Pense em quantos grandes jogadores foram revelados pela Ponte Preta ao longo de seus 122 anos de existência, comemorados nesta quinta-feira (11). É considerável a chance de você ter se lembrado de um ou mais goleiros, posição em que o clube alvinegro se tornou especialista em formar talentos ao longo das décadas.
Mas antes de começar a contar essa história, comecemos pelos primórdios. Fundada em 11 de agosto de 1900, data em homenagem à chegada da ferrovia em Campinas, em 1872, a Ponte Preta nasceu por iniciativa de um grupo de jovens estudantes do colégio Culto à Ciência, que praticavam futebol no mesmo bairro que dá nome ao clube.
Com a marca do pioneirismo na inclusão racial, a primeira equipe formada pela Ponte Preta contava com a presença de Miguel do Carmo, primeiro jogador negro da história do futebol brasileiro.
Considerado o primeiro ídolo negro da Ponte Preta, o goleiro Amparense era fiscal de linha da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, assim como Miguel do Carmo.
Na esteira de Miguel do Carmo, vieram outros atletas negros como o goleiro Manoel Ferreira, mais conhecido como Amparense, líder e capitão da equipe que conquistou o título da Liga Operária de Futebol, primeiro campeonato oficial organizado em Campinas, em 1912.
Quase na virada para a segunda metade do século XX, a Ponte Preta inaugurou o estádio Moisés Lucarelli, um dos símbolos de maior orgulho do clube, assim como a torcida fanática e o apelido de Macaca, acolhido e popularizado a partir dos anos 70.
O jogo de inauguração do Majestoso, ocorrido no dia 12 de setembro de 1948, com derrota por 3 a 0 para o XV de Piracicaba, marcou a última partida como titular do goleiro Seraphim Morelli, sétimo jogador com mais jogos embaixo da meta pontepretana: foram 169, ao todo.
Pertencente a uma família de atletas pontepretanos, Seraphim era irmão de Bruno Morelli, ou simplesmente Bruninho, jogador que mais disputou Dérbis Campineiros, atuando em 44 clássicos contra o Guarani, e segundo atleta que mais vestiu a camisa da Macaca, com 577 partidas. Ele aparece atrás apenas do meia Dicá, recordista com 581 jogos, além de maior artilheiro da história do clube, com 155 gols.
A lenda Ciasca
Nos anos 50, o goleiro Rinaldo Ciasca chegou ao Majestoso para se tornar uma verdadeira lenda da camisa 1. Ele jogou na Ponte Preta entre 1951 e 1959, aparecendo na 6ª posição dos arqueiros que mais defenderam o clube, com 171 jogos.
Já na década de 60, o par de luvas foi entregue a Wilson Quiqueto, revelado no Majestoso, que conquistou o título estadual da Divisão de Acesso em 1969, antes de deixar a Ponte Preta e se juntar ao Santos de Pelé, nos anos 70. Ele figura em 9º lugar na lista dos goleiros que mais atuaram pela Macaca, com 159 jogos.
Escola de goleiros que vestiram a amarelinha
Nos anos 70, deu-se início à tradição pontepretana de formar goleiros que chegaram à Seleção Brasileira. Essa história particular começou com Waldir Peres, trazido ao Majestoso em 1970, com apenas 20 anos, após conquistar o título da terceira divisão paulista em 1960, pelo Garça, clube de sua cidade natal.
Waldir Peres defendeu a Ponte Preta até 1973, quando foi negociado com o São Paulo, clube onde se sagrou campeão brasileiro em 1977 e tricampeão paulista em 1975, 1980 e 1981. Como atleta do Tricolor Paulista, Peres disputou três edições de Copa do Mundo: 1974, 1978 e 1982, essa última como titular. Em 1989, ele retornou à Ponte Preta para encerrar a carreira.
Todas as convocações de Waldir Peres para a Seleção Brasileira aconteceram após a saída da Ponte Preta, diferentemente do que aconteceu com seu sucessor no clube: Carlos Roberto Gallo, cria da base alvinegra, que começou a vestir a amarelinha ainda durante os tempos de Macaca.
O goleiro Carlos integrou o histórico esquadrão pontepretano vice-campeão paulista de 1977, que também contava com outros dois jogadores convocados pelo técnico Cláudio Coutinho para a Copa do Mundo de 1978: os zagueiros Oscar e Polozzi.
Maior goleiro da história da Ponte Preta, recordista de partidas entre todos os atletas da posição que já passaram pelo clube, com 437 jogos disputados entre 1975 e 1983, Carlos é o único jogador brasileiro convocado para duas edições de Copa do Mundo enquanto defendia um clube do Interior.
Natural de Vinhedo, na região de Campinas, Carlos representou a Macaca nas Copas de 1978, na Argentina, e 1982, na Espanha, onde o Brasil encantou o mundo, mas foi eliminado pela Itália com uma dolorida derrota por 3 a 2, no fatídico jogo que ficou conhecido como “Tragédia do Sarriá”.
Carlos também jogou o Mundial de 1986, assumindo o posto de titular deixado por Waldir Peres, porém na época ele já vestia a camisa do Corinthians, onde se sagraria campeão paulista de 1988.
Em meados dos anos 70, Carlos já havia tido experiência como titular da Seleção Brasileira na disputa dos Jogos Olímpicos de 1976, em Montreal, no Canadá, após participar dos Jogos Pan-Americanos de 1975, na Cidade do México, e do Torneio Pré-Olímpico Sul-Americano de 1976.
Referência para Sérgio Guedes
“Eu tive Carlos como espelho e referência numa época em que a base da Ponte revelava muita gente boa. Aprendi bastante com ele e as minhas lembranças são as melhores possíveis”, afirmou o ex-goleiro e técnico pontepretano Sérgio Guedes, de 59 anos, em contato com a reportagem do Hora Campinas.
Inicialmente reserva de Carlos, virando titular após a saída de seu , Sérgio Guedes é o quarto goleiro com mais jogos pela Ponte Preta, com 183 partidas disputadas entre 1984 e 1988, quando se transferiu para o Santos. Como jogador do Peixe, ele integrou a delegação brasileira na Copa América de 1991, sediada no Chile e vencida pela Argentina.
Quem aparece em terceiro lugar no ranking de goleiros com mais jogos pela Ponte Preta é o campineiro João Brigatti, com 202 partidas. Revelado no Majestoso, ele também faz parte da linhagem de goleiros que vestiram a amarelinha, já que acumulou convocações para disputar competições de base pela Seleção Brasileira no início da década de 80, sagrando-se campeão sul-americano e mundial sub-20 em 1983.
Embora não tenha sido formado na Ponte Preta, o goleiro Luís Henrique Dias também chegou à Seleção Brasileira e ainda conquistou a primeira medalha olímpica do futebol brasileiro: prata nas Olimpíadas de 1984, em Los Angeles. Na época, ele atuava na Macaca ao lado do centroavante Chicão, que também foi convocado por Jair Picerni, ex-jogador e treinador pontepretano, para a disputa daquela edição dos Jogos Olímpicos.
Anos 90 e 2000
Entre o fim dos anos 90 e início dos 2000, dois xarás chamados Alexandre prosseguiram a tradição pontepretana de goleiros formados no clube que defenderam a Seleção Brasileira. A começar por 1999, Alexandre Fávaro foi convocado pelo técnico Vanderlei Luxemburgo para dois amistosos preparatórios para as Olimpíadas de 2000, em Sydney, ambos contra a Austrália. Natural de Paulínia, Fávaro atuou pela Ponte Preta entre 1998 e 2001.
Já em 2003, Alexandre Negri apareceu na lista de convocados do técnico Ricardo Gomes para a Copa Ouro de 2003. Conterrâneo do histórico goleiro pontepretano Carlos, ambos nascidos em Vinhedo, Negri é bastante lembrado pela defesa de um pênalti cobrado por Edu Dracena nos acréscimos do segundo tempo, em Dérbi Campineiro contra o Guarani que terminou empatado em 1 a 1, pelo Torneio Rio-São Paulo de 2002.
♦ Confira abaixo depoimento do goleiro Alexandre Negri, que defendeu a Ponte Preta entre 1999 e 2004, concedido de forma exclusiva ao Hora Campinas:
Ivan, o último da linhagem
Atualmente em atividade, com 25 anos, Ivan Quaresma é o último goleiro da Ponte Preta que chegou à Seleção Brasileira. Ele foi convocado e escalado como titular no Torneio de Toulon de 2019 e no Pré-Olímpico de 2020. Também apareceu em duas listas de convocação do técnico Tite, na mesma época.
Formado nas categorias de base da Ponte Preta, Ivan disputou 163 jogos pelo clube entre 2016 e 2021, o que lhe confere a oitava posição no ranking dos goleiros com mais partidas pela Macaca.
Ivan deixou o Majestoso em janeiro deste ano, transferindo-se para o Corinthians, mesmo time contra o qual defendeu um pênalti em seu primeiro jogo como titular pela Ponte Preta, em 2018, no Pacaembu.
Nesta temporada, Ivan entrou em campo apenas duas vezes pelo Timão e foi envolvido em uma negociação com o Zenit, da Rússia, onde tenta retomar a carreira para tentar retornar à Seleção Brasileira no futuro.
Aranha só atrás de Carlos nos números
Segundo goleiro que mais atuou pela Ponte Preta, atrás apenas do ídolo Carlos, o goleiro Aranha não chegou a ganhar oportunidades na Seleção Brasileira, mas possui um currículo de respeito, com passagens por equipes gigantes do futebol brasileiro, como Santos, Palmeiras e Atlético-MG.
Mas nada disso seria possível se Aranha não tivesse sido formado na Macaca, onde se profissionalizou e participou das memoráveis campanhas dos vice-campeonatos paulista de 2008 e 2017.
Em ambas as ocasiões, ele defendeu pênaltis decisivos que ajudaram a equipe a avançar de fase no mata-mata. Em 2008, ele pegou uma cobrança no tempo normal, na semifinal contra o Guaratinguetá. Já em 2017, brilhou na disputa por pênaltis diante do Santos nas quartas, salvando um dos chutes a partir da marca da cal.
Ao todo, Aranha disputou 209 jogos com a camisa da Ponte Preta, entre 2004 e 2009, e depois entre 2016 e 2018, em sua segunda passagem pelo clube.
♦ Confira abaixo depoimento de Aranha, concedido de forma exclusiva ao Hora Campinas:
Lauro, o único goleiro pontepretano que sentiu o sabor das redes
Aos 41 anos, Lauro é o atual preparador de goleiros da Ponte Preta, contratado no início da temporada em uma reformulação da comissão técnica promovida pelo presidente Marco Antonio Eberlin, eleito no fim do ano passado.
Quinto goleiro que mais atuou pela Macaca na história, com 172 jogos, Lauro despontou para o futebol justamente com a camisa alvinegra, a qual vestiu entre 2001 e 2005.
No dia 3 de agosto de 2003, Lauro marcou um improvável gol de cabeça no último lance da partida entre Ponte Preta e Flamengo, evitando a derrota de sua equipe e garantindo o empate em 1 a 1, no estádio Moisés Lucarelli, pelo Campeonato Brasileiro.
O gol marcado por Lauro, em 2003, representa um feito inédito e único até hoje para um goleiro da Macaca.
Por incrível que pareça, Lauro repetiu a dose exatamente 10 anos depois, novamente em um duelo que terminou em empate em 1 a 1 com Flamengo, porém desta vez como jogador da Portuguesa, em duelo disputado em agosto de 2013, no estádio Mané Garrincha, em Brasília.