O vice-presidente do Conselho de Segurança e ex-presidente russo, Dmitri Medvedev, ameaçou nesta quinta-feira (14) com o uso de armas nucleares no Báltico se a Suécia e a Finlândia aderirem à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). “Será necessário reforçar o agrupamento de forças terrestres, defesa antiaérea, destacar forças navais significativas nas águas do Golfo da Finlândia. E, então, já não poderemos falar de um Báltico sem armas nucleares. O equilíbrio deve ser restabelecido”, escreveu Medvedev na rede social Telegram.
A Finlândia e a Suécia estão analisando a possível adesão à Otan, na sequência da guerra em curso na Ucrânia, desencadeada pela Rússia em 24 de fevereiro.
As autoridades de Moscou usaram como uma das justificações para invadir a Ucrânia o objetivo de travar o avanço da Otan a Leste, dado que Kiev pretendia aderir à aliança militar ocidental.
A primeira-ministra finlandesa, Sanna Marin, disse na quarta-feira (13), no final de um encontro com a sua homóloga sueca, Magdalena Andersson, em Estocolmo, que a decisão sobre a possível adesão será tomada antes da reunião da Otan em Madrid, marcada para o final de junho.
No seu comentário no Telegram, citado pela agência russa TASS, Medvedev disse que “muito em breve, até ao verão deste ano, o mundo tornar-se-á mais seguro”, porque a Rússia terá de reforçar as suas fronteiras terrestres com os países da Otan. Segundo o também ex-primeiro-ministro russo, as fronteiras russas com a Otan “mais do que duplicarão” se a Finlândia e a Suécia aderirem à organização.
A Finlândia partilha uma fronteira de 1.340 quilômetros de extensão com a Rússia, que tem como vizinhos cinco membros da Otan: Estônia, Letônia, Lituânia, Noruega e Polônia.
Segundo a Otan, os membros da Aliança totalizam atualmente 1.215 quilômetros dos mais de 20.000 quilômetros da fronteira terrestre que a Rússia tem com 14 países. A Rússia tem ainda fronteiras terrestres com Azerbaijão, Bielorrússia, Cazaquistão, China, Coreia do Norte, Geórgia, Mongólia e Ucrânia, e fronteiras marítimas com Suécia, Japão, Turquia e Estados Unidos.
Medvedev disse ainda que a Otan está disposta a aceitar os dois novos membros “no menor tempo possível e com o mínimo de procedimentos burocráticos”. “Isto significa que a Rússia terá mais adversários oficialmente registrados”, notou.
Para a Rússia, segundo Medvedev, é indiferente a Otan ter 30 membros ou 32 – “menos dois, mais dois, dada a sua importância e população, não há grande diferença” –, mas Moscou deve reagir, “sem emoções, com a cabeça fria”.
Medvedev refutou a tese de que a questão da adesão dos dois países à organização não se colocaria se a Rússia não tivesse invadido a Ucrânia. “Isto não é assim. Em primeiro lugar, já foram feitas antes tentativas de os arrastar para a Aliança. Em segundo lugar, e mais importante, não temos disputas territoriais com estes países, como acontece com a Ucrânia. E, portanto, o preço de tal adesão é diferente para nós”, afirmou.
Medvedev disse que a adesão à Otan divide a opinião pública na Finlândia e na Suécia, apesar dos “máximos esforços dos propagandistas nacionais”, e apelou para que finlandeses e suecos tenham consciência do que está em causa. “Ninguém no seu perfeito juízo quer aumentos de preços e impostos, aumento da tensão ao longo das fronteiras, [mísseis] Iskander, hipersônicos e navios com armas nucleares literalmente à distância de um braço da sua própria casa”, escreveu. “Esperemos que a inteligência dos nossos vizinhos do Norte ainda vença”, acrescentou.
(Agência Lusa)