Seguindo uma tradição que começou há várias décadas com os pioneiros atletas Argemiro Roque, entre os homens, e Conceição Geremias, entre as mulheres, a cidade de Campinas marcou presença e teve representação digna nos Jogos Olímpicos de 2024, em Paris.
O principal destaque ficou por conta da zagueira campineira Thaís Ferreira, de 28 anos, que conquistou medalha de prata com a Seleção Brasileira de Futebol Feminino. No total, o Brasil faturou 20 medalhas: três de ouro, sete de prata e 10 de bronze.
A jogadora de futebol campineira atuou como titular em quatro dos seis jogos da campanha do vice-campeonato olímpico brasileiro, incluindo a vitória por 1 a 0 sobre a anfitriã França, nas quartas de final, e a goleada por 4 a 2 sobre a Espanha, na semifinal.
As brasileiras bateram na trave mais uma vez e não conseguiram conquistar a inédita medalha de ouro, perdendo a grande decisão por 1 a 0 para os Estados Unidos, mesmo carrasco das decisões dos Jogos Olímpicos de 2004, em Atenas, e 2008, em Pequim.
A equipe comandada pelo técnico Arthur Elias, e liderada dentro de campo pela veterana craque Marta, que deve se aposentar da seleção, também contava com a lateral-direita Antônia Silva e a atacante Kerolin, ambas com passagem pelo futebol campineiro.
Dos 277 integrantes da delegação brasileira nas Olimpíadas de Paris-2024, foram três atletas nascidos em Campinas – o ginasta Arthur Nory, o velocista Eduardo de Deus e a jogadora de futebol Thaís Ferreira, que voltou com medalha de prata no peito – e outros quatro que jogam ou treinam atualmente na cidade, como Valdileia Martins, que alcançou recorde no salto em altura.
Outro grande destaque do esporte de Campinas nas competições olímpicas em Paris foi a saltadora Valdileia Martins, de 34 anos, integrante da da equipe Orcampi de atletismo, que atingiu a incrível marca de 1,92m no salto em altura e igualou o recorde brasileiro feminino estabelecido por Orlane Maria dos Santos, em 1989, em Bogotá, na Colômbia.
Classificada com a 6ª melhor marca da bateria dela e a 11ª na classificação geral, Valdileia acabou abandonando a disputa por medalha após sentir o tornozelo esquerdo ao iniciar a corrida para fazer o primeiro salto da decisão.
Além da necessidade de superação pelo problema físico, com a lesão sentida ainda na semifinal, a atleta ainda precisou enfrentar a dor pela perda do pai, Israel Martins, que morreu no dia 29 de julho,aos 74 anos, vítima de um ataque cardíaco, às vésperas da estreia da filha nos Jogos Olímpicos de Paris.
Paranaense, natural de Querência do Norte, Valdileia Martins é integrante da equipe Orcampi de atletismo, assim como os atletas Eduardo de Deus, esse campineiro, de 28 anos, que acabou eliminado na semifinal dos 110m com barreiras, e Tiffani Marinho, de 25 anos, nascida em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, que nem sequer conseguiu chegar às semifinais dos 400m.
Medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos Rio-2016, na prova masculina de solo, o ginasta campineiro Arthur Nory, de 30 anos, não conseguiu repetir o feito de oito anos atrás e disse adeus à Paris da mesma forma que havia se despedido de Tóquio, em 2021: decepção por não chegar à final da barra fixa, sua especialidade.
Uma das principais equipes do vôlei brasileiro atualmente, o Vôlei Renata, de Campinas, contou com dois representantes nas Olimpíadas de Paris-2024: o experiente levantador Bruninho, de 38 anos, e o jovem ponteiro Adriano, de 22 anos.
Campeão olímpico no Rio em 2016, além de duas vezes prata (Pequim-2008 e Londres-2012), Bruninho deve se aposentar da seleção após sua quinta participação em Olimpíadas. Em Paris, ele foi capitão da equipe comandada por Bernardinho, seu pai, que acabou eliminada nas quartas de final para os Estados Unidos. Bruninho também é filho de Vera Mossa, ex-jogadora de vôlei, que atuou em Campinas e atualmente vive na cidade.
Os pioneiros olímpicos de Campinas
O início da relação da cidade de Campinas com os Jogos Olímpicos remete ao fim dos anos 1940, quando o então técnico da equipe de atletismo do Brasil, Aluízio de Queiroz Teles (1913-2009), embarcou rumo à Inglaterra para a disputa dos Jogos Olímpicos de 1948, em Londres, aos 35 anos. Embora tenha nascido em Jundiaí, Aluízio veio com poucos dias de vida para Campinas, onde cresceu e começou a carreira esportiva.
O atletismo também é a modalidade que praticavam os dois primeiros atletas de Campinas da história dos Jogos Olímpicos, Argemiro Roque e João Pires Sobrinho, ambos ligados ao tradicional Clube Campineiro de Regatas e Natação.
Mesmo natural de Itatiba, Argemiro Roque (1923-1998) é considerado o primeiro esportista de Campinas a competir em uma Olimpíada, pois sempre viveu na cidade. Aos 29 anos, Argemiro participou das provas individuais de 400 e 800 metros nos Jogos Olímpicos de 1952, em Helsinki, na Finlândia.
Quatro anos depois, chegaria a vez de João Pires Sobrinho, este, sim, campineiro nato, nascido em 1934. Ele tinha apenas 21 anos quando representou a cidade nas Olimpíadas de Melbourne, na Austrália, em 1956, nas provas de 100m, 200m e 4x100m.
Argemiro Roque e João Pires Sobrinho são contemporâneos de um dos maiores nomes da história do esporte brasileiro, Adhemar Ferreira da Silva (1927-2001), primeiro bicampeão olímpico do país, que conquistou medalhas de ouro no salto triplo em 1952, quebrando o recorde mundial, e em 1956. Ele também foi tricampeão pan-americano (1951, 1955 e 1959), estabelecendo novas marcas históricas.
No início dos anos 60, Argemiro Roque aposentou-se das pistas de atletismo e passou a se dedicar à função de treinador, descobrindo jovens talentos como a de sua futura esposa, Odette Valentino.
Falecida em 2023, aos 89 anos, Odette teve uma trajetória vitoriosa nas modalidades de arremesso de peso e lançamento de disco e dardo, chegando perto de participar das Olimpíadas de 1964, em Tóquio.
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A pentatleta Elizabeth Cândido Nunes, que quase disputou os Jogos Olímpicos de 1972, em Munique, também foi uma das das principais discípulas de Argemiro Roque, o primeiro competidor olímpico de Campinas. Elizabeth faleceu em 2020.
No entanto, a maior pupila de Argemiro Roque atende ao nome de Conceição Geremias, uma das maiores atletas brasileiras do heptatlo, competição de atletismo que reúne as provas de 100 metros com barreiras, salto em altura, arremesso de peso, 200 metros rasos, salto em distância, lançamento de dardo e 800 metros rasos.
Especialista no heptatlo, Conceição Geremias tornou-se a primeira mulher campineira a disputar uma edição de Jogos Olímpicos, em 1980, em Moscou, aos 24 anos. Ao todo, foram três participações ao longo daquela década. Ela também esteve nas Olimpíadas de 1984, em Los Angeles, e de 1988, em Seul.
Em 1983, Conceição Geremias conquistou medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Caracas, na Venezuela, feito até então inédito para o heptatlo feminino brasileiro. De quebra, estabeleceu o recorde sul-americano de 6.017 pontos, que perdurou durante 25 anos.
Atualmente aos 68 anos, Conceição se recupera da amputação de parte da perna esquerda, em decorrência de complicações de uma cirurgia na planta do pé, após diagnóstico de síndrome do túnel do tarso.