Já ouviu falar em Homo risibilis? Trata-se de um conceito relacionado à capacidade de rir de si mesmo, como humano, e de simplificar temas desafiadores com a aplicação de hipóteses que fazem rir, com a intenção de chegar a uma visão objetiva do assunto. A frase homo est risibilis, o homem é ridículo, tem importante tradição filosófica ainda na idade média.
Em seu livro, Philosophy, Humor, and the Human Condition: Taking Ridicule Seriously (Filosofia, humor e a condição humana: levando o ridículo a sério), a historiadora, Lydia Amir apresenta o humor como uma ferramenta conceitual para manter juntas as contradições humanas. O Homo risibilis é retratado por ela como o sujeito que resolve a tensão, pelo escape do riso e aceitação do ridículo.
O humor autorreferencial é proposto como um caminho que leva de uma visão trágica da vida a um abraço libertador ao ridículo humano. Esse ridículo que nos acompanha, também nos faz arrumar problemas onde não existe.
Essa abordagem da condição humana permite que enfrentemos as ambiguidades da vida sem esquecer seu caráter trágico com benefícios pessoais e sociais de longo alcance. Isto é, coloca certa leveza em enfrentar os maiores desafios.
O projeto de Lydia Amir, em resgatar essa terminologia medieval para definir, em termos mais próximos de nós, o problema que outras filosofias e as religiões tentaram e ainda tentam resolver, mas não encontraram.
A visão proposta permite que o Homo risibilis nos dê uma compreensão do “Outro”, ao saber ouvir, saber brincar sem ofender, e nunca superar a verdade ou a tolerância do outro, e não deixar cair em nosso próprio ridículo. O bom é quando podemos compartilhar o riso sadio e educador.
A visão igualitária do Homo risibilis, enraíza uma ética compassiva sem exigir suposições religiosas e libera o indivíduo para agir em nome dos outros a partir do riso. Ele oferece um novo modelo de racionalidade que resolve a tensão interna de cada um, a de nós com os outros e com o mundo em geral.
O Homo risibilis é especialmente adequado para responder às preocupações contemporâneas. Ele incorpora o consenso mínimo de que precisamos para viver juntos e o papel ativo que a filosofia deve desempenhar de forma responsável em um mundo global que se ridiculariza em seus conflitos.
Vejo no conceito de Homo risibilis uma visão de mundo libertadora por sua própria natureza e, além, uma postura de mundo que, senão reorganiza os afetos de forma a produzir a harmonia, ao menos demonstra as fraquezas de outras filosofias em tentar garantir a harmonia em um mundo desarmônico.
Tal como a gargalhada de Nietzsche ou o apontamento de Aristóteles na função do riso como necessário para a formação do ser humano e no bem-estar geral.
Pode ter aí um método pedagógico sobre o qual a literatura infantil do futuro deverá refletir, e que aprenderá a aplicar melhor. Afinal, riso não é apenas ‘próprio do homem’, é também elemento fundamental de nossa adaptação ao mundo adulto. E brincar com uma criança fazendo caretas, é maravilhoso.
Por fim vale lembrar um grande palhaço, Charles Spencer “Charlie” Chaplin Jr., ator e comediante, da mímica e comédia pastelão. Talvez ele seja um bom exemplo da imagem do Homo risibilis, unindo a possibilidade do verdadeiro amor e até do choro da alegria.
Pessoalmente, prefiro tentar ser bem mais o Homo risibilis ao Homo ludens, aquele que pelo instinto do jogo, de ganhar por qualquer preço, se torna ridículo.
Luis Norberto Pascoal é empresário, empreendedor e incentivador de projetos ligados à educação e à sustentabilidade. A Fundação Educar Dpaschoal é um dos pilares de seu trabalho voltado ao desenvolvimento humano e social.