Com uma rica e extensa trajetória esportiva ligada ao vôlei de praia, marcada pela atuação voltada à comunidade local, o treinador campineiro Alexandre Pontel, de 44 anos, iniciou um novo desafio em sua carreira ao assumir neste ano o cargo de head coach, ou técnico principal, da Federação Moçambicana de Voleibol. O principal objetivo é conduzir o país do sudeste africano à primeira participação em Jogos Olímpicos na modalidade em que o Brasil tanto comemorou medalhas em sua história.
A oportunidade de trabalhar à frente do vôlei de Moçambique surgiu graças à dica de um antigo colega das areias. “Lucas Palermo foi um atleta de rendimento que trabalhou comigo e atualmente é head coach da dupla brasileira Duda e Ana Patrícia. Ele ficou sabendo da vaga e indicou a alguns amigos. Eu me interessei e entrei em contato com a Federação Moçambicana. Enviei meu currículo e carta de intenção, e me escolheram”, celebra Alexandre Pontel, também conhecido como Alê Pontel.
“Eu nunca havia viajado para o continente africano e pouco sabia sobre o voleibol em Moçambique, só tinha algumas informações que o presidente da Federação havia me passado sobre o potencial do país e a necessidade de algo a mais para conseguir chegar às Olimpíadas”, conta.
“Minhas expectativas estão elevadas dado o potencial que os atletas moçambicanos apresentam. Nossa principal meta é conseguir a classificação para os Jogos Paris-2024”, destaca Alê Pontel.
Após deixar a sua cidade natal na primeira semana deste ano, o técnico campineiro desembarcou em Moçambique no último dia 8 de janeiro e se sentiu acolhido pelo país africano, que possui muitas semelhanças com o Brasil, do idioma à infraestrutura urbana.
“Minhas primeiras impressões foram bem positivas. Fui bem recebido e as pessoas me tratam com muita educação. A capital Maputo é muito bonita, mas como toda grande cidade sofre com o crescimento desorganizado e possui problemas de transporte e trânsito. Mas pelo que vejo, Moçambique tem muito a crescer nos próximos anos”, comenta Alê Pontel.
Moçambique é um dos cinco países lusófonos da África, ao lado de Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. “Minha adaptação está bem tranquila, o clima é muito parecido com o Brasil, a alimentação é bem similar e a língua portuguesa ajuda muito, portanto o mais difícil até agora é estar longe da família”, aponta.
“O trabalho será realizado em algumas fases, onde a primeira será identificar os atletas de rendimento desde sub-19 até adultos masculino e feminino. Em segundo lugar, vamos programar e iniciar sessões de treinamento visando à participação em eventos no continente africano. O próximo passo será no setor social e iniciação desportiva com treinamento de novos professores que possam trabalhar com voleibol, tentando estabelecer um núcleo em cada província. Também será possível minha participação no vôlei de quadra, mas isso ainda não está definido”, detalha Alexandre Pontel.
“Logo que cheguei em Moçambique, eu tive muito trabalho porque estava acontecendo uma competição internacional de vôlei com 10 países da África Austral, uma das seis zonas esportivas em que o continente é dividido. Foram sete dias no ginásio assistindo aos jogos e avaliando atletas. Depois disso, participei de um reunião com o Comitê Olímpico de Moçambique para traçar estratégias e então comecei a colocar a mão na massa”, reconstitui Alexandre Pontel.
No último fim de semana de janeiro, a Federação Moçambicana de Voleibol promoveu o torneio “Rei e Rainha da Praia”, que coroou os dois principais atletas do país na atualidade: Jorge Monjane, no masculino, e Ana Paula Sinaportar, no feminino. A competição aconteceu nas areias da Praia da Costa do Sol, em Maputo.
“As coisas estão caminhando bem. Na segunda-feira (31), eu tive uma reunião com a Federação e fizemos a convocação oficial. Na quarta (2), houve uma reunião com os atletas, e na quinta (3), começaram oficialmente os treinamentos. O único detalhe é que estava um calor muito forte, com sensação térmica de 42 graus”, revela Alexandre Pontel.
No ano passado, Ana Paula ficou em 5º lugar na fase final de classificação para os Jogos Olímpicos de Tóquio-2020. Jorge Monjane, por sua vez, foi vice-campeão e bateu na trave por uma vaga na Olimpíada. Duplas de Marrocos, no masculino, e Quênia, no feminino, representaram a África nas provas olímpicas de vôlei de praia no Japão.
Desenvolvimento da modalidade olímpica
Desde que o vôlei de praia entrou no programa olímpico, nos Jogos de Atlanta, em 1996, o Brasil nunca havia deixado de subir ao pódio em uma edição como aconteceu nas Olimpíadas de Tóquio, no ano passado. O vôlei de praia brasileiro já conquistou 13 medalhas olímpicas, sendo três de ouro, sete de prata e três de bronze. Em termos de quantidade geral, nenhum outro país aparece à frente no quadro histórico de medalhas, mas os Estados Unidos possuem mais ouros, com sete, no total.
“Por vários anos, Brasil e Estados Unidos dominaram a modalidade, porém hoje já não é mais assim. O que aconteceu em Tóquio pode acontecer novamente em Paris. O vôlei de praia foi bem divulgado ao redor do mundo e outros países amantes desse esporte entraram na onda e o nível global aumentou. O vôlei de praia ficará cada vez mais competitivo”, atesta Alexandre Pontel.
“Assisti ao vôlei de praia nos Jogos Londres-2012 e trabalhei como voluntário nas Olimpíadas Rio-2016. Fui coordenador técnico da Arena Copacabana, sendo responsável por tudo que envolvia a área de jogo, desde estrutura de quadra como nivelamento da areia, altura da rede e equipamento de arbitragem até entrada e saída dos jogadores da quadra e bebidas para os atletas. Ou seja, tudo que envolvia a realização dos jogos”, relembra Pontel.
“Assim como eu, existem outros treinadores brasileiros em vários países como Chile, Itália, Japão e até mesmo nos Estados Unidos. Se analisarmos no masculino, por exemplo, tivemos Brasil, Itália e Holanda no pódio dos Jogos Rio-2016, mas os três primeiros colocados em Tóquio foram Noruega, Rússia e Catar, ou seja, houve troca nas três posições. Acredito que Noruega e Catar estão no topo hoje, mas isso pode mudar até Paris”, analisa.
Trabalho social
O vôlei de praia entrou na vida de Alexandre Pontel em 1993, quando a cidade de Campinas recebeu pela primeira vez uma etapa do Circuito Banco do Brasil de Vôlei de Praia, principal competição nacional da modalidade, realizada anualmente desde 1991. “Eu fui assistir aos jogos e foi paixão à primeira vista. Logo após a etapa, a areia ficou no parque e comecei praticar aos domingos com um grupo de amigos”, conta Pontel.
Seduzido pelo vôlei de praia, o campineiro logo passou de um simples espectador a um vitorioso competidor. “Em 1995, participei da minha primeira etapa do circuito e a partir daí não parei mais. Foram algumas outras etapas pelo Brasil, além de vários torneios no estado de São Paulo e fora dele. Fui campeão de Jogos Regionais por Campinas, terceiro lugar em Jogos Abertos do Interior, entre outros pódios”, orgulha-se.
“Os principais fatores que me levaram a aceitar o convite de Moçambique foram a oportunidade de trabalhar com atletas e disputar uma vaga olímpica. Além disso, como iniciei minha trajetória com trabalho social, senti a oportunidade de ensinar novos professores a multiplicar esse trabalho em um país que tem carência esportiva relacionada ao voleibol”, ressalta Alê Pontel.
No fim dos anos 90, Alexandre Pontel foi o responsável pela criação do Clube do Vôlei de Praia em Campinas, com o objetivo de promover atletas e eventos da modalidade na cidade. “Eu cursei Educação Física e comecei com a ideia do Clube do Vôlei de Praia em 1999. Era uma quadra no Jardim Carlos Lourenço, em um terreno cedido pela Congregação Irmãs da Ressurreição. Iniciei como um trabalho social e logo alguns amigos pediram para que eu fizesse treinos com adultos também. Em pouco tempo, atletas de toda a região vinham treinar comigo”, recorda-se.
“Em 2004, eu fiz o curso técnico de vôlei de praia nível 2 da CBV. Em 2007, realizei o primeiro circuito de vôlei de praia de Campinas no Taquaral, com quatro etapas. Com o apoio do FIEC, realizei o segundo circuito em 2008, com quatro etapas livres e uma sub-21. Conduzi atletas no circuito nacional e também fui o treinador responsável pelas categorias de base sub-19 e sub-21 do estado de São Paulo no campeonato brasileiro de seleções de base”, relata Pontel.
“Em 2008, o Clube de Vôlei de Praia foi documentado como associação desportiva e, de 2009 a 2013, inscrevi o projeto na Prefeitura de Campinas para receber apoio e desenvolver alto rendimento. Recentemente, o projeto continha apenas adolescentes iniciantes e atletas amadores”, finaliza.