A pandemia do novo coronavírus tem forçado o distanciamento social e a suspensão de projetos pessoais de muita gente. A área do ensino foi uma das mais afetadas nesse período de mais de um ano de incertezas. Diversos cursos foram paralisados e a formação de muitos jovens ficou ameaçada. Para contornar essa situação foi implementado em Campinas o Programa Ser e Conviver, uma parceria entre a Prefeitura e a instituição Ensino Social Profissionalizante (Espro). Sem fins lucrativos, a entidade capacita e insere adolescentes e jovens no mundo do trabalho. O programa modelo, adaptado totalmente para o ensino a distância, tem ajudado cerca de 30 adolescentes entre 15 e 17 anos a se prepararem para alcançar seus objetivos.
Umas das adolescentes atendidas pelo projeto é a estudante Rayssa Oliveira da Silva, de 15 anos, moradora do bairro Vida Nova. O sonho dela é um dia poder fazer um intercâmbio. Com a pandemia de Covid-19, a estudante viu seu projeto ameaçado, uma vez que precisa não só continuar a estudar, como manter atividades extracurriculares de capacitação. “Estou muito empolgada com o programa porque eu quero fazer intercâmbio no Canadá para estudar e até trabalhar. As aulas pela internet têm me ajudado muito a entender sobre vários assuntos que eu vou usar no futuro”, diz.
A estudante participa do programa três vezes por semana. “Sempre das 8h às 12h. A gente fala sobre empreendedorismo, que eu achei muito interessante e que vai ajudar para a vida. Tem muitos outros assuntos legais. Com certeza esses ensinamentos deveriam ter na escola pública, acho que o que falta é isso. Seria bom se todos os outros estudantes pudessem ter isso, iria mudar muita coisa na sociedade”, afirma a jovem que sonha morar no Canadá.
“Durante as aulas, a gente nem vê a hora passar”, resume Caio Eduardo Pimentel de Oliveira, 16 anos, que participa do programa. “Achei que o curso seria diferente, cada um no seu canto fazendo sua lição, mas mesmo pela internet tem muita conversa, muita participação de todos”, diz o estudante, cujo objetivo é ser técnico em informática.
“Nosso objetivo principal é despertar aptidões e competências para que adolescentes e jovens sejam cidadãos críticos e protagonistas de sua própria história”, afirma Alessandro Saade, superintendente executivo do Espro.
O Ser e Conviver é voltado a adolescentes e jovens em situação de alta vulnerabilidade, encaminhados por programas sociais da prefeitura. A grade é de 520 horas de atividades: os adolescentes participam de três aulas de quatro horas cada por semana.
São 320 horas de oficinas com temáticas voltadas a pilares da família, inclusão digital, sexualidade e drogas, cidadania, arte e cultura, entre outros. Outras 200 horas envolvem capacitação para o mundo do trabalho, com aulas sobre empreendedorismo, matemática, planejamento, gestão de tempo e até entrevistas simuladas.
Metodologia para meio digital
Alessandro Saade, superintendente executivo do Espro, afirma que a adaptação da metodologia para o ensino a distância começou em março de 2020, com as turmas do Programa de Aprendizagem. Segundo ele, o novo formato proporciona, ainda, o desenvolvimento da Educação 4.0, com a inclusão de novas competências em tecnologias. “Criamos um ambiente virtual de aprendizagem que ressalta nossa metodologia ativa, que é a de um ensino construtivo. Por isso, temos professores-mediadores, para que o adolescente e o jovem sejam protagonistas na educação”, explica Saade.
Instrutor do programa, o pedagogo e psicopedagogo Thiago Ferreira Quintanilha passou por essa transformação presencial-virtual. Ele afirma que as oficinas pela internet têm proporcionado aos estudantes uma nova visão e uma melhor capacitação sobre as ferramentas digitais. “É claro que o contato presencial é positivo sob o ponto de vista de sentirmos melhor as emoções dos participantes. Com a nova plataforma, porém, não perdemos nada em participação, atenção e desempenho, com a segurança do distanciamento e a vantagem de inserir novas tecnologias no aprendizado”, avalia Quintanilha.
Instituto de ex-corredor oferece base escolar
Como forma de também amenizar os impactos negativas da pandemia na Educação, o Instituto Vanderlei Cordeiro de Lima, com sede em Campinas, oferece apoio pedagógico aos jovens do Ensino Fundamental e Médio. Comandado pela psicopedagoga Ana Carolina Gallo, a iniciativa tem como objetivo despertar as potencialidades escolares e minimizar as possíveis fragilidades dos participantes.
O projeto auxilia o trabalho que o instituto já realiza com o acompanhamento psicossocial. “Identificamos que muitos jovens estão enfrentando dificuldades para acompanhar as aulas nesse período de pandemia. Com a integração de uma psicopedagoga para reforçar a nossa equipe multidisciplinar e oferecer esse importante auxílio para os beneficiários, entendemos que nossa ajuda poderá ser muito mais eficaz”, comenta Ricardo D´Angelo, coordenador do projeto.
“Em consultas realizadas com o público que atendemos, identificamos falta de motivação para o estudo e dificuldades com a leitura e escrita”, relata o coordenador.
Pensando nas muitas crianças que não possuem dispositivos e nem acesso à internet para acompanhar as aulas remotas, a entidade adquiriu computadores e aprimorou o acesso à rede para que os jovens possam utilizar o espaço para as atividades. As atividades são realizadas em pequenos grupos, de acordo com a demanda e escolaridade dos participantes.
Considerando a faixa etária atendida, também será oferecida uma preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e orientação para concursos públicos. “Estamos muito otimistas com a implantação dessa ação, que era um desejo antigo do instituto. É um desafio para toda a nossa equipe e tenho certeza de que teremos muitos resultados importantes. Já estão acontecendo os encontros motivacionais. Nas próximas semanas começaremos com os clubes de leitura, de oratória, grupos de debates, jogos, oficina de redação, entre outras atividades”, conta Ricardo.
Sobre as entidades
O Instituto Vanderlei Cordeiro de Lima (IVCL) foi fundado em 2008 e proporciona a prática lúdica do atletismo, aliada às atividades educativas e culturais, a crianças e adolescentes dos 6 aos 17 anos. Embora esse não seja o principal objetivo, a descoberta de talentos acaba sendo uma consequência desse trabalho e pela experiência da equipe técnica envolvida, os jovens valores são direcionados para seguirem carreira profissional.
Para ingressar no projeto é obrigatório que o participante comprove que está regularmente matriculado na escola, bem como suas notas e frequências em aulas. Como se sabe, Vanderlei Cordeiro de Lima foi um dos maiores corredores na história do atletismo brasileiro. Ainda em atividade, tinha o sonho de criar um projeto que ampliasse oportunidades e oferecesse condições de acesso ao esporte para jovens de baixa renda. Saiba mais em http://www.ivcl.org.br
O Espro existe há 40 anos, está presente em todo o Brasil, e alcança mais de 2,2 mil municípios. A entidade foca na formação de adolescentes e jovens em busca do primeiro emprego e já realizou 340 mil encaminhamentos e 852 mil atendimentos sociais. Desenvolve ainda projetos e ações que envolvem as famílias e comunidades dos aprendizes. Os jovens podem se inscrever pelo site https://www.espro.org.br