“Só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio. Julgar se a vida vale ou não a pena ser vivida, isso é responder à pergunta fundamental da filosofia.” Com essa frase do filósofo Albert Camus iniciamos nossa reflexão de hoje, fique comigo até o final.
O suicídio é também conhecido como uma ‘morte voluntária’, onde o sujeito que consuma tal ato opta por colocar um ‘ponto final’, mas onde de fato tal sujeito objetiva colocar tal ponto? O que tem em mente cessar, interromper, acabar? Seriam dores, sofrimentos, estresse, bullying, falta de perspectivas futuras…?
Segundo o filósofo alemão Heidegger: “Não somos capazes de superar a possibilidade da morte. A morte desvela-se como a possibilidade mais própria, irremissível e insuperável”. Se é que mais cedo ou mais tarde estamos fadados a ir em direção a morte, como expôs Heidegger, o por que decidir pela morte agora, pelas próprias mãos?
Aristóteles grande nome da filosofia ateniense expõe que “A lei não ordena uma pessoa a matar-se a si própria; e aquilo que a lei não ordena, proíbe-o. Assim, quem num acesso de paixão se mata voluntariamente, age desse modo contra o sentido orientador; a razão”. Ainda segundo o próprio Aristóteles se somos seres dotados de razão, então como pensar que alguém delibere racionalmente a tirar a própria vida? Ou será que quem o faz estaria tomado por emoções tais como: medo, desespero, angústia, solidão, tristeza…?
Segundo o filósofo romano Sêneca em sua obra chamada Cartas a Lucílio: “O motivo que antecede o ato suicida não está na forma como agimos, mas sim nas razões que nos levam a agir assim”. Será que temos mesmo real razão para escolher pôr um fim em nossa jornada existencial? Será que se nos abríssemos e conversássemos sobre o que nos aflige; o que nos machuca, o que nos preocupa não conseguiríamos dividir tal fardo deixando-o mais leve e possível de ser carregado?
“O suicida quer a vida; porém está insatisfeito com as condições sob as quais vive. Quando destrói o fenômeno individual, ele de maneira alguma renuncia à Vontade de vida”, frase célebre dita pelo filósofo Schopenhauer que me fez lembrar uma de Augusto Cury: “- Quando uma pessoa pensa em suicídio, ela quer matar a dor, mas nunca a vida”.
A “beleza ou a dor” de existir são respostas que cada um de nós tem de dar a si mesmo. O suicídio é uma decisão solitária, por vezes encarada como corajosa. Aqui volto ao filósofo Camus: “Um gesto desses (o suicídio) se prepara no silêncio do coração…”, Camus reforça que se compreendemos que vivemos num mundo em que ilusões e certezas deixam de fazer sentido, acabamos nos sentindo angustiados e como “estrangeiros”.
Em face do “absurdo” que constitui esse divórcio entre o homem e sua vida é que se instaura nosso maior desafio: escolher por seguir vivendo.
Por mais “absurdo” que possa parecer estar vivo em meio a coisas, pessoas, valores que não respondem ou atendem às nossas demandas, ainda assim vale a pena o esforço em continuar vivendo.
Shneidman (psicólogo clínico americano) enfatiza que a fim de se prevenir o suicídio não é necessário estudar a estrutura do cérebro, tampouco amparar-se nas estatísticas sociais ou nas doenças mentais. O foco são as emoções humanas. E como diria Camus novamente: “O verme (do suicídio) se encontra no coração do ser humano”.
O propósito central do suicida é buscar uma solução para esse desconforto aparentemente incontornável: necessidades psicológicas frustradas, uma solução solitária e desesperada para aquele que sofre e que parece não vislumbrar alternativas. E se isto nos permitir aliviar, em alguma medida, a dor de um semelhante, proponho que tentemos nos aproximar dele com as duas perguntas fundamentais a que Shneidman nos convida: onde dói? Como posso ajudar?
Termino expondo uma celebre frase de São João Maria Vianney que enfrenta os religiosos que condenam o suicida como sendo um pecador e que este irá arder no fogo, segundo o santo: “Entre a eternidade e o último suspiro paira um abismo de misericórdia”.
Em Setembro o mês é dedicado a Prevenção do Suicídio, o objetivo é conscientizar as pessoas ao redor do mundo que o suicídio pode ser evitado.
No Brasil o suicídio ocorre em média a cada 45 minutos. No mundo a cada 40 segundos.
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Thiago Pontes é filósofo e neurolinguista (PNL) – Instagram @institutopontes_oficial