Quais são os seus rituais? Você costuma refletir sobre a morte? Tem medo de falar sobre o tema? Como você lida com a morte e a saudade de seus amores? Desde que minha mãe morreu, em 2012, gosto de ir ao cemitério em algumas datas específicas: o aniversário dela, o Dia das Mães e o Dia de Finados. Cito minha mãe porque meu pai foi enterrado em outra cidade.
Mas, antes de seguir falando do meu ritual de Finados, preciso contar que foi meu pai quem me apresentou à “dona” morte. Eu tinha uns 7 anos quando minha avó Almerinda (mãe do meu pai) morreu. Eu nunca tinha visto uma pessoa morta, um caixão. Minha avó foi velada na sala da casa da minha tia Laura, que também não está mais por aqui. Alguns anos depois, quando eu entrava na sala da casa da minha tia, lembrava da cena do caixão. Hoje, até onde eu sei, não existem mais velórios em casa, pelo menos por aqui.
Lembro também que meu pai, percebendo meu medo, sugeriu que eu colocasse as mãos nos pés da minha avó. Ele dizia que, assim, eu não ficaria mais com medo. Fiz isso, mas não acho que tenha resolvido. Naquela época, foi a melhor forma que meu pai encontrou de tentar me acalmar. Hoje em dia, boa parte das crianças não costuma participar de rituais de despedida.
Voltando ao meu ritual de Finados, gosto de ir com minhas irmãs ao cemitério; colocamos pequenos vasos de flores coloridas, fazemos nossos silêncios e orações, mas também rimos e lembramos os bons momentos e a alegria de estarmos juntos.
O cemitério Parque das Aleias é todo gramado e, nesta época do ano, fica todo colorido de flores. Nesse dia, também há um grupo tocando músicas que nos conectam com a vida e com nossos amores. E, geralmente, ao final da tarde, eles costumam soltar balões brancos com o nome das pessoas que não estão mais por aqui. Mas cada local e pessoa tem seu ritual, e o mais importante é respeitar as escolhas.
Claro, a morte não é confortável, não é agradável, mas é a única certeza que temos, e não dá para fugir. E, justamente por isso, a vida é tão mágica e preciosa. E vale lembrar que não é como um filme que podemos assistir de novo.
Talvez o Dia de Finados seja também um momento para olharmos para a vida pensando no tal do Carpe Diem (aproveite o dia), porque, como diz um trecho da série After Life (vida após a morte), disponível na Netflix: “Um dia você fará sua última refeição, cheirará sua última flor, abraçará seu amigo pela última vez. Você pode não saber que é a última vez, então é por isso que deve fazer tudo o que ama com paixão. A vida é preciosa.”
Kátia Camargo é jornalista e já teve muito medo de falar sobre a morte, mas tem percebido que olhar para a finitude talvez seja uma maneira de aproveitar melhor a nossa jornada por aqui. Dentre as músicas que falam de vida, gosta de “Epitáfio”, dos Titãs.
Assista ao clipe de “Epitáfio” aqui: