato de quatro anos entre 1983 e 1987, devido a problemas relacionados ao alcoolismo. Único membro ainda vivo da formação que consagrou a banda nos anos 70, o astro da bateria segue carregando o legado dos Ramones pelos quatro cantos do mundo.
“Marky Ramone é bom de briga. Cinquentão, arremessou uma baqueta na direção de um fã importuno que insistia em perturbá-lo logo no início de sua apresentação. E não só: saltou da bateria e chamou o pentelho para a briga – que felizmente não se consumou. De qualquer forma, melhor não mexer com alguém que, durante 15 anos, integrou os Ramones, banda nova-iorquina que se alçou ao status de mito por popularizar o punk rock e que, apesar da morte da maioria de seus integrantes [Joey Ramone, Dee Dee Ramone e Johnny Ramone], parece continuar existindo. Bem, ainda existe, se levado em conta o surgimento de novas gerações de fãs e de bandas inspiradas na sonoridade simples e terra-a-terra do extinto grupo (1976-1996)”, destacou o jornal Correio Popular, em matéria do repórter Rodrigo de Moraes, publicada no dia 14 de agosto de 2006.
“O momento mais esperado da noite foi anunciado com trilha sonora climática, gelo seco e jogo de luzes. À 1h30, Marky Ramone surgiu no palco, sob uivos da platéia. ‘Vamos tocar umas músicas para vocês. Divirtam-se e ‘Hey Ho, Let’s Go!’, disse. Acomodou-se na bateria (que tem seu nome inscrito no bumbo), fez um breve teste e deu início à avalanche de hits, iniciada com “Rockaway Beach” e “Teenage Lobotomy”, brevemente interrompida pelo pequeno incidente com o fã mala. Na sequência, Marky e Tequila Baby emendaram hits como ‘Sheena Is A Punk Rocker’, ‘Pet Sematary’, ‘The KKK Took My Baby Away’, ‘Beat On The Brat’, ‘I Wanna Be Sedated’ e ‘Cretin Hop’ (durante a qual subiu ao palco alguém fantasiado como o Pinhead, “mascote” dos Ramones). No bis, Marky voltou para agradecer o público e se despediu com ‘Rock ‘n’ Roll High School'”, relatou o Correio Popular.
O festival, que levou o nome de Ramones Fest, também contou com apresentações de outras duas bandas de punk rock: os norte-americanos do The Queers, que abriram o evento, e os campineiros do Muzzarelas, que fecharam a noite – em 1999, eles haviam aberto para Marky Ramone and The Intruders, no primeiro show do lendário baterista em Campinas.
“Já eram três da manhã, e metade dos cerca de dois mil presentes já haviam debandado quando os Muzzarelas entraram, já com elevado nível alcoólico, para encerrar o festival. Independente disso, o que mostraram os confirma como uma das melhores bandas da cena punk brasileira: um som coeso, pesado, ensurdecedor e com letras impagáveis. No repertório, tirado de seus quatro discos, estavam músicas como ‘Seven O’Clock’, ‘It’s Hard To Be A Viking’ e ‘Bebe, Desgraçado!’. Uma noite cujas lembranças vão perdurar. Certamente bem mais que o insistente zunido nos ouvidos da platéia”, finalizou a matéria do Correio Popular.
As duas históricas passagens do baterista Marky Ramone pela cidade de Campinas, separadas por um intervalo de sete anos, tiveram em comum o envolvimento do músico e produtor cultural campineiro Daniel Pacetta Giometti, conhecido no meio artístico como Daniel Etê. Fiel devoto dos Ramones, ele tocou em ambas as ocasiões como baixista dos Muzzarelas, tendo sido o responsável por trazer o ídolo pela primeira vez a Campinas.
“Foram quatro dias de divulgação insana, que na época consistia em colar pôsteres em todos os postes, muros, lojas de disco e de skate, botecos, autolanches, escolas, festas e faculdades que estivessem ao nosso alcance”, lembra Daniel Etê, sobre os tempos pré-redes sociais.
“Recebi um telefonema de um amigo produtor me contando que o show que ele faria do Marky Ramone and The Intruders havia sido cancelado numa cidade perto de Campinas, mas ele ainda tinha a data com a banda. Só tinha um problema: ele me ligou numa terça-feira à noite e o show teria que ser no domingo. Mesmo assim, a proposta era irrecusável, pois era o baterista da minha banda preferida vindo tocar no Ozz, casa onde eu cuidava da produção e programação, junto com o Fernando Petermann e o Tatu Albertini”, lembra Daniel Etê, em entrevista exclusiva ao Hora Campinas.
“Domingo chegou e o Marky Ramone também. Casa lotada, público selvagem e sonho realizado. A barulheira começou com show de abertura dos Muzzarelas, banda formada por fanáticos pelos Ramones, na qual toquei por mais de duas décadas e meia. Mas vamos lá para a melhor parte, o show do Marky. O que presenciamos ali foi impressionante de um batera dos anos 70, criado na base de Beatles e The Who, que com 17 anos já destruía nas baquetas do Dust, uma das primeiras bandas de hard rock protometal dos Estados Unidos”, aponta.
“O show foi baseado na carreira solo dele na época, que já contava com dois álbuns bem legais. A banda era incrivelmente precisa e energética, o suor e a cerveja escorriam por todo o local, o público já era insano e ficava mais frenético ainda quando a banda tocava algumas canções dos Ramones. Nem imaginava a surpresa que viria quando, na última música, o vocalista Ben [Trokan] foi para a bateria e me chamou para tocar guitarra em ‘Blitzkrieg Bop’, enquanto o Marky aproveitava o caos geral para se esquentar entre seus seguidores e depois ir embora para seu hotel”, conclui Daniel.
No feriado da última quinta-feira (12), Daniel Etê marcou presença em um show secreto de Marky Ramone e sua banda Blitzkrieg no bar e restaurante Iglesia La Borratxeria, em São Paulo. O evento fechado, que marcou a celebração dos 50 anos do CBGB, contou com a presença de músicos da cena roqueira brasileira como João Gordo, Kiko Zambianchi, Clemente Nascimento, Supla, Jão e Robério Santana, entre outras personalidades e fãs.