Bem no início dos anos 80, quando vivia uma das fases de maior sucesso de sua carreira, a lendária cantora e compositora Rita Lee — que nos deixou na última segunda-feira (8), aos 75 anos, em São Paulo, vítima de um câncer de pulmão — atraiu uma multidão de fãs ao Ginásio do Guarani, em Campinas. Na ocasião, em plena terça-feira, 25 de novembro de 1980, mais de oito mil campineiros superlotaram o recinto bugrino em uma noite que começou com altas doses de euforia e terminou em completa desordem.
À época com apenas 32 anos, apostando em carreira solo e deixando para trás os tempos de Mutantes e Tutti Frutti, Rita Lee viveu momentos de tensão em cima do palco do Guarani, ao ser atingida em cheio no rosto por um frasco de lança-perfume, atirado por um indivíduo que estava na plateia. A garrafa de vidro com o produto químico estourou no rosto da cantora, que precisou interromper o show e abandonar o palco para ser socorrida em razão de um ferimento muito perto do olho. Imagina o perigo!
O incidente aconteceu na parte final da performance, bem no momento em que Rita Lee entoava a sua canção de maior sucesso na época, chamada justamente “Lança Perfume”, faixa que dá nome e abre o quarto disco de sua carreira solo, lançado em setembro de 1980, no início da parceria musical com o marido e guitarrista Roberto de Carvalho.
“Com um profundo corte pouco abaixo do olho esquerdo, a cantora abandonou o palco protegida por seus agentes de segurança, enquanto um grande tumulto tomava conta da plateia de 8.500 pessoas, que tentavam se acomodar num salão com capacidade máxima para 5.500”, relatou a reportagem do jornal Estado de S. Paulo, em sua edição de quinta-feira, 27 de novembro de 1980.
“Durante grande parte do show, Rita Lee foi obrigada a cantar se desviando dos objetos lançados no palco, como centenas de vidro de éter sulfúrico. No final do espetáculo, justamente quando cantava ‘Lança Perfume’, um desses frascos atingiu em cheio o rosto da cantora, que foi imediatamente levada para o camarim, onde recebeu os primeiros socorros”, relatou a reportagem do Estadão.
À época com apenas 18 anos, presenciando pela primeira vez um show de rock, o campineiro Luiz Guadagnini testemunhou de perto o acidente. “Eu estava próximo ao palco e, no momento da música ‘Lança Perfume’, após utilizar um extintor para espirrar perfume na plateia, Rita fez um sinal para um cara que estava cheirando um lança-perfume, pedindo o frasco. O cara atirou o frasco, mas acertou o olho dela, que se abaixou pela dor que sentiu”, explica em detalhes o ocorrido.
“Roberto de Carvalho largou a guitarra e a socorreu levando para a coxia. O resto da banda o acompanhou e não voltaram mais. Quando o público percebeu que o show havia acabado antes da hora, o caos se instalou e não sobrou nada inteiro, como era de praxe em circunstâncias como essa naquela época”, lamenta Guadagnini.
De acordo com o fã campineiro Roberto Lauer, que também estava naquele tumultuado show de Rita Lee no Ginásio do Guarani, no fim de 1980, o rapaz responsável por arremessar o lança-perfume na direção de Rita Lee foi vítima de agressões verbais e físicas de quem estava perto dele na plateia. “O cara apanhou muito”, lembra Lauer.
Inaugurado apenas três anos antes do trágico episódio envolvendo a cantora Rita Lee, o Ginásio do Guarani começava a receber grandes artistas da música brasileira, para além de sua finalidade esportiva. O show de abertura, em dezembro de 1977, havia sido de Roberto Carlos, provocando semelhante alvoroço entre o público campineiro, mas sem registros de confusão e violência.
“O empresário da cantora, Cláudio Lisa, considerou os 11 PMs, destacados para dar cobertura ao espetáculo, ‘incompetentes’. Mas, na verdade, desde o início do show, os policiais encontraram dificuldades para controlar a multidão que tomava conta do ginásio de esportes e as centenas de pessoas que permaneciam do lado de fora jogando pedras e garrafas nos vidros por não conseguirem ver o espetáculo. O excesso de pessoas dentro do ginásio – cerca de três mil pessoas além da capacidade do local – foi considerado responsável ainda por cerca de 30 prisões e sete desmaios”, informou a reportagem do Estadão.
Sob a promessa de seu empresário de que nunca mais voltaria a se apresentar em palcos campineiros, Rita Lee deixou a cidade sob forte esquema de segurança e ratificou o discurso poucos dias depois, em rede nacional.
“No domingo seguinte, Rita Lee apareceu de óculos escuros no Fantástico afirmando que nunca mais faria show em Campinas”, lembra o campineiro Luiz Guadagnini, um dos mais de oito mil presentes no tumultuado show da cantora no Ginásio do Guarani, em novembro de 1980.
No entanto, para sorte do público campineiro, a promessa não se cumpriu e Rita Lee retornou a Campinas para outras apresentações, fazendo assim as pazes com a cidade, de certa forma. Em 1991, por exemplo, ela protagonizou um grande espetáculo no Teatro Castro Mendes. Depois, em 1999, Rita Lee foi uma das atrações no Ginásio da Unicamp, ao lado das bandas Titãs e Pato Fu.
Confira abaixo trechos desse show na Unicamp:
Confira abaixo depoimento do campineiro Roberto Lauer, grande fã de Rita Lee, sobre a importância da cantora em sua vida:
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