A Revolução Constitucionalista de 1932, que tem em Campinas um mausoléu e um momento bastante importantes, referência dessa resistência paulista às tropas federais de Getúlio Vargas, tem sua memória cada vez mais esvaziada por conta da morte dos ex-combatentes e da não preservação da história.
Pelo segundo ano consecutivo, por conta da Covid-19, não estão programadas solenidades em homenagem aos heróis da Revolução Constitucionalista de 1932. O advogado, historiador e ex-presidente da Academia Campinense de Letras (ACL), Agostinho Toffoli Tavolaro, cujo pai participou da revolução, reclama da situação. “Já vinha deteriorando a memória. Cada vez menos comemorado, mas com a pandemia piorou mais ainda”, afirma.
De acordo com o advogado, seu pai, Danilo Tavolaro, saiu do Espírito Santo do Pinhal para se alistar em São Paulo. “Ele tinha 22 anos e estava noivo da minha mãe. Mas pegou o trem e foi se alistar. Ele combateu até o final. Depois veio morar em Campinas. Faleceu em 1977, com 67 anos”, conta.
Segundo Tavolaro, é importante que se comemore e mantenha viva a memória daquela revolução.
“A comemoração é fundamental. As gerações foram perdendo isso. Antes, a gente cultuava a Revolução Constitucionalista nas escolas. Tocava o hino, a marcha. Acredito que deveriam retomar. Deveria ter comemoração, chamar historiadores para contar para as crianças. Esse pessoal deu a vida para que as coisas ficassem diferentes no Brasil”, avalia.
O que foi a Revolução Constitucionalista de 32?
Em 1930 Getúlio Vargas e os seus tenentes subiram ao poder após a vitória de uma revolução conduzida pela Aliança Liberal, que derrubou a chamada Velha República. Contudo, depois de assumir o poder, Vargas tornou-se um ditador. Revogou a Constituição de 1929, que tinha sido reformada em 1926, e prometeu que viria uma nova para contemplar os anseios do povo.
Mas, ao invés disso, passou a exercer poder ilimitado, removeu os governadores, chamados de Presidentes de Estado à época, e os trocou por tenentes, que eram interventores.
Dois anos após seus desmandos, eclodiu em São Paulo um estado de revolta com toda a situação. São Paulo já era um estado moderno, berço de elites intelectuais e artísticas. O clima ficou insustentável.
Em 23 de maio, os paulistas se manifestaram contra a ditadura na atual Praça da República, na capital do estado, mas foram recebidos à bala. Morreram os estudantes Euclides Bueno Miragaia, de 21 anos, Mario Martins de Almeida, Drausio Marcondes de Souza, de 14 anos e o campineiro Antonio Américo de Camargo Andrade, de 31 anos. De seus nomes nasceu a sigla MMDC.
A revolta se acentuou e em 9 de julho de 1932 começou a revolução, tendo sido ocupados o Quartel General da 2ª Região Militar, o prédio dos Correios e Telégrafos e a Companhia Telefônica.
Neste dia, as tropas assumiram o governo de São Paulo e seguiram para o Rio de Janeiro para depor Getúlio Vargas. As forças paulistas esperavam o apoio de outros Estados, o que não ocorreu. Os cidadãos não só apoiaram a revolução como houve a adesão de muitos para o combate. De Campinas partiram 2.000 soldados, sendo que 26 morreram.
Campinas tinha localização estratégica por conta de seu tronco ferroviário e era um entreposto importante para o abastecimento das tropas. Exatamente por isso, o Município foi bombardeado entre 15 e 29 de setembro. Um desses bombardeios matou o escoteiro Aldo Chioratto, então com 9 anos, num ataque na área central da cidade, próximo à Vila Industrial.
Mesmo que o Estado de São Paulo tenha perdido a luta armada, a Revolução de 32 teve frutos com a instituição de eleições, inclusive com o direito de voto estendido às mulheres, para a Assembleia Constituinte que proclamou a Constituição de 1934.
O Monumento aos Heróis de 32 é uma obra de Marcelino Velez e foi inaugurada em 9 de julho de 1935, com recursos financeiros da iniciativa privada.
O conjunto foi tombado e faz parte do patrimônio histórico de Campinas. Nele, estão os restos mortais de voluntários campineiros que morreram em batalhas da Revolução Constitucionalista de 1932.
Nos últimos anos, com o passar do tempo, esses ex-combatentes foram morrendo, num lento processo de sumiço dessa memória cultural, afetiva e histórica. Esse legado fica hoje para o trabalho e o esforço de seus parentes, memorialistas, historiadores e campineiros que desejam preservar fatos importantes da vida brasileira.