Não machuque mais o coração da Pátria. Não diga mais a palavra sinceridade, pois nela você nunca acreditou. E também não fale em liberdade, coisa que você sempre desdenhou.
Não machuque mais o coração da Pátria. Apenas faça a sua mala e se mande pelos sertões do ostracismo, para ver a quem você ofende e machuca. Vá conhecer a fome e a miséria dos brasileiros que você enganou desde sempre. Você não presta. Você é um idiota crônico, bem sei, mas a constatação não lhe assegura uma absolvição moral. Você não merece, e bem sabe disso, nem mesmo perdoar a si mesmo. Você não presta nem para viver consigo mesmo. Você não merece a si mesmo, seja como o canalha que você é, como o idiota que sempre foi, uma aberração da natureza política, um câncer social que não merece sequer a menor comiseração.
Por favor, não diga que é patriota. Um velho poeta já disse que a Pátria é o refúgio dos canalhas. Não se esconda entre os brasileiros para esconder seus interesses escusos. Sabemos quem você é, de onde veio e por onde deseja caminhar: em cima dos mais de 350 mil assassinados pelo Covid-19, pandemia que você ajudou a patrocinar com a sua ignorância moral, política e antipática. Você não presta nem para educar seus pobres filhos.
Você não é nada além de um arremedo de animal em luta pela sobrevivência política de uma família que nunca pegou uma vassoura para varrer a sujeira de sua casa.
O Brasil está machucado e você joga sal e vinagre no corte. Você gosta de ver o sofrimento dos outros. Você gosta de fazer sofrer e depois assoprar. Traste imoral. Traste antipático.
Olho as manhãs outonais e o azul do céu me dá um pouco de paz para seguir adiante.
E assim vou fazendo a minha caminhada matinal pelas calçadas laterais do Bosque dos Jequitibás, conversando com as pedras portuguesas e árvores aprisionadas dentro do bosque. Ando por onde a lei determina e um idiota federal acha que pode me convencer a romper um pacto democrático, desrespeitar um compromisso civil que sempre leva à anarquia pandêmica, corrompendo jovens que nada sabem da canalhice política, que os tornam massas de manobra e vítimas de si mesmos – e, o que é pior, infectando seus pais, avós, amigos e desconhecidos que cruzam com suas rebeldes e naturais ignorâncias políticas.
Não peço nada, senhor presidente. Apenas que não machuque mais as famílias brasileiras. Já estamos envergonhados bastante com as suas aparições públicas, sem máscara, sem isolamento social, pegando nas mãos de estúpidos militantes e carregando no colo inocentes crianças. Isso machuca o coração brasileiro, senhor presidente. Você pode até achar que a pandemia é apenas uma gripezinha, um resfriadinho, ou que a morte de um infectado faz parte do misterioso ritual da vida.
Por favor, deixe a gente em paz. Já temos problemas demais para ter que aturá-lo. E não precisamos de mais feridas abertas e sangrando pelas páginas dos jornais, rádios e emissoras de televisão. Eu mesmo deveria estar escrevendo aqui palavras de esperança para um raro leitor, ou para mim mesmo. E você insiste em provocar a ira em quem carrega tantas feridas sociais, a falta de latrina no norte-nordeste para dois terços de bons irmãos, emprego para 12 milhões de brasileiros, vacina para todos nós, insumos necessários para nossos cientistas, e, principalmente, exemplo social por parte de seus ministros, filhos e, é claro, do cargo que você ora ocupa.
Não é assim, senhor presidente, que se governa um País, quando dezenas de esfaimados necessitam de comida, de vacinas e leitos hospitalares.
Não machuque mais a alma dos brasileiros, senhor presidente. Não fale besteiras desnecessárias, mesmo porque o senhor não está gerenciando nenhum botequim, pois até mesmo as besteiras têm o direito de frequentar os balcões de bar que, por bom juízo sanitário, estão fechados.
Cuide do que é seu, senhor presidente, e pare de machucar a alma brasileira. Somos capazes de superar esse problema, assim como outras pragas, febre amarela, espanhola, ditadura militar e a falta de vergonha na cara dos nossos políticos.
Vou fazer agora a minha caminhada outonal noturna. E em cada pedra portuguesa deixarei um pedaço de esperança brasileira. Por favor, senhor presidente, respeite o solo do nosso País. Pise manso, por favor. Bom dia.
Zeza Amaral é jornalista, escritor e músico