Durante um ano, em meio à pandemia de Covid-19, a Oficina de Culinária, que existe desde 1995 no Lar do Velhinhos e tem como objetivo promover a saúde e bem-estar dos idosos por meio de preparo de receitas que resgatem sua memória afetiva, gravou, fotografou, registrou e trocou muitas receitas e conversas inspiradoras e valiosas durante o preparo dos pratos.
Agora, o resultado de parte do projeto, idealizado em parceria com o Programa de Acolhimento Afetivo da FEAC, pode ser conferido no e-book Carinho que Alimenta, com download gratuito no site da FEAC.
“Com a chegada da pandemia e o isolamento social, não estávamos recebendo visitas ou realizando passeios, e a culinária se tornou um refúgio para os idosos que anteriormente não participavam de nenhuma das atividades”, relata Giselle Habermann Pera, responsável Técnica da Oficina Culinária, na página de introdução do e-book.
Dentre as receitas que relembraram sabores já esquecidos, lugares especiais e pessoas queridas, estão mousse de maracujá, cuscuz de camarão, tiramisù , pão caseiro e geleia de frutas vermelhas, biscoitinho de nata, strudel de maçã, sorvetão, pavê, quiche de cebola, canjica e manjar de coco com calda de ameixa e bacalhoada.
Para algumas pessoas que moram no Lar dos Velhinhos, a oficina de culinária promove um encontro com as lembranças da mãe ou da avó cozinhando pratos inesquecíveis. Para outros, o encontro com a cozinha é uma forma de dar vida para uma receita e a partilha é um dos grandes momentos. E ainda há aqueles para quem as receitas nasceram da experiência de terem provado em algum restaurante e jamais esquecido o sabor.
A Oficina Culinária faz tanto sucesso que virou até um poema pelo morador Raimundo, que faz questão de eternizar a vida em poesia. Os versos também podem ser conferidos no livro de receitas.
Jéssica Rossi Bueno, assistente de comunicação do Lar dos Velhinhos, conta que por meio do Programa Acolhimento Afetivo da FEAC eles conseguiram investir e melhorar ainda mais a Oficina Culinária. “Nós tivemos a oportunidade de adquirir utensílios de cozinha e eletrodomésticos melhores, que facilitaram muito o manuseio para os idosos. E agora estamos em processo de reformulação da cozinha, que ficará ainda mais bonita e organizada”, destaca.
Eles também fizeram uma série de vídeos que podem ser conferidos no canal do Youtube do Lar dos Velhinhos.
Essa iniciativa trouxe para a cozinha alguns moradores que não participavam de nenhuma atividade. “Resgatamos memórias afetivas dos idosos que cozinhavam antigamente, alguns descobriram novas habilidades e criaram novos vínculos de amizade. A socialização foi um ponto que conseguimos reforçar bastante. Isso foi ideal para ajudá-los a passar pelos momentos de isolamento. E também pudemos aproveitar todos os benefícios terapêuticos que a culinária oferece, como melhora na coordenação motora, concentração, raciocínio lógico e diversos estímulos cognitivos”, diz.
Kátia Camargo é jornalista e gosta muito de saber as histórias que os pratos carregam. Em suas leituras sobre o tema se deparou com o livro Minha mãe fazia, escrito por Ana Holanda. A autora conta que durante o processo de escrita do livro, que liga receitas a suas histórias, resgatou muitas lembranças (algumas queridas outras doídas) e fez mergulhos profundos dentro dela mesma.
Apesar de não ter estado presente na oficina de culinária do Lar dos Velhinhos, ao olhar para as fotos durante a produção do projeto, tive a certeza de que eles se divertiram ao preparar e saborear um pão quentinho recém-saído do forno, uma canjica ou uma bacalhoada. Por isso, a música escolhida foi baseada no impacto que o projeto causou na expressão de cada participante: “Não se preocupe, seja feliz agora!”