Eu sempre fui uma pessoa que ama cuidar das pessoas, e isso transparece em todos os meus atos. Seja aquela mensagem para uma amiga distante, abraços sinceros, conselhos, ligações. O cuidar, para mim, nunca foi só um verbo por si só, ele é carregado de tantos outros: entregar, ajudar, proteger, acudir, contribuir.
Ao longo dos anos, me questionei muito sobre qual profissão seguir. De início, queria medicina justamente por poder entregar esse “cuidar” em forma de vitalidade. Acredito, ainda mais nos tempos de hoje, que a saúde seja o bem mais precioso que alguém possa ter.
O tempo passou e fui direcionando o meu olhar para outras profissões, e foi assim que conheci a Fonoaudiologia. A partir daí tudo mudou. Acrescentei alguns “verbos” no meu ato de cuidar do outro.
A fonoaudiologia, passou a ser mais conhecida no início da pandemia do COVID-19 atuando como linha de frente em hospitais de referência, mas a fono (diminutivo carinhoso) sempre esteve presente nos hospitais, seja em Cuidados Paliativos, compondo equipe a multidisciplinar, em avaliações e tomadas de decisões. Uma profissão pouco conhecida quando comparada a outras na área da saúde, mas de grande potência.
Essa potência está atrelada aos atos de: ouvir, acolher, contribuir e principalmente reabilitar. Essa última, é a missão de quem escolheu viver essa profissão. Todos os verbos que usei até aqui (e acrescente os que você imaginar) estão dentro da reabilitação.
Imagina você perder algumas principais funções: deglutir, escutar, escrever, falar. A fonoaudiologia atua em todos esses campos, reabilitando a função que já existia ali. Uma tarefa nada fácil, mas extremamente recompensadora.
O meu ato de “cuidar”, então, carrega a singularidade de cada paciente, desde ouvir e acolher nas sessões fonoaudiológicas, quanto trabalhar a função. E a singularidade e demandas de cada um é o que me encanta, é o que me faz querer estudar e poder contribuir da melhor forma, naquele momento, para aquela pessoa.
O meu paciente mais novo tinha 45 dias de vida e o mais velho 92 anos. Cada um com a sua história, e isso não se baseia apenas na idade (até porque não significa nada), mas na reabilitação que aquele ser que está na minha frente precisa. Muitas vezes, a reabilitação se baseia em ouvir aquela mãe angustiada e preocupada com o filho que está se alimentando de sonda, a filha que acompanha o avô nos exames de audiologia, o cuidador que acompanha aquela senhora da casa de repouso, o paciente que não vê a hora de comer por via oral.
Reabilitar, então, é dar vida e esperança àquele que está a sua frente. É cuidar. Se responsabilizar. Olhar o todo. Saber ouvir. E principalmente, acolher.
A essa profissão, tão nobre, e que escolhi me dedicar integralmente, de corpo e alma, dedico esse texto. E às pessoas que me leem proponho que converse com alguém que passou pela fonoaudiologia ou que pesquise para entenderem que o fonoaudiólogo está mais apto do que simplesmente “tratar a fala”. Estamos aqui para dar mais vida àquele que já teve um dia.
O que eu puder fazer para a fonoaudiologia ser reconhecida, farei. É um ato de cuidar, é um ato de amor, é um ato de resistência. Foi e sempre será o meu desafio diário e a minha melhor escolha.
Rafaela Negretti, 23 anos, é determinada e está sempre aberta para o novo. Atualmente cursa fonoaudiologia na Unicamp.