Lembro-me de assistir ao Chapolin e seu famoso bordão “Sigam-me os bons”. Ser seguido pelos bons indivíduos, pelas competentes pessoas, é uma das formas máximas de elogio. E essa frase me levou à seguinte reflexão.
O fenômeno tecnológico ao qual damos o nome de internet propiciou expor várias faces do ser humano. Ao mesmo tempo em que, através das plataformas de conexão – vulgarmente chamadas de “redes sociais” – as pessoas puderam ser “alguém” além do círculo de amigos e parentes mais restritos, elas também revelam toda sua essência, para o bem ou para o mal.
Às vezes até parecem duas personalidades distintas, dois eus: uma “ao vivo”, e outra aquela anunciada nas publicações. Comentários nas fotos e vídeos e elogios, como se todos os seguidores fossem muito próximos. Mas a comunicação da vida real, o aprofundamento da relação, da amizade, isso deixa a desejar, é quase inexistente.
Cada um escolhe como expor sua vida, o que lhe convém mostrar, quais pensamentos revelar. Mas, para mim, me parece muito claro que a exposição em excesso, a necessidade de curtidas muitas vezes é uma forma de tentar suprimir as carências afetivas.
O sociólogo polonês Zygmunt Bauman já demonstrou que as redes têm servido ao propósito de tentarem substituírem as comunidades e instituições enfraquecidas, como a família.
Fato é que antes as fotos que tirávamos eram restritas às pessoas mais próximas, e além de tudo não eram infinitas. Na materialidade de um rolo de fotografia, que era necessário comprar, até a revelação delas (o comum era de 36 “poses”), todo um processo levava algum tempo e tinha suas limitações.
Grande e profunda transformação ocorreu. Hoje o importante não é ter a experiência, mas sim, publicar que esteve lá, que vivenciou aquilo, e para todos, quanto mais gente souber, melhor. Shows, concertos, restaurantes, viagens, postar, publicar, ser visto, ser curtido. Esse é o mote. É espantoso perceber que muitas pessoas têm mais de 3500 publicações. É como se ela tivesse feito um post por dia, por 10 anos!
Multiplicam-se as publicações, mas o que é interessante quase desaparece. Só se veem “eus”, egos, refletindo no espelho da sociedade.
Não me interessa saber os passos que as pessoas dão, as experiências que elas vivem, não estou disposto a acompanhar a vida delas como uma novela. Não somos tão próximos assim. Os indivíduos só podem dar o que têm, e seres assim não têm nada a me oferecer! Obrigado se não postarem!
Agora dê-me licença que preciso publicar que acabei de escrever um texto. Vou fazer uma foto bem interessante e uma legenda irrelevante, afinal quem lê? Os bons não me seguem. Mas também nem os zumbis.
Gustavo Gumiero é sociólogo e escritor – @gustavogumiero – gustavogumiero.com.br