RESUMO: “Você tem que vencer, você tem que progredir”. Evoluir economicamente é a lei do nosso século. Os que têm voz são os bajulados CEOS das companhias, aqueles que “deram certo”. A mídia e os agora chamados “digital influencers” só fazem ecoar esse clichê. Mas a realidade é bem outra.
Como disse a Ministra Edilene Lôbo, do TSE: “Eu conheci muita gente trabalhadora e esforçada que morreu tão pobre como começou, que morreu tão explorada como começou. A gente também precisa combater esse discurso meritocrático.”
Cara leitora, caro leitor, a cantora Mariah Carey, em uma entrevista para uma revista, declarou que “fomos socializados para acreditar que a pobreza é um fracasso pessoal, e não dos nossos sistemas”. É verdade, Mariah, além de uma grande cantora, sua frase pode ficar no hall dos grandes críticos do mundo moderno.
Já faz algum tempo que temos sido bombardeados e catequisados com a ideologia do neoliberalismo: que o sucesso vem pelo esforço, e que o fracasso pela preguiça.
“Você tem que vencer, você tem que progredir”, e tudo mais. Evoluir economicamente é a lei do nosso século. Os que têm voz são os bajulados CEOS das companhias, aqueles que “deram certo”. A mídia e os agora chamados “digital influencers” só fazem ecoar esse clichê.
Continuando a dar voz contra essa falácia, Edilene Lôbo, a recém-empossada Ministra do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), uma mulher (sempre elas), em uma entrevista ao UOL, declarou: “Não foi fácil, e eu sei que continua não sendo fácil para muitas pessoas como eu. Por isso que quando eu ouço alguém dizer que basta você se esforçar para conseguir algo, eu digo que isso é um absurdo. Eu conheci muita gente trabalhadora e esforçada que morreu tão pobre como começou, que morreu tão explorada como começou. A gente também precisa combater esse discurso meritocrático. O Brasil ainda é uma sociedade excludente que não trata bem a juventude negra, as mulheres negras, sua diversidade.” Lúcidas palavras, Ministra.
Na mesma entrevista, ela, que é uma especialista no combate às Fake News, assim as descreve: “Fake news não é a simples difusão equivocada da desinformação, que muitas vezes acontece até sem consciência. Fake news é um conjunto de ações que envolvem a consciência da falsidade daquela notícia que é usada para causar dano e obter vantagem…”
Ou seja, não devemos tratar essa desinformação como vinda de pessoas inocentes, mas sim, considerá-las como um conjunto de ações cruéis e combatê-las com rigor.
A política econômica do neoliberalismo usa constantemente deste expediente falso para continuar disseminando sua ideologia que causa danos.
A verdade é que o ser humano não nasceu pra empreender, nasceu pra ser feliz, para buscar sua felicidade.
Como uma vez já bem escreveu o filósofo francês Michel Foucault (1926-1984), “É falso dizer que a existência concreta do homem é o trabalho. Os tempos e a vida do homem não são por natureza trabalho, mas prazeres, descontinuidade, festas, repouso, necessidades, instantes, acaso, violência etc. Porém, é toda essa energia explosiva que deve se transformar em uma força de trabalho contínua e continuamente ofertada no mercado”.
Quem quer empreender, ter sua própria empresa, ser sua própria empresa, pode ter as condições de fazê-lo: de entrar no “mercado”… Mas quem não quer não deveria ser obrigado a trabalhar, poderia receber uma renda de existência para simplesmente viver!
Continuo com minha utopia, uma simples utopia: primeiro deveríamos cuidar dos que mais precisam de atenção especial e de carinho, ou seja, aqueles com disfunções motoras ou cognitivas e as respectivas famílias. Esses realmente precisam e que mal há ajudá-los através do Estado?
Os pobres e os miseráveis merecem também políticas afirmativas para terem uma existência digna.
Gustavo Gumiero é sociólogo e escritor – @gustavogumiero – gustavogumiero.com.br