As dançarinas Elisa Costa, Mariana Jorge e Nara Cálipo, do Núcleo BPI, estreiam em setembro o espetáculo de dança “Mulheres de Arrimo”. A primeira apresentação acontece nesta sexta-feira (1º), às 20h, no Centro Cultural Casarão, localizado no distrito de Barão Geraldo, em Campinas. O trio também realizará outras sessões na cidade, além de levar o espetáculo para palcos de Hortolândia e Jaguariúna.
Os ingressos são gratuitos e mais informações podem ser conferidas no Instagram do grupo, em @mulheresdearrimo.
Em “Mulheres de Arrimo” as três dançarinas convidam o público a refletir e sentir, através do contato com a dança contemporânea, sobre as diferentes maneiras pelas quais as mulheres estão inseridas nas estruturas do patriarcado e do capitalismo – e como isso as afeta, individual e coletivamente.
“De repente, nos vemos como arrimo de uma estrutura que não foi feita por nós e nem para nós. Assumimos o desmanche para poder dançar aquelas que são exiladas. Damos permissão para que bailem as nossas partes rejeitadas, não aceitas e que não cabem nas realidades que nos foram impostas”, conta o grupo.
“Este é um convite ao delírio para responder à urgência de transgredir normas enrijecidas, através do corpo em movimento. Entre arrimar e desmoronar se faz o pulso de nós três, para que possamos encarnar, a cada momento, a força truculenta de estarmos vivas.”
Para a apresentação, o trio conta com o apoio do Núcleo BPI, do qual fazem parte. Através de seu método criado pela professora e diretora artística Graziela Rodrigues, a equipe realizou diversas pesquisas, rastreamentos e idas a campo que visaram um encontro com as ‘mulheres de arrimo’ presentes nas ruas do centro da cidade, em comunidades e acampamentos.
“O que se vê neste trabalho é uma força de se colocar em pé, que se sustenta precariamente e desarrima, um movimento de destruição e reconstrução constantes”, explica Mariana Jorge, uma das integrantes do coletivo.
“Queremos com este espetáculo provocar reflexões sobre construções sociais, mas fazendo isso também com um certo humor, uma ironia e uma ruptura”.
O projeto “Mulheres de arrimo: transgredir para amar” é uma realização do Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas.
Pesquisas de campo
Muitas mulheres – e suas vivências – compõem, de forma subjetiva, o espetáculo “Mulheres de Arrimo”. Como parte do Método Bailarino-Pesquisador-Intérprete, aplicado pelas dançarinas no processo de construção desta obra, as idas à campo foram realizadas com objetivo de deslocar dos ambientes normativos da dança e das concepções estáveis de corpo e movimento. Assim, a feitura da dança foi concebida a partir da relação com saberes situados em contextos invisibilizados.
Tais visitas foram realizadas no Acampamento Marielle Vive, do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), localizado em Valinhos, e também nas ruas do Centro de Campinas – mais especificamente em contato com mulheres em situação de rua e em vivência imersiva na tradicional lavagem das escadarias da Catedral Metropolitana. Além disso, também foram estabelecidos vínculos com cidadãs que passavam pelas ruas e no Mercado Municipal, local de intenso fluxo de pessoas na cidade.
“O encontro com outras mulheres, em situações radicalmente diferentes das nossas, nos acorda. Ressoa em nossas partes sufocadas e escancara uma força de ruptura, de dizer ‘não quero’, de querer fazer diferente, amar diferente, abrir o peito, estar mais viva. Temos o direito de ser muitas, para além do que esperam de nós. Ressoar com outras mulheres e com a diversidade delas acorda partes importantes de mim”, afirma Mariana Jorge.
Arrimo em cena
Para apresentar “Mulheres de Arrimo”, o grupo de dançarinas escolheu dois palcos em Campinas – o Centro Cultural Casarão e a Sala dos Toninhos. Em cada local serão feitas duas apresentações, sendo que no segundo haverá uma sessão com Audiodescrição aberta e tradução em Libras para o público geral.
O ciclo ainda inclui uma apresentação na Escola Augusto Boal, localizada no Jardim Amanda II, em Hortolândia, e no Teatro Municipal Dona Zenaide, que fica no Centro de Jaguariúna.
Elisa Costa conta que o processo criativo tem permitido ao grupo dançar as muitas mulheres que habitam cada dançarina. “Várias vezes a gente se sente despedaçada e ficamos falando que temos que juntar os pedaços e continuar. Nessa apresentação, nós nos permitimos estar fragmentadas e reconhecer cada parte, aceitar o desmonte e fazer brilhar cada caco no momento que for propício, possível ou necessário”, diz a dançarina.
“Existe uma generosidade no tanto que a gente se abre emocionalmente neste espetáculo, com tudo o que somos – e nós somos muito diferentes, mas em alguns momentos, de repente, a gente vira uma só”.
Segundo Nara Cálipo, a apresentação mostra uma certa rebeldia, um exercício de liberdade e de transgressão. “Há um conflito entre as estruturas impostas e nossos desejos, e isso nos arrebata de forma truculenta. Tudo isso precisa ser dito, e desta maneira. A sociedade nos constrange constantemente e carregamos conosco várias trajetórias, discutindo e dialogando com as realidades que a gente se propôs a tomar contato”.
PROGRAMAÇÃO
Campinas – Centro Cultural Casarão
Data: 01 e 02/set (sexta-feira e sábado), às 20h
Endereço: Rua Maria Ribeiro Sampaio Reginato, s/n, Barão Geraldo
Ingressos: Grátis
Acessibilidade: Não | Classificação etária: 14 anos | Duração: 50min
Campinas – Sala dos Toninhos
Data: 08/set (sexta-feira), às 16h; 28/set (quinta-feira), às 20h
Endereço: Rua Francisco Teodoro, Vila Industrial
Ingressos: Grátis
Acessibilidade: Audiodescrição aberta e Libras no dia 08 | Classificação etária: 14 anos | Duração: 60min
Hortolândia – Escola Augusto Boal
Data: 30/set (sábado), às 20h
Endereço: Rua Casemiro de Abreu, Jardim Amanda II
Ingressos: Grátis
Acessibilidade: Não | Classificação etária: 14 anos | Duração: 50min
Jaguariúna – Teatro Municipal Dona Zenaide
Data: 05/out (quinta-feira), às 20h
Endereço: Rua Alfredo Bueno, 1151, Centro
Ingressos: Grátis
Acessibilidade: Não | Classificação etária: 14 anos | Duração: 50min