Uma onda de assassinatos de candidatos marcou a campanha das últimas semanas para as eleições gerais no Equador. Observadores do país latino-americano temem existir ligações com interesses externos, incluindo criminosos, e regressão dos direitos humanos.
Cristiano Pinheiro de Paula, investigador do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, afirmou que o Equador, na véspera das eleições antecipadas marcadas para este domingo, “mergulha no caos, atingido por uma espantosa onda de violência política, contabilizando, num período de apenas cinco dias, dois assassinatos de importantes dirigentes políticos”.
“A onda brutal de criminalidade que acomete o Equador tem inegáveis ligações com o narcotráfico transnacional, mas não será a única causa e talvez nem sequer a razão mais importante dos crimes que aterrorizam o país”, avaliou o investigador.
O atentado contra o candidato presidencial Fernando Villavicencio (partido Construir) ocorreu numa ação de campanha dia 9 de agosto, numa zona central e movimentada de Quito. O Presidente equatoriano, Guillermo Lasso, decretou estado de emergência, mas garantiu que as eleições antecipadas de domingo se realizariam.
Na segunda-feira, Pedro Briones, membro do movimento Revolução Cidadã e um dos líderes do partido na província de Esmeraldas, foi assassinado no noroeste do Equador.
De acordo com Pinheiro de Paula, os dois líderes mortos eram de campos políticos ideologicamente opostos: Briones vinha de uma esquerda moderada e Villavicencio era representante de um movimento de centro-direita.
Em julho, Rider Sánchez, um candidato a deputado federal pela aliança Atuemos, também foi morto em Quininde, na província de Esmeraldas; em fevereiro, quando os equatorianos elegeram governantes regionais, foram registrados 15 ataques contra candidatos e dois homicídios.
Nesta semana, a Amnistia Internacional (AI) apelou ao Governo equatoriano para que salvaguarde os direitos humanos no país, após o assassinato de Villavicencio e a imposição do estado de emergência.
A diretora da AI para as Américas, Erika Guevara Rosas, afirmou que a organização não-governamental (ONG) está “extremamente preocupada com a atual situação de violência no Equador, que enfrenta um forte aumento na sua taxa de homicídios, bem como uma série de assassinatos de candidatos a cargos públicos nas últimas semanas”.
Nas eleições antecipadas de domingo serão escolhidos o Presidente do país (que irá concluir o mandato de Lasso até 2025) e os 137 parlamentares que compõe a Assembleia Nacional, além da realização de dois referendos sobre a exploração mineira e petrolífera.
Oito candidatos estão na corrida para a Presidência do Equador, entre os quais está Luisa González, do movimento esquerdista Revolução Cidadã, que lidera as pesquisas.
O estado de emergência declarado em resposta ao assassinato de Villavicencio, com duração de 60 dias, é o último de uma série de decretos de emergência do Presidente equatoriano e implica a suspensão de direitos, incluindo o de livre reunião.
As autoridades atribuem ao tráfico de droga aquela que é considerada a maior crise de segurança da história do país.