Considerado um dos maiores árbitros da história do basquete, incluído no Hall da Fama da FIBA em 2007, o campineiro Renato Righetto (1921-2001) participou de inúmeros eventos e momentos importantes do esporte entre as décadas de 60 e 70.
Só para ter uma ideia, ao longo deste período, ele esteve presente em quatro edições de Jogos Olímpicos e apitou mais de 800 jogos internacionais na carreira, sendo um deles aquele que talvez seja o mais polêmico de todos os tempos: a decisão do torneio masculino de basquete da Olimpíada de 1972, em Munique, que colocou frente a frente Estados Unidos e União Soviética, as duas maiores potências mundiais da época, em plena Guerra Fria.
Na ocasião, em duelo disputado na noite de um sábado, dia 9 de setembro de 1972, data que completou exatamente 50 anos na última sexta-feira (9), Righetto se recusou a assinar a súmula depois de interferência externa em uma situação bastante controversa nos segundos finais da partida.
A determinação com abuso de autoridade do máximo dirigente da FIBA acabou ajudando os soviéticos a conquistar a inédita medalha de ouro e decretou a primeira derrota olímpica da história do basquete norte-americano, que até então mantinha hegemonia absoluta.
O Dia do Árbitro é comemorado neste domingo (11), em homenagem a esse profissional absolutamente indispensável para a prática ordenada de qualquer atividade esportiva, responsável por mediar o espetáculo dentro dos campos, quadras e demais espaços, interpretando e aplicando as regras de forma neutra.
Após ficar atrás do placar durante praticamente todo o tempo do confronto, os Estados Unidos conseguiram passar à frente ao converter dois lances livres faltando apenas três segundos: 50 a 49. Na saída de bola, os norte-americanos escaparam da última tentativa desesperada dos soviéticos, em um arremesso errado de longe, e saíram comemorando o sétimo título olímpico. Mal sabiam que o jogo ainda não havia chegado ao fim.
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O banco da União Soviética reclamou alegando que o cronômetro estava desajustado após pedido de tempo logo na sequência dos lances livres cobrados pelo adversário. Diante da polêmica, o então secretário-geral da FIBA, o britânico William Jones, desceu das tribunas do ginásio até a quadra para intervir na situação, ordenando que o relógio voltasse para três segundos.
O árbitro campineiro Renato Righetto não compactuou, mas mesmo assim o jogo recomeçou de trás da quadra e, desta vez, os soviéticos tiveram tempo suficiente e aproveitaram a última posse de bola para virar o placar: 51 a 50. Os Estados Unidos se sentiram prejudicados e não reconhecem até hoje a polêmica reviravolta que lhes custou a medalha de ouro.
Entre 1952 e 1964, os norte-americanos haviam sido quatro vezes campeões olímpicos justamente sobre a União Soviética no torneio masculino de basquete. Nos Jogos de Roma, em 1964, Righetto também tinha sido o responsável pelo apito na decisão.
Apaixonado pelo basquete, com uma carreira de árbitro que durou entre 1960 e 1977, Renato Righetto esteve presente nas Olimpíadas de 1960, em Roma; de 1964, em Tóquio; de 1968, na Cidade do México; e de 1972, em Munique. Ele também participou de várias edições de Campeonatos Mundiais e Jogos Pan-Americanos.
Além de Renato Righetto, os Jogos Olímpicos de 1972, em Munique, também contaram com as participações do nadador campineiro José Sylvio Fiolo, seu conterrâneo, formado nas piscinas do Regatas e do Guarani, e da nadadora Bel Guerra, natural da cidade de Mococa, que depois se tornaria professora da Faculdade de Educação Física da PUC-Campinas.
Ligados à cidade de Campinas, esses dois integrantes da delegação brasileira competiram nas mesmas águas onde o nadador norte-americano Mark Spitz entrou para a história ao conquistar sete medalhas de ouro, todas com direito a quebra de recordes mundiais.
As Olimpíadas de 1972 também ficaram marcadas pelo maior atentado terrorista já ocorrido durante um evento esportivo, que ficou conhecido como Massacre de Munique. Na madrugada do dia 5 de setembro, onze integrantes da delegação de Israel foram feitos reféns na Vila Olímpica e depois mortos pelo grupo palestino Setembro Negro. A tragédia completou 50 anos na semana passada.
Arquiteto de profissão e pontepretano de coração
Nascido no dia 30 de janeiro de 1921, em Campinas, Renato Righetto formou-se em 1946, na última turma do curso de Arquitetura da Escola de Belas Artes da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro.
No início de sua carreira, Righetto dedicou-se à arquitetura de edifícios comerciais e residenciais, projetando imóveis que seriam levantados por seu pai, o construtor italiano José Righetto.
Posteriormente, o campineiro dedicou-se ao paisagismo, sendo responsável pelo projeto paisagístico do Parque Taquaral, inaugurado em 1972, e pela remodelação do Largo do Rosário, iniciada em 1958 e concluída cerca de dez anos depois, quando foram inauguradas as marquises de concreto armado que fizeram parte da praça até 1998.
Nos anos 60, como dirigente das categorias de base da Macaca, Renato Righetto foi o responsável pela chegada ao Majestoso de ninguém menos do que o meia Dicá, que se tornaria o maior artilheiro da história do clube, além de recordista de partidas, com 155 gols em 581 jogos.
Com história ligada à Ponte Preta, seu time do coração, Renato Righetto dirigiu o departamento de esportes amadores do clube entre 1948 e 1951, ano em que a equipe alvinegra de basquete conquistou o título paulista do interior, com valores como Atis Monteiro e Ramon de Souza, o Romão, pai de Marcel e Maury de Souza, grandes ícones do basquete brasileiro entre os anos 70 e 90, com diversas participações em Olimpíadas e Mundiais.
Juntos na Seleção, Marcel e Maury conquistaram medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de 1987, em Indianápolis, superando os Estados Unidos por 120 a 115, em uma decisão histórica que completou 35 anos no último mês de agosto. Foi a primeira derrota dos americanos como anfitriões em toda a história da modalidade.
Renato Righetto faleceu no dia 18 de novembro de 2001, aos 80 anos, em sua terra natal. Ele tinha Alzheimer.