Parecia ser apenas mais uma noite de domingo como qualquer outra quando o Vôlei Renata disputou a sua última partida como mandante pela primeira fase da Superliga Masculina, com vitória por 3 sets a 1 sobre o América-MG, no dia 8 de março de 2020.
Naquela mesma data, em que se comemorava o Dia Internacional da Mulher, houve o pontapé inicial da Liga de Basquete Feminino (LBF), mas o Vera Cruz Campinas estreou somente quatro dias depois, vencendo em casa o Pró-Esporte/Sorocaba pelo placar de 98 a 85, na quinta-feira (12).
Mal sabiam os torcedores presentes no Ginásio do Taquaral e no Ginásio Paineiras que eles estariam prestes a atravessar um período de mais de 500 dias sem poder apoiar as equipes campineiras nas arquibancadas. Na fatídica sexta-feira (13), a cidade de Campinas registrou o primeiro caso confirmado de contaminação pelo novo coronavírus, gerando estado de alerta. Àquela altura, o Brasil havia acabado de ultrapassar a marca de 100 casos confirmados positivos da doença.
O Dérbi 196 entre Guarani e Ponte Preta, no Brinco, realizado com portões fechados, pelo Campeonato Paulista, foi o último jogo disputado no Brasil antes da interrupção do futebol pela pandemia.
Diante do cenário de preocupação e incerteza, a Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) e a Liga de Basquete Feminino (LBF) anunciaram a paralisação de suas respectivas competições a partir do sábado (14), dois dias antes da realização do Dérbi 196 entre Guarani e Ponte Preta, no estádio Brinco de Ouro, com portões fechados, pelo Campeonato Paulista. Esse foi o último jogo disputado no Brasil antes da interrupção do futebol. Posteriormente, a Federação Paulista de Futebol (FPF) optaria pela retomada do Paulistão no início do segundo semestre, enquanto a CBV e LBF decidiriam pelo cancelamento dos torneios nacionais de vôlei e basquete, ao constatarem a complexidade e gravidade da situação.
Após cumprir quarentena durante quatro meses, os atletas do Vôlei Renata retornaram às atividades presenciais em julho, respeitando protocolos de segurança desenvolvidos pelo departamento médico da equipe, formado pelos médicos Marcelo Krunfli e Marcio Régis, além dos fisioterapeutas Márcio Saraiva e Samuel Mamprin. A cartilha recebeu a aprovação das instituições sanitárias da Prefeitura de Campinas, da mesma forma que aconteceu com Ponte Preta e Guarani, que retornaram aos treinamentos em seus CTs no dia 1º de julho – o futebol paulista voltou no dia 23.
“Os atletas passaram por uma bateria de exames, incluindo para o novo coronavírus, avaliações cardiológicas e de função pulmonar. Em meio a isto, o elenco iniciou os trabalhos físicos de forma individualizada e remota. Com a liberação para os treinos presenciais em Campinas, o time campineiro evoluiu e passou a trabalhar diariamente com bola em pequenos grupos. Conforme as semanas foram passando, o time campineiro aumentou o número de atletas por grupo e fazendo trabalhos específicos por posição”, detalhou a assessoria do Vôlei Renata.
Decorridos seis meses do início da pandemia em Campinas, o Vôlei Renata voltou a disputar uma partida oficial no dia 11 de setembro, quando bateu o Vedacit/Guarulhos por 3 a 0, no Ginásio do Taquaral, pela abertura do Campeonato Paulista. Em virtude das restrições de contato social, o jogo foi realizado sem a presença de público.
As jogadoras de basquete do Vera Cruz Campinas, por sua vez, retomaram os treinamentos na quadra em agosto e voltaram efetivamente à ativa no dia 3 de outubro, com vitória por 88 a 42 sobre o Santo André, no Ginásio Paineiras, pela estreia na Copa São Paulo. Naturalmente, a partida também aconteceu com portões fechados.
Apesar das dificuldades impostas pela pandemia, Vôlei Renata e Vera Cruz Campinas foram coroados pelo árduo trabalho realizado dentro e fora das quadras. As duas equipes soltaram o grito de campeão ao fim de um ano marcado por grandes obstáculos. Em outubro, o time masculino de vôlei comemorou o inédito título estadual, com direito a revanche sobre o algoz Taubaté, após vitórias por 3 a 2, no Taquaral, e 3 a 1, no Ginásio do Abaeté. Já em dezembro, a equipe feminina de basquete sagrou-se bicampeã paulista, ao derrotar o Ituano por 92 a 57 na grande decisão, no Paineiras.
Nova temporada, novos desafios
Com o início da Superliga Masculina, em novembro do ano passado, o Vôlei Renata continuou cumprindo à risca a cartilha com orientações de prevenção ao novo coronavírus, mas mesmo assim não conseguiu escapar ileso de casos positivos de Covid-19. No início de janeiro, o ponteiro Vaccari e o técnico Horácio Dileo contraíram a doença, mas rigorosas medidas adotadas se mostraram primordiais para frear o surto interno.
“Todos os dias, antes de iniciarem os treinos, os atletas responderam a um questionário epidemiológico e aferiram a temperatura ao chegar no Taquaral. Quando apresentava sintomas, o atleta ou funcionário era imediatamente afastado. Este protocolo funcionou muito bem durante a temporada. Apesar de apresentar casos positivos, a equipe não contabilizou transmissões internas”, destacou a assessoria do Vôlei Renata.
“O uso de máscara foi opcional para atletas durante as atividades, mas obrigatório durante viagens ou atividades fora do Taquaral. Membros da comissão técnica e funcionários do clube usavam máscara em 100% do tempo. O protocolo ainda constou higienização constante da aparelhagem usada, uso de álcool em gel e descontaminação dos calçados. A testagem dos atletas aconteceu a cada 15 dias, conforme previa o protocolo da CBV. Sempre que possível, o clube utilizou ônibus próprio para viagens”, informou a assessoria.
“O clube disponibilizou na quadra de jogo, ao lado de cada banco de reservas, recipientes com álcool em gel ou alcool 70%, bem como nos vestiários e na mesa de controle da arbitragem. Enxugadores e boleiros usaram máscaras e luvas o tempo todo. As bolas eram higienizadas constantemente com produtos sanitizantes. Não houve troca de lado em nenhuma partida da temporada, nem uso de placa de substituição, nem cumprimento na rede após o final da partida. Esta foi uma adequação à regra pela CBV”, acrescentou.
Avaliação do coordenador
Coordenador técnico e embaixador do Vôlei Renata, André Heller avalia positivamente o trabalho da equipe no enfrentamento à pandemia de Covid-19. “O Vôlei Renata passou de forma segura pela turbulência dessa primeira temporada em meio a uma pandemia. É importante que se diga que o projeto, em consequência todos seus colaboradores, conseguiu entender como agir porque foi estabelecido um protocolo padrão e rígido. Mais do que cumpri-lo, foi muito importante que cada um entendesse sua responsabilidade para o bem estar geral e sua importância como fiscalizador”, afirmou.
Medalhista de ouro nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, Heller destaca que o protocolo de segurança foi pensado desde a saída até o retorno para casa dos atletas e funcionários, com controle de sintomas, higienização e testagem.
“Sempre procuramos não aglomerar em lugares fechados. As reuniões foram feitas, na medida do possível, em lugares amplos e abertos. Assim, a gente conseguiu, com certo controle e sucesso, fazer com que a temporada transcorresse de maneira tranquila”, completou André Heller.
Momento atual
Após cair nas quartas de final da última Superliga para o Taubaté, em abril deste ano, o Vôlei Renata iniciou um processo de reformulação do elenco e agora se prepara para próxima temporada. Sob o comando do novo treinador Marcos Pacheco, a equipe trouxe reforços como o central Lucão, convocado para a disputa dos Jogos Olímpicos de Tóquio.
Por outro lado, o Vera Cruz Campinas vive a reta final da disputa da Liga de Basquete Feminino. “O Vera Cruz segue as mesmas medidas desde o início da LBF, com realização de exames semanais de Covid, uso de máscaras fora da quadra e respeito aos demais protocolos de higiene e segurança. Os exames são feitos em parceria com o laboratório Medicar. As meninas chegam de máscara, tiram durante os treinamentos, mas depois precisam colocar novamente. Na entrada do ginásio, existe uma cabine de higienização por onde elas passam”, informou a assessoria do Vera Cruz.
Atletismo
A Organização Funilense de Atletismo, conhecida simplesmente como Orcampi, em Campinas, ficou seis meses com atividades presenciais suspensas e também precisou se adaptar ao cenário pandêmico. Foram adotados protocolos sanitários como distanciamento social, uso obrigatório de máscaras, aconselhando os beneficiários a sempre levar pelo menos uma máscara reserva, e instalação de dispenser de álcool gel 70%. As regras também envolvem evitar tocar olhos, boca e nariz, bem como compartilhar objetos de uso pessoal, além de dar preferência a ambientes abertos e arejados, sem aglomerações. Também foram realizadas palestras socioeducativas sobre o assunto para esclarecimento de dúvidas.
No retorno das competições oficiais da Federação Paulista de Atletismo (FPA), em setembro do ano passado, o atleta William Braido, da Orcampi, venceu a prova de arremesso de peso, estabelecendo a terceira melhor marca brasileira da história: 20,01 metros. Já em novembro, na retomada do calendário nacional do atletismo, a Orcampi conquistou o Campeonato Brasileiro Sub-20, em Bragança Paulista. Pela primeira vez, a equipe venceu em todas as categorias: masculino, feminino e geral.
“A partir da elaboração de protocolos rígidos de prevenção ao Covid-19, a Orcampi atravessa o período da pandemia com um trabalho efetivo de conscientização junto a seus integrantes dos riscos da doença e da necessidade extrema da prática diária dos protocolos de prevenção. Felizmente, o número de casos conhecidos entre nossos jovens não é significativo, o que nos leva a crer que todos entenderam a gravidade da pandemia. Além disso, a partir de doações de nossos parceiros, disponibilizamos cestas básicas para as famílias de nossos beneficiários. Foram 18 toneladas em 2020 e 13 toneladas em 2021”, destaca o coordenador da Orcampi, Ricardo D’Angelo.
“A partir de doações de nossos parceiros, disponibilizamos cestas básicas para as famílias de nossos beneficiários. Foram 18 toneladas em 2020 e 13 toneladas em 2021”, destaca o coordenador da Orcampi, Ricardo D’Angelo
Criada em 1997, a Orcampi é a única equipe de atletismo do Brasil que possui um programa que contempla todas as etapas da formação esportiva: captação de talentos, formação, aprimoramento técnico e, por fim, rendimento. Ricardo D’Angelo é um dos fundadores da entidade, ao lado de Vanderlei Cordeiro de Lima, um dos maiores maratonistas da história do atletismo brasileiro, medalha de bronze nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, além de campeão dos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg, em 1999, e Santo Domingo, em 2003.
A Orcampi será representada por três atletas nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Marcio Teles, de 27 anos, disputará a sua segunda Olimpíada na prova dos 400 metros com barreiras. Ele também participou da edição do Rio de Janeiro, em 2016. Por outro lado, Tiffani Marinho, 22, fará a sua estreia em Tóquio nos 400 metros rasos e no revezamento 4x400m misto, prova que será disputada pela primeira vez no programa olímpico. Por fim, Fernando Ferreira, 22, também participará de sua primeira Olimpíada, mas na prova do salto em altura.