A poda das árvores do Bosque dos Jequitibás, em Campinas, provocou reação de grupos ambientalistas da cidade. O coletivo ambiental SOS Piçarrão protocolou uma ação cautelar no Ministério Público solicitando a suspensão das intervenções realizadas pela Secretaria Municipal de Serviços Públicos. O pedido ocorreu na manhã da quarta-feira (4).
A medida da Prefeitura no Bosque é adotada depois da queda de três árvores do local na última semana de 2022. Uma delas, uma figueira branca de cerca de 35 metros, caiu sobre um carro na Rua General Marcondes Salgado, matando o motorista de 36 anos.
“A manutenção precisa e deve ser feita, porém da forma correta, com os critérios técnicos, inclusive com os dispostos na ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas)”, explica Paulinho Olivieri, integrante do coletivo.
“Da forma que é feita, sem critério, as árvores acabam se contaminando por pragas e adoecendo, sem contar a perda ambiental e os riscos que a comunidade corre com essas medidas”, completou.
Olivieri conta que a ação cautelar foi protocolada depois de uma visita do coletivo ao Bosque para verificar a situação das árvores. “Ao chegar lá, deparamos com o portão do bosque fechado e homens realizando amputações nas árvores pelo lado externo, ainda sem EPIs (Equipamento de Proteção Individual), como capacetes, o que é um risco para os trabalhadores.”
Para o ambientalista, a perícia da polícia civil sobre a ocorrência que causou a morte do motorista na última semana deveria ser levada em conta antes da tomada de uma ação preventiva.
“Temos informações que árvores tiveram suas raízes amputadas para a troca da cerca do bosque. É evidente que a retirada de parte da sustentação de uma árvore de 100 toneladas vai gerar problema. Sobre o acidente fatal, não acreditamos na versão da prefeitura de que o solo ficou saturado pela chuva. Árvore saudável não cai sozinha”, questiona.
A posição de Olivieri é reforçada pelo mestre em Arborização Urbana, engenheiro florestal e agrônomo José Hamilton de Aguirre Júnior. “Em uma análise da possível queda da árvore que matou uma pessoa foi verificado que houve corte de raízes”, declarou. “Sem estabilidade e com as chuvas, que aumentam o peso e diminuem a resistência do solo, ela não resistiu.”
O engenheiro lembra que as intervenções no Bosque dos Jequitibás precisam ser feitas com cuidado. “Há ali um conjunto de árvores importantes para a região central, que é uma área carente de vegetação”, explica. “As podas precisam ter como base critérios técnicos e análises de engenheiros florestais, agrônomos e biólogos”, continua.
“Da forma como estão sendo feitas, de maneira unilateral (o corte das copas que ficam no limite externo do Bosque), as podas podem causar um desequilíbrio. E as árvores com algum tipo de debilidade podem ficar em situação ainda pior. Ou seja, na tentativa de se apagar o fogo, há o risco de se criar mais problemas”, explica.
Prefeitura
O secretário de Serviços Públicos, Ernesto Paulella, afirmou, em entrevista à Rádio CBN, que o trabalho de poda no Bosque segue critérios e é necessário para evitar novas quedas de árvores. A operação é aplicada nas vegetações que margeiam as ruas Marcondes Salgado, Pedro Álvares Cabral e Uruguaiana.
“A técnica indica exatamente qual a galhada que pode ser podada e os curativos necessários no tecido vegetal no local da poda. Estamos seguindo o que a bibliografia indica, treinamento os funcionários e com engenheiros agrônomos e biólogos acompanhando a equipe”, esclareceu.
A pasta também informou que foi iniciado um estudo criterioso das condições das árvores do Bosque dos Jequitibás para se avaliar outras possíveis intervenções. O local segue fechado ao público.