“Sempre fui um sonhador, isso é o que me mantém vivo”. Para quem gosta de rap, sabe que essa frase não é minha e sim do Racionais MC’s e é uma das primeiras frases da introdução da música “A Vida é Desafio”.
Conheci essa música há alguns anos e esta frase é uma das que vem permeando muito a minha cabeça recentemente, pois eu me percebi colocando muito mais atenção nos meus sonhos novamente e percebendo o quando isso tem me feito bem.
Me dei conta que, por um momento da minha vida, racionalizava tanto a coisa de querer que as coisas dessem certo, que até evitava sonhar para não me frustrar. Mas, percebi que quando fazia isso, a minha atenção não estava no sonho, no desejo, no impulso, na aspiração. A minha atenção estava na frustração que poderia vir a acontecer se eu não alcançasse aquele objetivo ou se algo desse errado.
Acabei tornando o meu dia a dia meio robotizado neste período, cumprindo rotinas monótonas e que no fim do dia, me davam a sensação de que tinha feito muitas coisas, mas, nenhuma que me orgulhasse ou que me desse a sensação de construir um pouquinho todos os dias ou de curtir uma jornada rumo a novos horizontes. Isso já aconteceu contigo?
E, se eu olho para trás, ser um sonhador, de fato, sempre foi o que me manteve vivo. Vivo no sentido de me sentir caminhando com mais vitalidade e não me arrastando para mais um dia. Os “Nossa, imagina se…” foram sempre combustíveis para me movimentar a entender como era possível fazer/realizar/alcançar aquele tal sonho distante. É como se aquilo de fato passasse a ser importante para mim e que meu corpo/mente precisasse dar atenção.
As neurociências têm uma explicação para isso. Temos no nosso sistema nervoso o SAR – Sistema Ativador Reticular, que é como um porteiro que filtra, de todas as informações que você tem contato, quais são as mais importantes e que eu vou dar mais atenção. É como se fosse um algoritmo da nossa cabeça onde, quando eu dou algum comando que aquilo é algo que tenho interesse (ou seja, tem um peso emocional significativo pra mim), ele começa a captar mais coisas que estão conectadas com aquilo.
Um exemplo clássico: quero muito um carro e começamos a ver aquele carro na rua, quase como se eles saíssem pelo bueiro. Qualquer lugar que você vai, parece que surge um! É o nosso sistema, que a passa a identificar naturalmente todo sinal de algo que é mais importante para nós.
Isso significa que, em qualquer coisa que você resolver focar, aquilo tende a só se multiplicar na sua vida – para o bem ou para o mal – pois, a sua atenção vai estar mais focada naquilo e a gente vai reforçando para a nosso cérebro que aquilo é algo que eu preciso mais. Repara que, gente que vive reclamando, só fica conectado em notícias ruins.
Gente que tem uma vida saudável, vive conectada com informações que valorizam a saúde. Gente que valoriza a vida financeira estável, está atento as informações da economia. Gente que não se valoriza, está sempre desligada de si – porque, o contrário também é verdadeiro. E por aí vai…
Por isso que digo novamente que sonhar sempre me manteve vivo e, é parte crucial para que eu conseguisse chegar até aqui. Até aqui literalmente, no Hora, pois na primeira coluna contei para vocês que ser escritor era uma das coisas que eu dizia que queria ser quando crescesse. E cá estamos.
Mas, só sonhar é o suficiente? Na-nanina-não!
A parte do me manter vivo, tem a ver com o movimento. Um outro artista que gosto muito, que é o Emicida, usa um termo que gosto que é Sonhador na Prática. Entendo que o “sonhador na prática”, mais do que só sonhar, é uma denominação para quem corre atrás: busca conhecer, saber quais são os possíveis caminhos e tentar uma/dez/diversas vezes, enquanto fizer sentido, de formas distintas e com constância!
Quem está a fim mesmo costuma ter constância. Um corpo saudável, dentes brancos e sem cáries, conquistar a pessoa que a gente se apaixona, aprender a tocar um instrumento, alcançar o emprego dos sonhos, aquele carro maneiro, um Brasil e um mundo melhor – nenhum deles acontecem da noite para o dia. Começa com o querer (o sonho) e o fazer repetido e constante. Diariamente, com cuidado, carinho e dedicação.
Jonas, então, pronto: sonhar e tentar vai garantir que tudo vai dar certo? Sinto em dizer que não, rs. Mas, a minha experiência diz que aumenta muito mais as chances do que ficar evitando uma possível frustração ou querer um controle ou a certeza de que tudo vai dar certo.
Esta mesma experiência, diz que te faz querer viver os dias com muito mais sorrisos no rosto do que sem vontade de sair da cama. Te faz, mesmo sabendo que tem um monte de coisa ruim acontecendo “lá fora”, buscar fazer o melhor que você pode, com o que se tem, um dia de cada vez, com clareza de objetivo e com leveza no agir.
O não, eu e você já temos, por uma série de questões da sociedade. Vamos acordar todos os dias e correr atrás do sim que precisamos para construir os sonhos que temos morando por aí.
Eu, quando me sinto meio mais ou menos, lembro de um texto que li certa vez em uma parede (e que uma hora dessas vai virar tatuagem por aqui, rs): “Somos assim: sonhamos com o voo, mas tememos a altura. Para voar, é preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio. Porque é só no vazio que o voo acontece. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Mas é isso que tememos: não ter certezas. Por isso que trocamos o voo por gaiolas. As gaiolas são os lugares onde as certezas moram.” (Os Irmãos Karamazov – Fiódor Dostoiévisk).
E aí, para encerrar, eu te pergunto: Onde você tem colocado a sua atenção recentemente? Quais são as gaiolas que você anda vivendo que tem impedido seus voos? O quanto você tem sido um ponto de atenção na sua vida?
Obs: As Neurociências têm evoluindo bastante. Então, pode ser que o conhecimento, assim como nós, evolua. Seguimos aprendendo! O mais importante é, mais que o conhecimento técnico, saber que onde você colocar sua atenção irá prosperar!
Jonas Santos, de 28 anos, mora em Campinas desde os 7 anos e acredita que por meio da educação pode melhorar o mundo dele e dos outros