O que vai acontecer com o meu filho quando eu morrer? Quem vai seguir com ele nessa caminhada chamada vida? Essas são grandes questões enfrentadas por muitos pais, principalmente mães, com filhos com deficiência. E foi a partir deste incômodo que surgiu o Projeto ASAS, um método que se propõe a criar, fortalecer e ampliar a rede de apoio para pessoas com deficiência, visando que elas possam envelhecer com maior autonomia e qualidade de vida.
A metodologia do projeto ASAS foi desenvolvida no Canadá há mais de 20 anos, pelo Plan Institute, e já é aplicada em diversos países. Inclusive, no Canadá, já faz parte da política pública. Em 2020, a ASID – Ação Social para Igualdade das Diferenças foi responsável por trazê-la ao Brasil.
O projeto chegou a Campinas por meio da FEAC em parceria com a ASID e está percorrendo diferentes instituições da cidade. “A ASID está capacitando Organizações da Sociedade Civil (OSC), de Campinas, que são parceiras da FEAC e atuam com a inclusão da pessoa com deficiência. O objetivo é repassar a metodologia do ASAS para que essas OSC a apliquem com as famílias que as frequentam”, conta Viviane Machado, líder do Programa Mobilização pela Autonomia, da FEAC.
O ASAS trabalha com questões relacionadas ao futuro, que passam inclusive pelo tema da morte dos pais e tutores das pessoas com deficiência. Mas o projeto também olha para os sonhos e aspirações da pessoa com deficiência. O ASAS busca trazer ferramentas para que essas pessoas sejam efetivamente incluídas e se sintam de fato pertencentes à sociedade.
Lisabeth Aleoni Arruda, que participou do projeto-piloto e é mãe de Claudio Aleoni Arruda, 37 anos, que tem síndrome de Down e conta sobre o impacto do projeto ASAS na vida da família. “Foi imensurável, causou transformações, trouxe um outro olhar para novas possibilidades, a concretização de ações, o tira-teima do que de fato pensamos e queremos pôr em prática”, lembra.
Ela conta que Claudio sempre foi estimulado a ser independente, mas o ASAS ampliou ainda mais o olhar deles. Lisabeth ressalta que a rede de apoio, tão trabalhada no ASAS, é muito importante para todos, e para pessoas com deficiência é ainda mais necessária. “Mesmo que a pessoa com deficiência tenha autonomia em diferentes setores, ela sempre vai precisar de apoio”, diz.
Foi durante a participação no projeto ASAS que Lisabeth descobriu que seu filho Claudio gostaria de morar com uma prima, quando os pais não estiverem mais aqui. “Foi muito bom saber que essa era a vontade dele e isso nos fez olhar para a rede de apoio. Depois que ele expressou isso, conversamos com essa prima que demonstrou estar aberta para essa possibilidade”, conta Lisabeth.
Entre cavalos e empreendedorismo
Desde pequeno Claudio sempre foi apaixonado por cavalos, aos 5 anos aprendeu a montar com o pai, na fazenda da avó, em Minas Gerais. Ele ingressou na Sociedade Hípica Paulista e, aos 15 anos, se tornou cavaleiro. “Ele foi o primeiro aluno com Síndrome de Down da Escola de Equitação da Sociedade Hípica Paulista” a vencer campeonatos pela Federação Paulista de Hipismo”, conta Lisabeth.
Como sempre incentivaram sua independência e autonomia, aos 19 anos teve seu primeiro emprego com carteira assinada numa rede de restaurante. “Após quatro anos, pediu demissão para trabalhar com cavalos e atuou por 10 anos na Escola de Pônei da Sociedade Hípica Paulista”, conta a mãe. A pandemia mudou a vida da família de Claudio e eles mudaram de São Paulo para o interior, em Piracicaba, onde ele tomou a decisão de pedir demissão do seu trabalho da Hípica Paulista.
Claudio que já era palestrante, durante seu percurso no projeto ASAS, decidiu que iria empreender. Ele fez cursos de capacitação de escritório, audiovisual, inglês, programa de educação ao trabalho, e empreendedorismo. Abriu uma MEI (Microempreendedor individual) para formalizar seu trabalho com sua empresa ClaHipismo. Se tornou embaixador oficial da ASID Brasil e é embaixador oficial da Iniciativa Kids.
“Como palestrante aborda temas como inclusão social, inclusão pelo esporte, inclusão no mercado de trabalho, conta sua história de vida e trabalha valores como acessibilidade, autonomia e independência, além de participar nas empresas em rodas de conversas e mesa redonda”, conta Lisabeth. Ela conta ainda que ele também realizou seu sonho de ser garoto de propaganda e influenciador digital, outra meta definida durante o projeto ASAS.
Nesse trajeto Claudio segue concretizando muitos sonhos, construindo caminhos e mostrando que é preciso acreditar na potencialidade de cada pessoa para que ela possa voar rumo a todos os seus sonhos.
Kátia Camargo é jornalista e caçadora de boas histórias