Campinas perdeu um símbolo do esporte e da comunidade negra. Odette Valentim Domingos, ex-atleta e multicampeã em competições nacionais e internacionais, morreu aos 89 anos. A causa da morte não foi informada. Não há ainda informações sobre o velório e sepultamento. “Tia” Odette, como preferia ser chamada, era uma figura icônica para os integrantes do Exército brasileiro. É que, mesmo octagenária, seguia com seu espírito jovem, treinando alunos da Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), em Campinas.
O corpo de Odette será velado nesta terça-feira (28), no Cemitério da Saudade, em Campinas, das 8h às 10h. O enterro será às 10h30, no mesmo local.
Aliás, é da Escola de Cadetes que virão as maiores homenagens a este símbolo do esporte. Eram frequentes suas aparições em eventos na unidade. Em setembro de 2019, por exemplo, antes da pandemia da Covid-19, ela foi homenageada na EsPCEx, com direito a bolo e parabéns.
Odette Domingos, atleta de lançamento de disco, tetracampeã sul-americana e 29 vezes campeã brasileira, seguiu disputando torneios master até pouco tempo. Participava, inclusive, do Troféu Brasil nas provas de lançamento de disco, dardo e arremesso de peso na categoria 75 anos.
Biografia da Tia Odette (por ExPCEx)
Vinda do Interior de São Paulo, espalhou destaque e reconhecimento para os cinco continentes do globo, sempre viajando para competir. Entre suas conquistas destacam-se: campeã dos Jogos Abertos de Interior diversas vezes, dos Jogos Regionais, Paulista, Brasileira; pentacampeã sul-americana e master; participou também do campeonato pan-americano e conseguiu cinco títulos mundiais, atingindo o recorde de 53 metros no lançamento de disco, chegando muito próximo de participar das Olimpíadas de 1964, no Japão.
Mais de 3 mil troféus e medalhas abrilhantam as paredes de sua casa.
Uma mulher encantadora e de personalidade forte, Tia Odette é um exemplo de esforço e de determinação. Ela afirma ter esperança nos jovens responsáveis pelo futuro do Brasil e, é claro, nutre uma grande paixão pelo Exército, instituição pela qual foi bastante apoiada em sua carreira por causa de seu companheiro, Argemiro Roque, que já treinava alunos da EsPCEx.
Desde criança, tinha um sonho e se esforçava por ele: o esporte. Odette carregava consigo uma longa história de sangue, suor e lágrimas, mas nunca se deixou abalar pelas dificuldades da vida. Nascida na “roça”, com pais humildes, mudou-se para a cidade de Campinas na busca de uma vida melhor, trabalhando como empregada doméstica para se sustentar e investir em sua paixão.
Chegou até mesmo a ser merendeira de uma creche municipal, mas sempre dedicada ao treinamento, principalmente, quando com 16 anos, conheceu seu maior apoiador, o treinador Argemiro Roque, que tempos depois se tornaria seu companheiro, o primeiro e único namorado dela.
Seu treinamento foi permeado por desafios: em suas primeiras competições, Odette não tinha roupas para participar e ficou à mercê da criatividade para fazer seus próprios trajes a partir de roupas velhas. Em outras ocasiões, a atleta também passou apertos. Em uma copa latina, na qual disputava lançamento de disco, estava com as sapatilhas rasgadas. Sua alternativa então foi competir com remendos de esparadrapo e, para a surpresa geral, conquistou seu terceiro recorde Sul-Americano.
Todo seu sucesso foi devido aos treinos, que eram praticamente como competições, pois que “Tia Odette” trabalhava durante todo o dia para treinar de noite, muitas vezes sem comer. Mas a vida não era feita apenas de obstáculos; Odette era uma mulher extremamente dedicada e, fruto disso, conquistou diversos títulos e prêmios.
Apesar da carreira internacional cheia de títulos — e do enorme respeito dentro da comunidade esportiva —, Odete nunca conseguiu guardar dinheiro. Apenas recentemente quitou a casa própria. Antes, viveu pagando aluguel.
Ela morava em um imóvel simples, de seis cômodos, no Jardim Flamboyant. Na fachada, revestida com tijolinho à vista, chama a atenção as esculturas de animais espalhadas pela garagem.
Tia Odette vivia rodeada de cães, maritacas e papagaios em sua casa.
RIP
05/09/1934
27/11/2023
Leia também:
Odette Domingos: resiliência e força da natureza em prol do atletismo; veja vídeos e fotos