O que aconteceu em 2020/21 foi muito significativo na medida em que quebrou todos os tipos de barreiras, foi uma ameaça à ordem democrática. Mas o seu significado final dependerá do que for acontecer neste ano. E ninguém pode prever o que vai acontecer. Então isso parece imensamente importante. Na arena política, já está claro que as eleições serão contestadas em 2022. A total deslegitimação dos nossos processos eleitorais e o colapso de normas democráticas serão enormes.
E então um grande evento de questionamento da legitimidade das urnas eletrônicas e sistema eleitoral ajudou a empurrar o País para um caminho diferente, não democrático e, a meu ver, destrutivo.
O Brasil enfrenta uma crise de legitimidade, não importa quem vença, dada a base psicológica e jurídica já lançada por alguns políticos que questionam a confiabilidade do nosso sistema eleitoral. Isso será munição para todos. Ainda não sabemos qual será o desfecho desta crise, mas que estamos em crise, ninguém pode negar.
Há 20 anos, um professor de Harvard costumava falar que você não poderia realmente dizer o significado de algo até uma geração depois.
O que vem acontecendo ao expor a infraestrutura do nosso sistema social e eleitoral? Na minha visão, são muitas as ambiguidades e pontos fracos do sistema.
Estamos em um mundo onde duas narrativas conflitantes são acreditadas por dois segmentos diferentes e muito grandes da população, e vai ser assim por um bom tempo.
Cobertura de televisão atrelada a relatos de fanáticos e postagens de mídia social pelos reacionários infestam uma quantidade enorme de documentação não confiável em tempo real. E, pior, existem duas narrativas concorrentes, muitas vezes diametralmente opostas, sobre o que aconteceu e quem foi o responsável.
O perigo é de que o relato baseado em fatos, muito mais correto, não seja aceito, valendo mais a mentira repetida.
Hoje, muitas pessoas não sabem o que querem ou o que há de errado. Mas opinam.
Na verdade, parte desta história recente é a bifurcação quase completa das fontes de notícias para diferentes segmentos da população. E cada apoiador assiste à comunicação que reforça o seu radicalismo. Então, as opiniões das pessoas tendem a radicalizar e pouco é feito para ajustar ou melhorar, e nenhum discurso vai mudar isso para melhor.
Que este ano de 2022 nos traga mais luz para este quadro sombrio! Para ajudar o leitor, reforço que acredito no Brasil, e apesar de muitos momentos semelhante pelos quais passamos, este país melhorou muito nos últimos 40 anos.
Luis Norberto Pascoal é empresário, empreendedor e incentivador de projetos ligados à educação e à sustentabilidade. A Fundação Educar Dpaschoal é um dos pilares de seu trabalho voltado ao desenvolvimento humano e social